Jornalista com 25 anos de experiência em cobertura cultural. No Estado de Minas, repórter de Cultura. Graduada em Jornalismo pela Puc-Minas e pós-graduada em Produção e Projetos Culturais pelo IEC-Puc Minas.
Documentário "Com Hasan em Gaza", dirigido pelo palestino Kamal Aljafar, abre o festival nesta quinta-feira, no Cine Humberto Mauro crédito: Forumdoc.BH/divulgação
Vai longe a época em que os organizadores do Forumdoc.BH tinham de conseguir filmes quase na base do laço, diante da parca produção documental no Brasil. Na 29.ª edição do Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema, que começa amanhã (20/11), o funil de uma das mostras, a “Contemporânea brasileira”, foi muito apertado, com 22 filmes selecionados entre 433 inscritos.
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Esta é só uma parte do evento, que será realizado até dia 30 deste mês no Cine Humberto Mauro e no Cine Santa Tereza. A programação tem 74 produções em 48 sessões, divididas em quatro mostras. O festival conta ainda com sessões especiais e seminários.
A abertura, nesta quinta (20/11), às 19h, no Cine Humberto Mauro, será com o longa “Com Hasan em Gaza”, do cineasta palestino Kamal Aljafar, radicado em Berlim. O documentário nasceu da descoberta de três fitas de vídeo que registraram a vida em Gaza em 2001. Realizado ao lado do guia local Hasan Elboubou, o filme mostra, em viagem bastante pessoal, a busca do diretor por um antigo companheiro de prisão.
“Como é um filme com muitas imagens de arquivo, não trata da guerra, mostra Gaza numa Palestina com vida normal, depois totalmente destruída diante dos ataques”, comenta Júnia Torres, idealizadora do Forumdoc. A sessão será apresentada pela jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh.
Festival mineiro mais longevo de cinema, sem interrupção desde 1997, o Forumdoc abriu muitas portas para o documentário. “(No início) Havia produção que, além de ser menor, era pouquíssimo diversificada. Documentário (na época) era mais caracterizado como filme de reportagem, tinha estigma de filme chato. Ele está muito mais diverso em termos formais, de linguagem, mas sobretudo em termos dos grupos que produzem. Isso tudo veio a partir das mídias digitais e também das políticas públicas”, acrescenta Júnia.
Um dos vieses históricos do Forumdoc é a produção indígena, exibida desde a primeira edição. “Hoje é um cinema dentro do cenário brasileiro incontornável. Muitos festivais começaram a perceber (a produção indígena) que o Forumdoc já vinha trabalhando por conta da nossa relação com a antropologia.”
Cine Takaja Awá Guajá
Nesta edição, Júnia destaca a mostra-seminário “Cine Takaja Awa Guajá: modos de inventar o passado-futuro”, com 16 filmes do povo que habita a Amazônia paraense.
“Virão cinco representantes dos Awa Guajá, alguns são professores indígenas que lançam mão do recurso audiovisual. A etnia é de recente contato, tem uma parte deles que vive na floresta e se recusa a ter contato”, continua ela.
O encontro vai destacar o emblemático “Serras da desordem” (2006), de Andrea Tonacci (1944-2016). A obra trata do massacre dos Awá Guajá na década de 1970 por meio de um sobrevivente.
Companheira de Tonacci e montadora deste e de outros longas, Cristina Amaral virá ao festival para apresentar imagens inéditas do início dos anos 2000. “Será um debate interessante, pois terá também a presença dos Awá Guajá”, diz Júnia Torres.
Outro convidado é João Moreira Salles. O documentarista vai apresentar seu filme mais recente, “Minha terra estrangeira”, produção realizada com o Coletivo Lakapoy, formado por integrantes do povo Paiter Suruí, de Rondônia, e pela artista visual Louise Botkay.
Rodado em 2022, o longa acompanha, por meio de pai e filha indígenas, os 40 dias que antecederam as eleições que garantiram o terceiro mandato ao presidente Lula.
Em “Serras da desordem”, o diretor Andrea Tonacci denunciou o massacre de indígenas Awa Guajá Forumdoc.BH/divulgação
Música brasileira
A programação do Cine Santa Tereza terá início no sábado (22/11), com a primeira exibição, em BH, do longa “As dores do mundo: Hyldon”, de Emilio Domingues e Felipe David Rodrigues. O filme acompanha a trajetória do cantor, compositor e guitarrista carioca, nome seminal da soul music.
Domingues vai comentar o longa – o diretor vem documentando a música negra brasileira, por meio de longas como “A batalha do passinho” e “Black Rio! Black power!”.
O Forumdoc vai encerrar sua 29ª edição em clima de música. No dia 30, no Humberto Mauro, o festival termina com duas produções antigas restauradas recentemente. “Hermeto campeão” (1981), de Thomas Farkas, mostra Hermeto Pascoal, morto há dois meses, falando sobre sua criação musical; o curta “Nossa escola de samba” (1965), de Manuel Horácio Gimenez, acompanha a Unidos de Vila Isabel durante um ano.
Artista visual do povo indígena Pankararu, em Pernambuco, Aislan Pankararu assina a arte do catálogo do Forumdoc. O projeto gráfico foi realizado por Marcos Chagas. Gratuito, o catálogo estará disponível no evento. Além da programação, traz entrevista com a documentarista Tetê Moraes, que terá retrospectiva no festival.
29º FORUMDOC.BH
Festival do Filme Documentário e Etnográfico. Desta quinta-feira (20/11) a 30/11, no Cine Humberto Mauro (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). No Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89), a programação vai de sábado (22/11) a 30/11. Entrada franca, com retirada de ingressos na plataforma Sympla ou nas respectivas bilheterias, meia hora antes de cada sessão. Programação completa em forumdoc.org.br