Minas no atual momento do Brasil
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Em entrevista exclusiva ao D&J Minas, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, abre o jogo e fala, com muita desenvoltura, sobre sua candidatura à Presidência da República, a sucessão em Minas e temas importantes como segurança pública, Rodoanel, acordo de Mariana e agronegócio, num verdadeiro balanço de seu governo até aqui. Com ampla aprovação em Minas, o governador Zema é um dos nomes fortes que o grupo de governadores que formam o Cosud – Consórcio de integração Sul Sudeste tem para a sucessão presidencial de 2026.
Neste mês de outubro completa um ano da assinatura do acordo com a Vale. O que já foi feito e o que se pretende fazer até o fim de seu governo com o valor, até então, arrecadado pelo Estado com tal acordo?
O Acordo de Mariana é um marco histórico para Minas Gerais, ao garantir R$ 37 bilhões em recursos para reparação socioeconômica e ambiental dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, ocorrida em 2015. Diferentemente da situação de Brumadinho, na qual rapidamente tomamos as providências e realizamos um dos maiores acordos de reparação da história, em Mariana o processo foi pautado por uma série de erros da Fundação Renova e de má vontade e descaso do governo anterior, que prejudicaram a Bacia do Rio Doce. Mas, no meu governo, nós fizemos questão de dar celeridade a esse processo e, depois de muito trabalho e pressão, selamos um acordo que já começou a dar resultados.
Desde a celebração do Acordo de Mariana, em 25 de outubro de 2024, avançamos na criação de instrumentos de transparência e controle social e na execução dos primeiros projetos prioritários, em especial nas áreas de infraestrutura, saúde, educação, saneamento, segurança hídrica e desenvolvimento regional.
Mais de R$ 6 bilhões já foram efetivamente empregados em programas e obras, com destaque para investimentos diretos nos municípios atingidos e nas regiões mais afetadas, além de intervenções que beneficiam toda a população mineira, como início das contratações para a aguardada duplicação da BR-356; a criação do Fundo de Enchentes; e a conclusão e divulgação do detalhamento do Propesca, programa destinado a recuperar e fortalecer a pesca e a aquicultura em toda a bacia do Rio Doce, do rio até a região costeira.
Até o fim do meu governo, a prioridade será garantir que os recursos sejam executados com total transparência e agilidade, obedecendo ao planejamento pactuado com o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Justiça e os entes municipais, assegurando que a reparação cumpra sua função: reconstruir territórios, restabelecer direitos e promover o desenvolvimento sustentável nas áreas atingidas.
Uma das maiores preocupações atuais é a expansão do crime organizado pelo Brasil, já com forte entrada no Nordeste do país. A polícia mineira ainda é referência no país, mas tem sido feito algo, em especial, para combater o crime organizado no estado?
Combater o crime organizado é prioridade do meu governo. Nos últimos anos, implantamos políticas e estruturas de inteligência integrada, fortalecemos o intercâmbio entre órgãos, melhorando o trabalho conjunto entre as Polícias Militar e Civil, a Polícia Penal, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública e o Judiciário. Além disso, criamos unidades especializadas, como o Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gerco), unidade responsável por ações importantes, como a prisão e a captura de integrantes de facções que tinham fugido de unidades prisionais.
Também ampliamos o uso de tecnologia, a partir da inauguração do Centro Integrado de Inteligência Cibernética (Ciberint) e da modernização dos equipamentos de segurança, com o uso frequente de drones para monitorar e neutralizar a ação de criminosos. Junto a isso, investimos em ações de isolamento e controle de lideranças encarceradas. Essas ações são parte de uma estratégia contínua para asfixiar redes criminosas e impedir a atuação delas em Minas Gerais.
Em recente evento, o vice-governador Mateus Simões foi muito aplaudido ao dizer que, em Minas Gerais, a polícia mineira se “precisar matar vai matar, mas a bandidagem não tomará conta do estado”. E informou que 3 mil novos soldados estão sendo treinados neste momento. Quais foram os principais investimentos em segurança pública, no estado, desde o início de seu primeiro mandato?
Desde o início da gestão, temos feito um trabalho rigoroso de fortalecimento das forças de segurança, com foco na inteligência, modernização e integração entre as corporações, para combater de forma eficiente o crime organizado e garantir mais segurança aos mineiros. E mais importante: tratamos bandido como bandido.
Nos últimos seis anos, investimos mais de R$ 2,7 bilhões em modernização, estrutura, pessoal e tecnologia. Foram adquiridos mais de 9 mil novos veículos, armamentos modernos, equipamentos de proteção individual, além de sistemas de radiocomunicação digital e câmeras corporais que ampliam a transparência e eficiência das operações.
Também realizamos concursos e nomeações para reforçar o efetivo, com destaque para 3 mil novos soldados em formação em 2025, além de delegados, investigadores e agentes penitenciários, fortalecendo a presença ostensiva das polícias nas ruas.
Devido a essa política consistente, Minas segue como um dos estados mais seguros do Brasil, com redução de mais de 40% nos índices de crimes violentos desde 2019 e queda histórica de homicídios e roubos. Nosso compromisso é continuar investindo, com gestão eficiente e foco em resultados, para garantir que o crime organizado nunca avance sobre o território mineiro.
Pela primeira vez, o café foi o principal produto de exportação do estado, superando a mineração. Ao mesmo tempo, o agronegócio tem reclamado da política que vem sendo praticada pelo governo federal em relação ao setor, que congelou 42% do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) em 2025, um dos principais pilares da política agrícola nacional. O que tem sido feito no estado para tentar minimizar os impactos causados por essa política e, ainda, pelo tarifaço e pela alta dos insumos agrícolas decorrentes da diferença cambial?
Minas tem uma posição muito estratégica no agronegócio, setor que responde por um quarto do nosso PIB, com um destaque importantíssimo para a produção de café. Para se ter ideia da força da cultura cafeeira em Minas, no ano passado, quando o agro superou pela primeira vez na história a mineração no volume de exportações, a quantidade de café exportada, cerca de 31 milhões de sacas, foi maior do que a própria produção do ano, que chegou à marca de 28 milhões de sacas. A explicação para esse acontecimento raro? Para atender a alta demanda do mercado, incluindo novos mercados, como a Ásia, os produtores mineiros precisaram recorrer a estoques de outras safras.
Nesse sentido, o bloqueio de parte dos recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) pelo governo federal foi um choque para os produtores brasileiros. Estamos falando de um contingenciamento relevante do orçamento de 2025, que pegou todo mundo de surpresa. Diante dessa situação grave e inesperada, e também de outros contextos, como o tarifaço ao qual o Brasil foi submetido por parte do governo norte-americano, após irresponsabilidades e falta de diplomacia por parte do nosso governo federal, nós temos buscado minimizar esses impactos por meio de diversas ações.
Entre elas, a liberação de R$ 100 milhões em créditos de ICMS para as empresas afetadas pelas novas tarifas. Também lançamos uma linha de crédito especial pelo BDMG, com R$ 200 milhões disponíveis para os empresários mineiros, a partir de juros reduzidos, pagamento em 60 meses e carência de um ano para começar a pagar. Seguiremos defendendo políticas públicas que garantam previsibilidade e proteção ao produtor, além de medidas para reduzir custos de produção e ampliar acesso a linhas de financiamento adequadas.
O Rodoanel em Belo Horizonte só está dependendo de uma licença do Incra para início das obras. Acha possível que sejam iniciadas ainda em 2025? Quais os benefícios se pretende alcançar para a Grande BH com esse projeto?
O Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte é um dos projetos de infraestrutura mais estratégicos da história de Minas Gerais e trará benefícios diretos e duradouros para milhões de mineiros. Com a obra pronta, vamos reduzir em até 50 minutos o tempo de viagem entre cidades da Região Metropolitana, além de retirar cerca de 5 mil caminhões por dia do tráfego urbano da capital e aumentar a segurança viária, com estimativa de mil acidentes evitados por ano.
Além de melhorar a mobilidade urbana e o escoamento da produção, o Rodoanel permitirá reduzir a poluição e o desgaste das vias urbanas, devolvendo ao atual Anel Rodoviário sua vocação original de corredor de mobilidade ágil, eficiente e seguro.
São R$ 3,07 bilhões investidos, a partir de recursos do Acordo de Brumadinho. O projeto segue avançando, dentro de todas as exigências socioambientais e do diálogo com os atores envolvidos, desde as famílias que vão precisar ser indenizadas até as prefeituras.
A licença prévia para a obra foi concedida em fevereiro deste ano. Agora, a empresa responsável está realizando os estudos necessários para definir áreas de desapropriação, a partir de um trabalho de diálogo e escuta das comunidades e famílias impactadas. Estamos dentro dos prazos contratuais, que prevê o início da obra neste ano e a conclusão até 2028.
O Sr. alega que pegou o Estado quebrado quando assumiu. Qual a situação financeira do Estado hoje e em que situação deixará para seu sucessor?
Quando assumi o governo, em 2019, Minas Gerais estava completamente quebrada. O Estado atrasava e parcelava o salário de todos os servidores, que não tinham sequer um dia certo para receber. Além disso, herdamos uma dívida de mais de R$ 15 bilhões com os municípios, referentes a repasses de ICMS, IPVA, Fundeb e recursos da saúde, valores que eram de direito das prefeituras, mas que simplesmente foram confiscados pelo governo passado. Ao longo da nossa gestão, praticamente todo esse montante foi quitado. Nós resgatamos a confiança dos municípios e reestabelecemos a responsabilidade fiscal e o respeito aos mineiros.
Mesmo diante de uma situação financeira calamitosa, conseguimos recuperar a credibilidade de Minas. Simplificamos processos, desburocratizamos o Estado e atraímos investimentos como nunca antes. Desde 2019, são mais de R$ 500 bilhões em investimentos privados atraídos e 1 milhão de empregos formais criados. Hoje, Minas é reconhecida nacional e internacionalmente como um estado confiável para investir e empreender.
Estamos também realizando algumas das maiores obras da história recente de Minas Gerais, como a ampliação e modernização do metrô e a retomada das obras de cinco hospitais regionais.
Para consolidar essa virada de página, estamos avançando com o Propag, programa que vai permitir a recuperação definitiva das finanças do Estado, a partir de uma proposta que permitirá que Minas quite a dívida com a União, dentro de um planejamento responsável. E vale lembrar que essa é uma dívida que foi contraída há muitos anos, por governos que não tiveram a responsabilidade de pensar no futuro dos mineiros. Mas estamos mudando esse cenário para garantir um estado mais próspero para todos.
O Sr. se afastará mesmo do governo para concorrer em 2026? Quando deverá se afastar? Muito tem se falado que o Governador Tarcísio de Freitas não concorrerá e, ao mesmo tempo, existe um consenso entre os governadores do Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste, atualmente presidido pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro). Existe, realmente, um acordo de todos os governadores do Cosud apoiarem um nome que sairá do Sul/Sudeste? O Sr. se sente preparado para disputar a Presidência da República? Por quê?
Em alinhamento com o Partido Novo, fizemos o lançamento da minha pré-candidatura à presidência em agosto deste ano, em São Paulo. Estou totalmente preparado para encarar esse desafio. O Brasil precisa urgente de uma gestão que priorize o desenvolvimento sustentável e acabe de vez com privilégios no setor público. Eu quero priorizar os brasileiros, e não um seleto grupo de “amigos do rei”, como acontece hoje em dia no governo do Brasil. Já mostrei aqui em Minas que é possível pegar um estado arrasado pelo PT e reerguê-lo, e esse é um dos meus diferenciais. Entre os governadores de direita, especialmente os que compõem o Cosud, posso afirmar com tranquilidade que vamos ter uma grande rede de apoio entorno do nome que chegar ao segundo turno em 2026.
Quais os principais problemas atuais do país que lhe fizeram decidir a colocar seu nome para a disputa presidencial?
Decidi colocar meu nome à disposição dos brasileiros porque acredito que o nosso país precisa, mais do que nunca, de uma gestão de verdade, com coragem, que leve o país a prosperar. O Brasil enfrenta hoje problemas que se arrastam há décadas: uma insegurança de sair na rua, com índices de violência surreais; um Estado pesado, ineficiente e caro, que gasta muito e entrega pouco. Uma máquina pública inchada, burocrática, que dificulta a vida de quem quer empreender e gerar empregos. E uma política que, muitas vezes, prioriza interesses eleitorais e ideológicos, e não a população. Em Minas, mostramos que é possível fazer diferente. E podemos fazer essa diferença no Brasil.