A taxação de 50% de todos os produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos pode ter um impacto negativo no Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de R$ 175 bilhões, no prazo de 5 a 10 anos, caso a crise aberta pelo governo de Donald Trump no comércio bilateral com o país não seja resolvida. O valor foi apresentado por um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) na segunda-feira (21/7), estimando ainda uma queda de R$ 21,5 bilhões na economia mineira.

Esse é o principal cenário dos efeitos macroeconômicos do tarifaço imposto pelo presidente Trump em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) pela suposta trama golpista, e em relação às operações das big techs em território nacional - motivos divulgados em carta publicada pelo republicano em 9 de julho.

No cenário estudado pela Gerência de Economia e Finanças Empresariais da Fiemg não haveria retaliação do Brasil com base na Lei de Reciprocidade Econômica. Segundo a entidade, “a medida prevê a aplicação da alíquota máxima, sem distinção entre setores ou produtos, impactando de forma generalizada as exportações do Brasil para o mercado norte-americano”.

No caso, o impacto na economia nacional seria de uma retração de 1,49% com a perda de 1,3 milhão de vagas de emprego agregado (a soma entre formal e informal), o que resultaria em uma queda de R$ 24 bilhões na massa salarial. Em Minas Gerais, o impacto seria uma retração de 2,0% do PIB, resultando na perda de 187.061 postos de trabalho e queda de R$ 3,16 bilhões na massa salarial.

Minas é o terceiro estado que mais vendeu para os Estados Unidos no ano passado, movimentando cerca de US$ 4,6 bilhões na pauta exportadora do país, 11,4% do total nacional, de acordo com dados do painel do Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (Comex Stat). O número representa 2,3% do PIB do estado no ano passado.

Somente o café exportado para os Estados Unidos representou 33% do comércio entre os produtores mineiros e os empresários norte-americanos, totalizando o valor de US$ 1,5 bilhão. O segundo setor mais relevante é a siderurgia com destaque para a exportação de ferro fundido, ferro e aço, que correspondem a 29% das exportações do estado para os EUA - US$ 1,35 bilhão.

O impacto setorial no estado se concentra na siderurgia/ferro-gusa, com queda de 11,9%, equipamentos de transporte (-8%) e produtos de minerais não metálicos (-4,8%). O restante do impacto é diluído entre os setores de serviços e construção, como atividades imobiliárias, educação privada, serviços domésticos e saúde. “Desse modo, o impacto setorial começa nos elos exportadores e, com o tempo, contagia setores voltados ao consumo e aos serviços”, ressalta a entidade.

Ainda de acordo com o painel, o Brasil exportou US$ 40 bilhões para os Estados Unidos (1,8% do PIB), consolidando os norte-americanos como o segundo maior parceiro comercial do país com 12% da pauta exportadora, atrás apenas da China (28%). As exportações foram concentradas em três grupos de produtos: combustíveis minerais (US$ 7,7 bilhões), ferro e aço (US$ 5,7 bilhões) e máquinas e aparelhos mecânicos (US$ 3,6 bilhões). “Estes dados refletem a relevância do Brasil como fornecedor de recursos energéticos e insumos industriais estratégicos”, disse a Fiemg.

No Brasil, as atividades mais impactadas pelo tarifaço no longo prazo seriam a fabricação de equipamentos de transporte, com queda de 21,6% do PIB setorial, seguida pela produção de siderúrgica (-11,7%) e produtos de maneira (-8,1%).

E se o Brasil retaliar os EUA?

O estudo da Fiemg ainda simulou três cenários hipotéticos em que o Brasil decide retaliar os Estados Unidos. O objetivo é estimar as potenciais consequências de um ciclo de retaliações sobre os setores da economia brasileira.

No primeiro cenário, a taxação de 50% é equiparada com uma taxa de 50% do governo brasileiro. Nesse caso, o PIB de Minas Gerais teria uma queda de R$ 30,2 bilhões (2,9%) com a perda de 263 mil postos de trabalho formais e informais, comprometendo em até R$ 4,4 bilhões o rendimento das famílias. No Brasil, o impacto no PIB é uma retração de R$ 259,6 bilhões (2,2%) com a perda de 1,9 milhão de postos de trabalho.

No segundo cenário estudado, os EUA decidem responder à retaliação e aumentam a taxa para 100%. Minas Gerais perderia 3,19% do PIB e teria uma redução de até 294 mil empregos. No Brasil o impacto seria de 2,49% do PIB e a perda de 2,2 milhões de empregos.

O cenário mais grave é a dupla retaliação, quando as tarifas chegam em 100% nos dois países. Segundo a Fiemg, essa simulação busca captar a redução de investimentos externos em decorrência da adoção de medidas severas, como a imposição de tarifas mais elevadas pelos EUA e a eventual quebra de patentes pelo Brasil. O PIB mineiro sofreria um impacto de 6% (R$ 63,8 bilhões). No Brasil, a guerra tarifária causaria uma queda de 5,7% do PIB (R$ 667,1 bilhões).

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“Diante desse cenário, a expectativa é de que Brasil e Estados Unidos avancem em um acordo diplomático que evite a aplicação da tarifa de 50% com início previsto para o dia 1º de agosto, bem como impeça eventuais retaliações e o agravamento das tensões comerciais entre os dois países. Para a Fiemg, a via diplomática se apresenta como o caminho mais adequado e eficaz para resolver a questão e preservar a relação comercial estratégica entre as nações”, afirma a Fiemg.

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