Os Estados Unidos já começaram a prorrogar os embarques do café exportado pelo Brasil. A informação é do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), que divulgou nesta terça-feira (12/8) seu relatório estatístico mensal referente a julho.

De acordo com Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, até julho não foi observado qualquer impacto do tarifaço de 50% do governo dos Estados Unidos imposto para a importação dos cafés do Brasil, já que a vigência da medida começou em 6 de agosto.

“A partir de agora, as indústrias americanas estão em compasso de espera, pois possuem estoque por 30 a 60 dias, o que gera algum fôlego para aguardarem um pouco mais as negociações em andamento. Porém, o que já visualizamos são eventuais pedidos de prorrogação, que são extremamente prejudiciais ao setor", comentou Ferreira.

Esse adiamento prejudica o exportador brasileiro de café em vários pontos. O primeiro é o não recebimento do Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), um financiamento prévio ao embarque que permite que as empresas obtenham recursos antecipados. Com isso, o vendedor passa a sofrer mais com juros, taxas e custos adicionais.

Outra perda dos exportadores de café com o adiamento dos embarques está na estrutura do mercado internacional, que há algum tempo apresenta o chamado “mercado invertido”, quando os contratos mais distantes têm valor menor em relação aos mais próximos.

“O vencimento dezembro de 2026 na Bolsa de Nova York, por exemplo, está com deságio de 9% a 10% frente ao de dezembro de 2025. Já esse de dezembro de 2025 possui depreciação de cerca de US$ 10 por saca ante o setembro de 2025. Ou seja, a prorrogação de um embarque de agosto, tendo como referência o de setembro de 2025, para os próximos meses, que terão como base o de dezembro de 2025, geraria uma perda adicional de US$ 10 por saca, além do impacto dos juros do ACC e dos custos adicionais com carregamento, armazenagem e logística. Portanto, prorrogar embarques, além de atrasar divisas e compromissos, tem esse impacto negativo acumulado e acentuado", explicou o presidente do Cecafé.

China é a alternativa?

Sobre o possível redirecionamento da exportação do café brasileiro que iria para os Estados Unidos para o mercado chinês, o Cecafé se mostra cauteloso. Ferreira esclareceu que, das 183 empresas brasileiras exportadoras de café credenciadas pela China, muitas já atuavam no mercado chinês e que isso não necessariamente implica aumento dos embarques cafeeiros ao país asiático.

"Observamos atentamente o potencial de crescimento do consumo chinês, mercado que importou 571.866 sacas de janeiro a julho e ocupa a 11ª posição no ranking dos principais parceiros dos cafés do Brasil em 2025. Esse credenciamento por cinco anos, como divulgado nas mídias, é positivo do ponto de vista de desburocratização, mas, por si só, não representa nenhum aumento de exportações à China, o que esperamos que siga ocorrendo de forma natural, a ser alcançado ao longo dos próximos anos e décadas, dado o aumento de interesse por parte do consumidor, como experimentamos em outros países da Ásia”, disse o presidente do Cacafé.

Setor quer entrar na lista de isenção do tarifaço

Para driblar essa crise, a estratégia do Cecafé continua sendo - junto ao governo brasileiro, aos pares do setor privado norte-americano e a outros canais pertinentes nos Estados Unidos - buscar o entendimento para que os cafés do Brasil entrem na lista de isenção do tarifaço, uma vez que o produto não é cultivado em escala no país parceiro e, ainda, por desempenhar papel fundamental na economia dos EUA, na satisfação dos consumidores locais e pelo fato de os dois países possuírem uma relação de interdependência.

Para mitigar possíveis prejuízos do setor cafeeiro com o tarifaço, o Cecafé tem dialogado com os governos federal e dos estados produtores quanto à necessidade de implantações de medidas compensatórias temporárias.

Principal parceiro ainda são os EUA

Entre janeiro e julho, os Estados Unidos seguem como o maior comprador dos cafés do Brasil, com a importação de 3,713 milhões de sacas (queda de 17,9% na comparação com o mesmo período de 2024), o que corresponde a 16,8% dos embarques totais.

Em seguida vêm: Alemanha, com a importação de 2,656 milhões de sacas (queda de 34,1% em relação aos sete primeiros meses de 2024); Itália, com 1,733 milhão de sacas (-21,9%); Japão, com 1,459 milhão de sacas (+11,5%); e Bélgica, com 1,374 milhão de sacas (-49,4%).

O relatório estatístico do Cecafé mostra que o país embarcou 2,733 milhões de sacas de 60 quilos do grão em julho, primeiro mês do ano safra 2025/26, o que implica queda de 27,6% na comparação com o mesmo período de 2024. Já a receita cambial é recorde para meses de julho, com o ingresso de US$ 1,033 bilhão, o que confere crescimento de 10,4% no comparativo anual.

De forma geral, no acumulado dos sete primeiros meses de 2025, o volume de café exportado pelo Brasil foi de 22,150 milhões de sacas, um recuo de 21,4% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram embarcadas 28,182 milhões de sacas.

No entanto, a receita cambial cresceu 36% nesse período, somando US$ 8,555 bilhões. "Uma redução nos embarques já era aguardada neste ano, uma vez que nós vimos de exportações recordes em 2024, estamos com estoques reduzidos e uma safra sem excedentes, com o potencial produtivo total impactado pelo clima. No que se refere à receita cambial, ainda surfamos a onda dos elevados preços no mercado internacional, que reflete o apertado equilíbrio entre oferta e demanda ou mesmo um leve déficit na disponibilidade", explicou Márcio Ferreira.

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