A chef confeiteira Débora Vieira, fundadora da confeitaria vegana Chocolate Lab, localizada no Bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte, foi a grande vencedora da primeira edição da competição nacional de pâtisserie plant based promovida pelo Instituto Le Cordon Bleu Brasil. O torneio, inédito, desafiou chefs de todo o país a criar sobremesas sofisticadas à base de plantas, explorando ingredientes locais em receitas técnicas e criativas.

A final aconteceu no último sábado (14/6), na sede do instituto, em São Paulo. Ao conquistar o pódio com duas criações autorais - ambas sem glúten e veganas - a chef mineira celebra o reconhecimento de uma década de trabalho e pesquisa no campo da confeitaria inclusiva, exatamente no mês em que sua marca completa 10 anos de existência.

Como prêmio, Débora recebeu uma bolsa integral para cursar o novo Diplôme Plant Based de Pâtisserie & Boulangerie no instituto, uma das formações mais avançadas do mundo na área.

Sabores de Minas, técnicas da França

Ao longo dos três meses de competição, os participantes enfrentaram desafios técnicos que incluíam restrições de ingredientes e exigência de alto nível de acabamento. Na primeira etapa, realizada virtualmente, Débora apresentou o Entremet Anarriê, sobremesa elaborada com goiaba, fubá e mandioca, três ingredientes profundamente enraizados na culinária mineira.

Entremet Anarriê, sobremesa elaborada com goiaba, fubá e mandioca

Reprodução/Débora Vieira

Com base em técnicas clássicas da pâtisserie francesa - como pâte sucrée, ganache, mousse, enrobage e gel de fruta, a criação combinou sabor, textura e identidade regional, destacando-se entre dezenas de concorrentes e garantindo à chef uma vaga na final com outros nove finalistas.

Na etapa presencial, os desafios se intensificaram: os competidores deveriam criar, na cozinha do Le Cordon Bleu, uma nova sobremesa 100% vegetal, obrigatoriamente contendo uma fruta brasileira, chocolate e farinha sem glúten. Ela apostou em sabores e texturas cuidadosamente harmonizados em uma tartelette rústica com tuile de castanha de pequi, mousse de chocolate branco, ganache monté de maracujás doce e azedo, e praliné de castanha de pequi. A combinação elegante conquistou o paladar dos jurados.

"Nós tínhamos tempo para produzir, então eu escolhi uma sobremesa de execução relativamente simples. Eu consegui executá-la no prazo, mas fiquei assustada ao ver que alguns participantes haviam explorado sabores muito mais complexos. Mas no fim, tudo deu certo: talvez por ter conseguido otimizar o meu tempo, eu tenha conquistado essa oportunidade", confessou. 

Tartelette Rústica com tuile de castanha de pequi com mascavo, mousse de chocolate branco, ganache monté de maracujás doce e azedo, praliné de castanha de pequi e gel de maracujá doce

Reprodução/Débora Vieira

Uma trajetória de pioneirismo

A conquista é também uma resposta simbólica à sua trajetória, que iniciou a carreira por necessidade, sem formação tradicional na área. Em 2015, ao ficar desempregada e buscar uma atividade que permitisse conciliar a vida profissional com os cuidados da filha pequena, passou a produzir ovos de Páscoa em casa.

A demanda por produtos sem ingredientes de origem animal cresceu rapidamente e, aos poucos, deixou a confeitaria tradicional de lado para se dedicar exclusivamente ao universo vegano e sem glúten.

"Na época, havia pouquíssimos produtos disponíveis no mercado. Para utilizar um chocolate branco vegano em uma receita, por exemplo, eu conseguia encontrar apenas duas opções nas lojas. Atualmente, a variedade de itens como esse é incontável. Foi um período de muita tentativa e erro, e grande parte do meu aprendizado foi autodidata", relembra.

Em 2018, ela inaugurou o primeiro espaço físico da Chocolate Lab em BH, que desde então se tornou referência nacional em confeitaria inclusiva. Atualmente, seus maiores desafios são administrativos, relacionados à gestão de equipe, finanças e expansão - e não mais técnicos. Mas o amor pela criação e pelo sabor segue sendo o que move a marca.

Apesar dos avanços, reconhece que a confeitaria vegana ainda enfrenta preconceito e resistência no meio gastronômico tradicional. "Muitos profissionais ainda tratam esse tipo de trabalho com desdém, sem sequer conhecer ou provar. Mas isso está mudando. Hoje vemos restaurantes estrelados incorporando técnicas e ingredientes plant based nos seus cardápios". 

Para ela, o caminho da confeitaria inclusiva é irreversível, não apenas por atender a públicos com restrições alimentares, mas porque inova ao propor novos sabores, texturas e experiências.

Visibilidade além do eixo Rio-SP

A ganhadora conta que soube da competição por meio do Instagram - e também por mensagens de clientes que a indicaram para participar. Mesmo no auge da produção de Páscoa, decidiu encarar o desafio, com a certeza de que sua proposta tinha identidade e qualidade.

"Minha confeitaria é uma das principais do Brasil dentro do eixo vegano, mas sinto que, por estar fora do eixo Rio-São Paulo, minha visibilidade às vezes é minimizada. Participar dessa competição foi também uma forma de mostrar o que estamos fazendo aqui em Belo Horizonte", afirma.

O uso de ingredientes regionais, especialmente mineiros, não é casual: trata-se de uma escolha estética, afetiva e política. "Quando estamos muito imersos em uma cultura, esquecemos o quanto ela é especial. Poder levar esses sabores para um espaço de prestígio como o Le Cordon Bleu é uma forma de celebrar e valorizar o que temos de melhor". 

A chef mineira celebra o reconhecimento de uma década de trabalho e pesquisa no campo da confeitaria inclusiva

Reprodução/Débora Vieira

Com a vitória, Débora se prepara para viver um novo capítulo: o Diplôme Plant Based de Pâtisserie & Boulangerie, que deverá cursar em São Paulo. "Nunca fiz faculdade de Gastronomia, apenas cursos livres e pesquisas independentes. Essa formação representa um reconhecimento profissional muito importante".

Enquanto ajusta a logística entre São Paulo e Belo Horizonte - onde vive com a filha e administra a confeitaria - a chef já começa a planejar os próximos passos da Chocolate Lab. A vontade de expandir a marca para outras cidades, especialmente São Paulo, está sendo construída.

 

Sabores premiados já têm data para chegar ao público

Para quem ficou com água na boca, a boa notícia é que as sobremesas vencedoras da competição estarão disponíveis ao público ainda nas próximas semanas. A partir do dia 24 de junho, entra no cardápio da loja o Entremet Anarriê, com goiaba, fubá e mandioca - uma celebração dos sabores juninos em versão sofisticada. Já a tartelette de pequi e maracujá terá sua estreia em julho.

A Chocolate Lab está localizada no bairro Floresta, em Belo Horizonte, e oferece sobremesas veganas de alta confeitaria, atendendo também a pessoas com restrições alimentares, como intolerância ao glúten ou alergia a leite.

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Sobre o Le Cordon Bleu

Le Cordon Bleu é a principal rede global de institutos de artes culinárias e gestão de hospitalidade, com uma herança de 130 anos. A rede mantém presença mundial com 35 escolas em mais de 20 países. As técnicas culinárias tradicionais francesas permanecem no coração da escola, mas seus programas acadêmicos são constantemente adaptados para incluir novas tecnologias e as inovações para atender às necessidades crescentes da indústria. Presente no Brasil desde 2018, possui unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde oferece programas de alta qualidade, como o Grand Diplôme, o Diploma de Cozinha Brasileira, o Diplôme de Wine & Spirits, Diplôme de Plant Based, entre outros.

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