A Sra. se graduou em direito pela PUC/MG em 1989 e já em 1992 ingressou, por concurso, no Ministério Público. Sempre teve vontade de ingressar na carreira? O que levou a tal escolha ainda tão jovem? Algo na sua infância contribuiu para tal decisão?


Eu nasci em Itabira, onde vivi até os meus doze anos de idade. Naquela ocasião, minha mãe, professora da rede estadual, havia sido cedida para o TRE, e trabalhava dentro do Fórum, onde funcionava o cartório eleitoral. Eu cresci naquele ambiente forense. Mas, foi na PUC, cursando Direito, que tudo despertou em mim. Foi ali, nos bancos da faculdade, que eu conheci meu marido e, foi ali mesmo, que despertei a vontade de ser promotora de justiça. A contribuição decisiva foi o forte incentivo de meu marido, que inclusive criou, todo o tempo, condições favoráveis para minha preparação. O meu desejo era tão certo que eu me esforcei e estudei muito para obter a tão sonhada aprovação. Muitos disseram: foi sorte! Mas eu sei: foi permissão de Deus.


Há mais de 20 anos é professora em cursos preparatórios para concursos. Até que ponto a vocação influencia para quem deseja ingressar na carreira do MP? "Carregar pedras" é importante?


Quando, diante da movimentação na carreira, eu cheguei a Belo Horizonte, isso foi nos idos de 1998, eu me ofereci para dar aulas em cursinhos preparatórios. Sim. Eu não fui convidada. Eu me ofereci mesmo...(risos). A oportunidade me foi dada e eu até então nunca havia parado. Foram muitos e muitos anos lecionando em cursos preparatórios. Para diversos concursos para inúmeras carreiras e eu até então nunca havia parado. Foram muitos e muitos anos lecionando em cursos preparatórios para diversos concursos, para inúmeras carreiras jurídicas, para exame da OAB, razão pela qual hoje tenho o orgulho de dizer que coleciono vários ex-alunos que são juízes, promotores de justiça, defensores públicos, procuradores do estado, do município e federais. E o interessante e, talvez até, eu diria, desafiante é que, quando você leciona em cursos preparatórios para muito além do conteúdo a ser ministrado, você precisa saber ouvir, apoiar, incentivar seus alunos. Mostrar a eles que sem o esforço da busca será impossível obter a alegria da aprovação. Muitos não conseguem superar o estresse, pois as cobranças são muitas. E eu sempre falei que estudar para concurso público é como carregar uma mochila de pedras, porque a luta é grande e a carga pesada. A vantagem de tanto esforço se dá quando percebemos que todas as pedras que carregamos ao longo do caminho se transformam em pepitas de ouro. Porque a vida é assim, quanto mais pesados são os nossos fardos e os nossos esforços, maior será a alegria do encontro. Quanto mais pedras carregamos ao longo do nosso percurso, mais pepitas de ouro garimparemos.


A Sra. atuou na defesa dos direitos difusos e coletivos. Quais os principais desafios enfrentou? Todos conhecem que é muito devota. Como a fé lhe auxilia na superação dos desafios?


Quando em 2015 fui promovida ao cargo de Procuradora de Justiça, eu fui desde logo designada para atuar na Procuradoria de Justiça especializada na Defesa de Direitos Difusos e Coletivos. As áreas de atuação ali são imensas: meio ambiente, patrimônio público, saúde, consumidor, infância e juventude, habitação e urbanismo. A matéria, para além de extensa, tem uma relevância inenarrável. Foi realmente uma grande oportunidade. Talvez, a maior de todas que tive, de atuar na defesa de direitos fundamentais e indisponíveis. Na minha fé inabalável, eu sempre vi ali uma oportunidade que me veio como um presente dos Céus. Eu não consigo esconder o meu entusiasmo na atuação quando me lembro que estou tendo a oportunidade de zelar por tudo aquilo que temos de mais valioso. Tutelar os interesses dos grandes grupos de vulneráveis, quer no âmbito da saúde, da educação, da acessibilidade ou até mesmo nas relações de consumo.


A Sra. assumiu a Procuradoria-Geral Adjunta Jurídica, a convite do recém-empossado procurador geral Paulo de Tarso Morais Filho. Quais são seus principais planos à frente dessa missão e como pretende ajudar o PGJ em seus projetos neste mandato?


Numa terça-feira de dezembro do ano passado, eu havia acabado de sair da Procuradoria de Justiça, quando o doutor Paulo de Tarso me ligou perguntando se eu poderia me encontrar com ele. Confesso que, de imediato, pressenti o que poderia ser. Liguei para meu marido e ele me disse: "lembre-se de que tudo que vem de Deus traz paz". Eu recebi o convite e aceitei de imediato. Nem pedi tempo para pensar, porque foi notória a demonstração do então recém nomeado para o honroso cargo de PGJ de administrar em prole, exclusivamente em prol, da nossa instituição. Naquele momento, me deu uma vontade louca de participar, de coadjuvar, de fazer a diferença. Desafio proposto. Desafio aceito. Mesmo sabendo das complexidades do cargo, minha inquietação e busca constante pelos desafios não me permitiu desistir. Na verdade, acho que Deus me colocou ali, naquele cargo, para um propósito dEle. Um propósito que deve ser buscado dia a dia, que ainda estou descobrindo. Mas, hoje, me planejo a envidar esforços com o intuito de fortalecer o trabalho das Procuradorias, fomentar a integração entre promotores e procuradores, para atuarem de forma conjunta e articulada de acordo com nossas atribuições constitucionais e essenciais à justiça.

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