Graduanda em jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No jornal Estado de Minas, atuou como estagiária no caderno de cultura entre 2023 e 2024, quando assumiu o cargo de repórter no mesmo caderno.
Jogadores da Seleção Brasileira concentrados no Grande Hotel de Araxá, durante preparação para a Copa do Mundo de 1950
Completados os 80 anos da inauguração, o Grande Hotel Termas de Araxá ganha uma biografia. A obra destrincha altos e baixos do empreendimento erguido no Triângulo Mineiro em 1944 durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Concebido como símbolo de progresso nacional, a criação do hotel ajudou a reforçar a imagem de um país em desenvolvimento.
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Um dos grandes patrimônios mineiros, o local abriga águas com propriedades terapêuticas e medicinais, extensos jardins planejados por Burle Marx e uma arquitetura imponente projetada por Luiz Signorelli com engenharia de Lincoln Continentino. O complexo ocupa 400 mil metros quadrados com 33 mil de área construída e permanece referência em hotelaria desde a inauguração.
Publicado pelo Duo Cultural, formado por Mariana Peixoto e Helvécio Carlos – respectivamente repórter e colunista do Estado de Minas – o livro começou a ser preparado em 2022.
Em novembro daquele ano, os autores integraram o primeiro grupo de jornalistas a retornar ao Grande Hotel após uma série de reformas realizadas durante a pandemia. Voltaram de lá com o desejo de produzir o livro. “Vimos ali muita história para contar”, afirma o colunista.
“Sobre o tempo” reúne momentos importantes dispersos ou esquecidos ao longo da trajetória do complexo. A partir da segunda metade do século 18, fazendeiros passaram a levar rebanhos para beber as águas do Barreiro, área formada por antiga cratera de origem vulcânica responsável pelas fontes minerais da região.
Primeiros turistas
No fim do século 19, os primeiros turistas começaram a aparecer na região. Os visitantes permaneciam lá por 21 dias para realizar tratamentos nas fontes. Pesquisas em torno das águas impulsionaram o crescimento de Araxá, reconhecida como cidade em 1985.
A construção do Grande Hotel enfrentou obstáculos, já que o terreno lamacento fazia estacas se moverem durante as obras. “Foi construído por vontade política. Arquitetonicamente, é um prédio único no Brasil”, afirma Mariana. O hotel foi inaugurado também para funcionar como grande cassino, porém, dois anos depois, cassino e jogos de azar foram extintos no país.
Além da efeméride dos 80 anos do hotel, o lançamento coincide com um momento de alta no turismo mineiro. Dados do IBGE de 2024 apontam Minas Gerais como o segundo destino de viagem mais procurado no país.
Uma das passagens mais curiosas do livro retrocede a 1947, quando cientistas soviéticos estiveram no Barreiro durante a observação de um eclipse solar. “A expedição soviética foi frustradíssima, porque no dia do tal eclipse estava nublado”, conta Mariana.
Esse movimento foi refletido na Lista Edge 2025 da Forbes Travel Guide, que destacou os 20 hotéis, resorts e cruzeiros mais inovadores do mundo. Divulgação/Padma Resort Ubud
A seleção se apoiou em acesso privilegiado a destinos isolados, experiências marcantes, compromisso com a sustentabilidade e eficiência na hospitalidade. Confira o ranking! Reprodução de Instagram
20º) Cloud Camp, Estados Unidos: Localizado a 2.800 metros na Floresta Nacional de Pike, o hotel só é acessado a cavalo, caminhadas de três horas ou veículos 4x4. À noite, os hóspedes podem observar o céu hiperestrelado ao redor da fogueira. Reprodução do Instagram @cshuemake
19º) Wickaninnish Inn, Canadá: Esse hotel, que fica rodeado pela floresta e pelo Oceano Pacífico, se torna ponto de observação da chamada "temporada das tempestades" de novembro a fevereiro, na qual os hóspedes podem ver ondas de até 7 metros! Reprodução do Instagram @wickinnbc
18º) Ponant Le Commandant Charcot, Polo Norte e Antártida: As experiências a bordo desse navio quebra-gelo incluem passeios de caiaque entre icebergs e de aventuras com trenós puxados por cães. - U.S. Coast Guard photograph by Cmdr. Krystyn Pecora/Wikimédia Commons
17º) Silver Origin, Galápagos, Equador: O navio foi projetado especialmente para o arquipélago equatoriano e oferece suítes espaçosas, serviço de mordomo e práticas sustentáveis, como ausência de plástico e navegação sem âncoras para preservar o fundo do mar. Divulgação
16º) Four Seasons Explorer, Palau: Os hóspedes desse megaiate de luxo contam com um centro de mergulho cinco estrelas, no qual é possível observar recifes de corais e mais de 1.400 espécies de peixes. Reprodução do Instagram @fsexplorerpalau
15º) Argos in Cappadocia, Turquia: Este hotel foi construído em um antigo mosteiro escavado na rocha vulcânica e conta com piscinas privativas nos quartos, além de spas dentro de cavernas. Reprodução do Instagram @argosincappadocia
14º) Hotel das Cataratas, Brasil: Localizado dentro do Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, o hotel oferece acesso privilegiado às cataratas fora do horário de visitação pública. Reprodução do Instagram @belmondhoteldascataratas
13º) Turneffe Island Resort, Belize: Além de permitir a pesca esportiva em uma das regiões mais ricas em biodiversidade do Caribe, o resort proporciona mergulhos entre cavernas e formações de estalactites. Reprodução do Instagram @turnefferesort
12º) Fogo Island Inn, Canadá: Os visitantes podem participar de atividades como passeios de barco, colheita de frutas nativas e aulas práticas de sobrevivência neste hotel erguido sobre pilares fixados em pedras de granito. Reprodução do Instagram @fogoislandinn
11º) Tambo del Inka, Peru: Este resort, localizado no Vale Sagrado dos Incas, em Cusco, oferece estação de trem exclusiva para Machu Picchu e apresentações exclusivas de música andina durante as refeições. Reprodução do Instagram @hoteltambodelinka
10º) Mandapa, Ritz-Carlton Reserve, Indonésia: O hotel valoriza experiências relaxantes como oficinas de arranjos florais tradicionais, cerimônias de purificação e preparação de oferendas típicas locais. Reprodução do Instagram @mandapareserve
9º) Southern Ocean Lodge, Austrália: Esse lodge fica na Kangaroo Island, onde é possível observar coalas, cangurus e leões-marinhos. As suítes têm vistas espetaculares para o Oceano Antártico. Reprodução do Instagram @southernoceanlodge
8º) Phulay Bay, Ritz-Carlton Reserve, Tailândia: Quem gosta de ioga ao nascer do sol e mergulhos em um mar azul-turquesa vai ficar fascinado com este hotel cercado por falésias de calcário. Reprodução do Instagram @phulaybayreserve
7º) The Brando, na Polinésia Francesa: O nome não é a toa: a ilha privada já pertenceu ao ator Marlon Brando. Hoje, funciona como refúgio ecológico com 35 vilas, onde os hóspedes podem até observar baleias. Reprodução do Instagram @thebrandoresort
6º) Nujuma, Ritz-Carlton Reserve, Arábia Saudita: Os hóspedes podem mergulhar em recifes de corais preservados ao lado de tartarugas, golfinhos e arraias. Os quartos em formato de concha são vilas flutuantes sobre o Mar Vermelho. Reprodução do Instagram @nujumareserve
5º) Giraffe Manor, Nairóbi, Quênia: Instalado em uma mansão de 1930, é um dos hotéis mais fotografados do mundo e serve como santuário das girafas Rothschild, que circulam livremente pelo local e costumam interagir com os hóspedes. Reprodução de Instagram @thegiraffemanor
4º) Elephant Hills, Tailândia: Os hóspedes podem escolher entre se hospedar em tendas na floresta ou em bangalôs flutuantes. A interação com os animais é feita de forma ética, ou seja, nada de montaria. Reprodução do Instagram @elephanthills_thailand
3º) OneeOnly Gorilla’s Nest, Ruanda: Este hotel de luxo, com apenas 21 unidades de hospedagem, é a base para expedições de gorilas nas montanhas. O pacote inclui a lavagem das roupas sujas de lama após as caminhadas. Reprodução de Instagram
2º) Solio Lodge, Quênia: Entre o Monte Quênia e o Parque Nacional Aberdare, o lodge é famoso por seus safáris de rinocerontes. O local ainda oferece aventuras em meio à vida selvagem africana, como passeios de helicóptero, bicicleta ou cavalo. Divulgação
1º) NIHI Sumba, Indonésia: Os visitantes dessa ilha remota de Sumba podem admirar – e galopar – os cavalos selvagens que andam livremente pela praia, praticar ioga à beira d’água e participar de mergulhos terapêuticos em atividades de equoterapia. Reprodução do Instagram @nihi
Durante a Copa do Mundo de 1950, a Seleção Brasileira utilizou o hotel como local de preparação. Araxá também serviu como base dos treinamentos de 1958, quando o jovem Pelé já integrava a Seleção, aos 17 anos. Os jogadores não podiam fumar nem consumir álcool durante as estadas no hotel. Em 1969, foi a vez de o hotel servir de cenário para filmagens do longa “Balada dos infiéis”, de Geraldo Santos Pereira, um dos primeiros produzidos no estado.
Interdição
Em seu cinquentenário, o hotel acabou sendo interditado pelo poder público. O déficit do empreendimento e os problemas estruturais levaram ao seu fechamento, em 1994. Até então, o espaço pertencia ao governo de Minas Gerais. Houve falhas de administração, um incêndio e até dois dias de desabastecimento total de água. A reabertura só ocorreu em 2001, já sob gestão privada. O Grupo Tauá assumiu a administração em 2010, posição que mantém até hoje.
Para o livro, os autores retornaram ao hotel e entrevistaram ex-funcionários e antigos hóspedes. Alguns mencionam o mito de Dona Beja, figura originária do período colonial lembrada pela fama de beleza associada à lama e às águas do Barreiro. O nome dela batiza a fonte de água radioativa mais procurada da região.
Fantasmas também integram a mitologia do hotel, como a “mulher de branco”, que teria tirado a própria vida depois de uma grande perda financeira do marido no antigo cassino.
Após a reformulação, o Grande Hotel se reinventou para acolher uma nova geração de visitantes, seguindo tendências do mercado atual de turismo. A reforma, com custo estimado de R$ 10 milhões, incluiu retrofit, modernização da hospedagem e reformulação da oferta gastronômica.
“SOBRE O TEMPO” • Livro de Helvécio Carlos e Mariana Peixoto • 154 páginas • R$ 50 • Lançamento neste sábado (29/11) às 11h, no Grande Hotel Araxá. Além dos autores, participam a professora Celina Borges, da Escola de Arquitetura da UFMG, o ceramista Máximo Soalheiro e o escritor e jornalista araxaense Luiz Humberto França.