É HORA DE COLHER FRUTOS

MG: festival impulsiona negócios em cidade perto da Serra do Cipó

Depois do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, o Festival Fartura é o momento mais aguardado em Conceição do Mato Dentro

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Conceição do Mato Dentro – Depois de alimentar a fé, eles querem satisfazer o estômago com comida boa. Passado o Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, tradicional festa religiosa que atrai romeiros de vários cantos de Minas Gerais, o Festival Fartura é o momento mais aguardado em Conceição do Mato Dentro, cidade a 160 quilômetros de Belo Horizonte, na Região Central do estado. Quem trabalha na área aproveita a oportunidade para divulgar o trabalho e ampliar o negócio.


O Festival Fartura entrou para o calendário da cidade há sete anos. Começou com uma edição pequena, em 2018, dentro do Mercado Municipal. Em 2020, cresceu e passou a ocupar o Largo do Rosário, onde permanece até hoje. Só não foi realizado em 2021 por causa da pandemia.

Gostinho especial


A edição em Conceição tem um gostinho especial para o diretor de produção do Fartura, Guilherme Sânzio. Ele nasceu em BH, mas toda a sua família é da cidade, onde foi criado. Numa visita ao pai, o produtor se deu conta de que a mineração estava tomando conta da cidade e que as tradições estavam se perdendo. Precisava fazer alguma coisa. Guilherme chegou a produzir, por conta própria, um festival de viola no mesmo lugar onde o Fartura se instalaria.

Em três dias de festa, quase 10 mil pessoas passaram pelo Largo do Rosário para comer, beber e assistir aos shows de música
Em três dias de festa, quase 10 mil pessoas passaram pelo Largo do Rosário para comer, beber e assistir aos shows de música Victor Schwaner/Divulgação

“Acho que consegui colocar, literalmente, na praça aquela missão que me dei há 10 anos. E eu vejo o desenvolvimento da cadeia produtiva da gastronomia. Conceição tem um potencial muito forte, a gente sempre comeu muito bem aqui. Agora esses atores gastronômicos, que sempre foram muito estabelecidos, estão ganhando uma visibilidade grande”, destacou.

Segundo Guilherme, o público é cada vez mais diverso. Os moradores da cidade, que tem cerca de 25 mil habitantes, já incorporaram o evento ao calendário. Fora isso, tem a população flutuante, que está lá para trabalhar na mineração e tradicionalmente vai embora no fim de semana, mas agora tem um motivo para ficar. Sem falar nos turistas. Em três dias (de sexta a domingo), quase 10 mil pessoas passaram pelo largo, sendo que a estimativa é de que 40% das pessoas eram de fora.

 


“O turista vem até a estátua do Juquinha e não termina de chegar. Então, um dos nossos papéis é mostrar para as pessoas que bastam mais 30km para chegar a Conceição, comer bem em um restaurante e pegar uma cachoeira. Com essa experiência completa, é grande a chance de voltar fora do evento, que é o que nós queremos”, apontou o diretor de produção do Fartura, reforçando o atrativo das belezas naturais.


Toda essa movimentação na cidade acaba sendo um incentivo para quem trabalha com comida. “O evento oferece para eles o local de mostrar os produtos, interagir com outros chefs e, principalmente, sentir orgulho do que faz. A gente vai embora, mas eles continuam fazendo. E, quando a gente volta, eles estão mais avançados. Isso é muito bonito de ver. É como riscar o pavio.”


Guilherme dá o exemplo da cachaça Bento Velho, que era muito famosa, mas a família já estava desistindo de produzir. “Alguém veio ao evento, gostou, comprou a empresa e está refazendo o alambique. E a cachaça está voltando com força total.”

Encontros com chefs


“Além de fomentar a economia da cidade, hoje, em Conceição, o Fartura é um dos eventos mais esperados depois do Jubileu”, confirmou Cristiano Seabra, da Sr. Pork, feliz de participar desde o início do festival que “abraçou” a sua cidade. “É lógico que tem o lado financeiro, mas participar é muito prazeroso. Aqui tenho a possibilidade de encontrar e trocar ideias com chefs que vêm de fora.”

A partir do ano que vem, Cristiano Seabra quer deixar a construção civil para se dedicar totalmente à gastronomia
A partir do ano que vem, Cristiano Seabra quer deixar a construção civil para se dedicar totalmente à gastronomia Victor Schwaner/Divulgação


Cristiano trabalha na construção civil, mas assumiu o negócio do pai, que vendeu carne de porco por 50 anos no Mercado Municipal, quando ele se aposentou. Com o tempo, montou uma fábrica para produzir a linguiça e os defumados. Em agosto, deve abrir a primeira loja na cidade e, a partir do ano que vem, pensa em se dedicar totalmente à gastronomia.


A linguiça é o produto mais icônico da Sr. Pork, então não podia faltar no Largo do Rosário. Estava no recheio dos pastéis, que também tinha queijo da Dona Iaiá, produzido em Conceição, e no pão com requeijão de raspa e salada. A novidade era o churrasco grego, mistura de carnes de porco e boi. “O meu é um pouco diferente porque a carne é semi defumada. Ela dá aquela primeira tostada na máquina do churrasco grego, depois é finalizado na chapa”, explicou.


De um ano para cá, Cristiano começou a criar porcos da raça duroc. O plano dele é, em três anos, trabalhar com 100% de carnes próprias – hoje 60% da matéria-prima chega de outros produtores. “Assim que eu tiver a minha produção, quero começar a fazer carnes de lata, linguiça, costela. Tudo na banha”, adiantou. O chef também tem uma produção de orgânicos “na roça”.

Patrimônio da cidade


Vânia de Queiroz, da Di Angu, é uma das cozinheiras que preserva a tradição do pastel de angu – em 2019, o modo de fazer a iguaria se tornou patrimônio imaterial do município. Ela participa do festival desde a primeira edição e reconhece que isso faz toda a diferença para o seu negócio e para a cidade.

As opções de recheio dos pastéis da Di Angu eram carne, frango com ora-pro-nóbis, queijo com cenoura, queijo com alho-poró, bacalhau e abobrinha com abacaxi
As opções de recheio dos pastéis da Di Angu eram carne, frango com ora-pro-nóbis, queijo com cenoura, queijo com alho-poró, bacalhau e abobrinha com abacaxi Victor Schwaner/Divulgação


“Nós não sabemos mais viver sem o Fartura. A gente fica esperando o dia em que ele vai começar”, comentou a conceicionense, que acrescentou: “O Fartura só trouxe fartura. Trouxe mais público e hoje somos mais vistos, estamos mais em evidência. As pessoas nos conhecem e têm interesse de vir aqui, em outras datas, inclusive.”


A história de Vânia com o pastel de angu começou em 2008. “Peguei a receita em um livro, mas não batia. Aí resolvi fazer a minha própria massa. Fui testando, testando, até chegar numa massa perfeita, do jeito que queria”, relembrou a cozinheira, que desenvolveu uma massa bem fina e crocante, feita com o “maior capricho”, como ela fez questão de dizer.


As fritadeiras trabalharam bastante durante o fim de semana de festival. Para que as pessoas pudessem experimentar vários sabores, Vânia oferecia uma porção com seis unidades, que podiam ser variadas. As opções de recheio eram carne, frango com ora-pro-nóbis, queijo com cenoura, queijo com alho-poró, bacalhau e abobrinha com abacaxi. Para adoçar o paladar, banana com queijo e canela e queijo com goiabada.


Fora do festival, os pastéis da Di Angu são vendidos congelados na casa da Vânia e prontos para comer em um trailer que roda a cidade. “Represento com muito orgulho esse patrimônio imaterial e dele tiro o meu sustento”, apontou a cozinheira, que realizou o sonho de manter a casa e os filhos com o seu trabalho. O filho dela, Samarony, produz em Belo Horizonte e, por enquanto, fornece apenas para restaurantes.

Público para tudo


Esta foi a terceira participação da Pizzaria Monte Castelo no festival. Segundo João Paulo Guerra de Queiroz, é uma forma de divulgar o negócio para mais pessoas.

"Com esse evento, a gente descobriu que tem público para tudo, e o público é muito maior do que a gente imaginava. Isso é muito interessante, porque liga o alerta de que dá para criar mais sabores e aumentar o cardápio”, comemorou o dono, que atendeu muitos turistas na praça.

Na vitrine da Pizzaria Monte Castelo, os sabores eram mais tradicionais, aqueles que agradam todo mundo
Na vitrine da Pizzaria Monte Castelo, os sabores eram mais tradicionais, aqueles que agradam todo mundo Victor Schwaner/Divulgação


Na vitrine, os sabores eram mais tradicionais, aqueles que agradam todo mundo. Entre eles, frango com catupiri, calabresa, quatro queijos, pepperoni e a vegetariana, com molho de tomate, muçarela, palmito, champignon, azeitona e orégano.


Mas quem for à Monte Castelo vai encontrar combinações diferentes, incluindo a de filé com fritas, carne de sol desfiada com banana frita e a que leva o nome da pizzaria, uma mistura de frango, bacon, calabresa, catupiri, cebola, azeitona, orégano e batata frita (o elemento inusitado pode ser adicionado por cima de vários sabores). "As pessoas gostam de fartura", apontou João Paulo, brincando com o nome do festival.


Apesar de ser uma pizzaria, o negócio é muito conhecido pelas panquecas, que também marcaram presença na praça. Dentro da massa enrolada, havia recheios como queijo com presunto, palmito e carne com catupiri.

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Fique ligado


Conceição do Mato Dentro abriu a temporada de festivais do Fartura no interior de Minas Gerais. Nos dias 2 e 3 de agosto, será o Festival Fartura Dona Lucinha no Serro e, de 22 a 31 do mesmo mês, o Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes.

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