Adolpho Veloso, o outro brasileiro cotado para o Oscar 2026
Paulista, de 37 anos, é diretor de fotografia do filme 'Sonhos de trem', filma com M. Night Shyamalan e disputa o Spirit Awards
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Em 2015, Adolpho Veloso filmava o longa experimental em preto e branco nas ruas de São Paulo que estreou no festival alternativo americano Slamdance. Dez anos depois, o diretor de fotografia paulista entrega “Sonhos de trem”, seu segundo filme nos Estados Unidos com o cineasta Clint Bentley, e desponta como um dos favoritos a uma vaga no Oscar 2026 de Melhor Fotografia.
Na quarta-feira (3/12), Veloso foi indicado ao Spirit Awards, premiação da cena independente dos EUA, na categoria Melhor Cinematografia. Também está nesta lista o longa brasileiro 'O agente secreto', de Kleber Mendonça Filho, protagonizado por Wagner Moura, ambos cotados para o Oscar.
Veloso faz também seu primeiro trabalho em blockbuster hollywoodiano ao lado do diretor M. Night Shyamalan: o filme “Remain”, previsto para 2026.
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O paulista, de 37 anos, decidiu trabalhar com cinema aos 12, quando viu “Laranja mecânica”, de Stanley Kubrick. Ele se formou em cinema na Faap, em São Paulo. “Achava que seria diretor, mas na faculdade comecei a ver que havia outras possibilidades. No primeiro ano, já percebi que queria ficar atrás da câmera e criar com a luz e a fotografia”, conta.
Ele estreou em longa com “Asco”, selecionado pelo festival alternativo Sundance. Em 2017, trabalhou com Heitor Dhalia em “Yoga: arquitetura da paz”, documentário que chamou a atenção do diretor Clint Bentley.
Veloso passou a filmar na Argentina e na Europa. Em 2020, chegava aos Estados Unidos para rodar “Jockey”, drama de pequeno orçamento de Bentley sobre um jóquei veterano, papel de Clifton Collins Jr.
Drama sobre a natureza
A dupla com Bentley se repete em “Sonhos de trem”, que está no catálogo da Netflix, teve distribuição grandiosa e astros do quilate de Joel Edgerton e Felicity Jones.
A missão era adaptar o conto de Denis Johnson sobre o lenhador do início do século 19 que vê a dinâmica da região alterada com a chegada de uma ferrovia.
Nas mãos de Bentley, virou um belo e delicado drama sobre natureza, os perigos do capitalismo extremo e a resiliência humana. Filmado inteiramente com luz natural, câmera na mão e locações, “Sonhos de trem” exigiu comprometimento de diretor, fotógrafo e elenco, bem longe das regalias hollywoodianas.
“Não teria feito esse filme sem Adolpho”, diz Bentley, que já foi indicado ao Oscar com Greg Kwedar pelo roteiro de “Sing Sing”. A dupla também assina o novo longa.
O estilo do brasileiro em “Sonhos de trem” chamou a atenção de M. Night Shyamalan. Veloso agora fotografa o grandioso “Remain”, novo trabalho do cineasta.
“Foi um salto. Trabalhar com um diretor com tantos filmes é outra coisa. Ele já tem um sistema e muita gente acostumada a trabalhar assim. Quando você chega com novas ideias, leva um tempo para as duas coisas se unirem”, comenta.
A experiência, segundo Veloso, foi incrível. “Night é aberto e amoroso”, diz ele, que comandou duas câmeras VistaVision, formato quase extinto que usa película 35mm na horizontal para gerar imagem mais larga e com maior definição.
“Foi minha primeira vez. Não sei se repetiria, porque elas dão muito pau. Só existem seis no mundo. Rodamos com duas. Certo dia, quebraram simultaneamente e pausamos as filmagens por duas horas para esperar consertarem”, conta.
Adolpho Veloso leva a engenhosidade brasileira para Hollywood. Clint Bentley confirma, ao revelar a única palavra que aprendeu em português: gambiarra. (Rodrigo Salem/Folhapress)
“SONHOS DE TREM”
EUA, 2025, 102min. De Clint Bentley. Com Joel Edgerton, Felicity Jones e Kerry Condon. Disponível na Netflix.