Um estudo do instituto de pesquisa Ipsos, encomendado pelo Deezer, mostrou que quase todos os entrevistados não souberam diferenciar músicas geradas por inteligência artificial daquelas criadas por humanos.

Os participantes ouviram três faixas e foi pedido que indicassem se as músicas eram ou não totalmente geradas por robôs - e 97% erraram.

A pesquisa alcançou cerca de 9.000 pessoas em oito países - Brasil, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Holanda, Alemanha e Japão.

Dos que erraram, 71% ficaram surpresos com o resultado, e 52% se sentiram desconfortáveis por não conseguir diferenciar.

Ainda de acordo com a pesquisa, 40% dos entrevistados disseram que pulariam a música totalmente gerada por inteligência artificial se a encontrassem. Já 80% concordam que a música 100% criada com IA deve ser identificada de forma clara pelas plataformas.

Entre os brasileiros, 52% dizem aprovar músicas geradas por IA estarem nas principais paradas musicais, junto com as músicas feitas por humanos. Porém, desse número, 34% gostariam que as músicas estivessem identificadas com rótulo de feito por IA.

Além disso, 52% dos entrevistados pela pesquisa dizem concordar que músicas geradas por robôs não devem ser incluídas nas paradas musicais com as músicas criadas por humanos.

"Hoje, recebemos cerca de 150 mil novas faixas por dia, e aproximadamente 34% delas já são geradas por IA", afirma Rodrigo Vicentini, gerente geral da Deezer na América Latina, em nota. "Por isso, fomos a primeira plataforma do mundo a desenvolver uma tecnologia própria para detectar e rotular músicas criadas por inteligência artificial."

Uma das grandes preocupações do setor cultural com relação à IA tem a ver com o uso de material protegido por direito autoral nos processos de aprendizagem de modelos de linguagem. Dos entrevistados pela pesquisa, 65% dizem que não deveria ser permitido usar material protegido por direitos autorais para treinar modelos de IA usados para criar música.

O USO DE IA NA MÚSICA E NA CULTURA

No Brasil, músicas criadas ou modificadas por IA fizeram muito sucesso recentemente. Nos últimos meses, viralizaram faixas de funk, pop e rap atuais recriadas com IA em estilo retrô. A gravadora Blow Records, projeto do publicitário paulista Raul Vinicius, transformou "Estilo Cachorro", dos Racionais MCs, em um soul da década de 1970, "Bang", de Anitta, em um R&B estilo Aretha Franklin, e "Predador de Perereca", do MC Jhey, em um hit da disco music de 1982.

Este ano, uma "banda" misteriosa chamou a atenção dos fãs de música. O Velvet Sundown, que chegou a ter mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify -a maioria em São Paulo-, faz um rock clássico no estilo anos 1970, algo entre o Creedence Clearwater Revival e o Grateful Dead. Mas apesar de as imagens do grupo serem perceptivelmente feitas por IA generativa, ninguém sabia dizer com certeza se a música também era gerada por robôs.

A diversidade e a abundância da produção cultural brasileira fazem do país um pote de ouro para as ferramentas de treinamento da IA generativa. Reportagem da Folha mostrou que pelo menos três empresas de americanas usaram livros de autores brasileiros para treinar seus sistemas sem pedir autorização ou pagar por isso, apelando a cópias piratas que circulam na internet. Pesquisadores da área chamam isso de extrativismo de dados.

Por outro lado, o Brasil está longe de ser líder na produção tecnológica de IA. Apesar de sermos líderes na América Latina, a comparação com Estados Unidos, Europa e China é desproporcional.

Países e organizações internacionais têm feito uma corrida pela delimitação das quatro linhas, com o desafio de proteger, sem prejudicar o desenvolvimento da indústria, quem pode ser ameaçado pelo avanço da IA generativa -na cultura, não são poucos.

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Apesar de a discussão ser recente, já é possível identificar algumas vertentes. Há quem defenda que os dados só poderiam ser utilizados mediante autorização prévia dos detentores dos direitos autorais da obra. Há quem visualize um modelo de remuneração coletiva. Muitos concordam com um sistema em que o detentor dos direitos teria de avisar caso não queira permitir o uso de seus dados pela ferramentas de IA, o que é chamado de "cláusula de opt-out".

Há ainda quem avalie que o uso para treinamento de ferramentas de IA não fere os direitos autorais da obra, ou que esse tipo de uso poderia ser enquadrado no conceito de "fair use", que abre exceções para uso de material protegido, como acontece em sátiras ou quando a parcela do material usada é considerada ínfima.

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