A prisão de uma cuidadora no Rio de Janeiro, acusada de dopar um idoso para roubar R$ 500 mil, joga luz sobre um problema silencioso e crescente: os golpes financeiros contra a terceira idade. Embora casos envolvendo pessoas de confiança sejam chocantes, as armadilhas vão muito além, com criminosos se aproveitando da boa-fé e da menor familiaridade com a tecnologia para aplicar fraudes por telefone e pela internet.
Os golpistas usam táticas de engenharia social, explorando a vulnerabilidade emocional e o isolamento que muitos idosos enfrentam. Eles criam narrativas convincentes que envolvem falsas emergências familiares, prêmios inesperados ou supostas dívidas, pressionando a vítima a agir rapidamente e sem pensar. Conhecer as fraudes mais comuns é o primeiro passo para proteger a si mesmo e aos seus familiares.
Entender como esses golpes funcionam e o que fazer em cada situação pode evitar perdas financeiras significativas e, principalmente, o profundo abalo emocional que acompanha a sensação de ter sido enganado. A seguir, listamos as cinco armadilhas mais frequentes e como se defender delas.
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1. Golpe do falso sequestro ou parente em apuros
Trata-se de um dos golpes mais cruéis, pois explora o desespero. O criminoso liga para a vítima, geralmente de madrugada, fingindo ser um parente em apuros ou um sequestrador. Com uma voz chorosa ou agressiva, ele afirma que um familiar sofreu um acidente, foi sequestrado ou está preso, exigindo um depósito ou transferência via Pix imediata para resolver a situação.
A pressão psicológica é a principal arma. Os golpistas criam um senso de urgência, impedindo que a vítima raciocine ou tente verificar a informação. Eles podem usar ruídos de fundo para simular um ambiente de delegacia ou hospital e, muitas vezes, mantêm a pessoa na linha para que ela não consiga contatar mais ninguém.
Como se proteger:
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Mantenha a calma, por mais difícil que pareça. O desespero é o que o golpista quer.
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Desligue o telefone imediatamente. Não continue a conversa nem forneça qualquer informação pessoal.
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Tente entrar em contato com o familiar supostamente em perigo por meio de seu número de telefone habitual ou de outras pessoas próximas a ele.
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Jamais faça qualquer transferência de dinheiro ou depósito sem antes confirmar 100% a veracidade da história.
2. Empréstimo consignado não solicitado
Nesta fraude, criminosos utilizam dados vazados de aposentados e pensionistas do INSS para contratar empréstimos consignados em seus nomes sem qualquer autorização. O dinheiro cai na conta da vítima, mas os golpistas entram em contato logo em seguida, se passando por funcionários do banco ou do próprio INSS.
Eles informam que o depósito foi um “erro” e instruem o idoso a transferir o valor para outra conta, que na verdade pertence aos fraudadores. O resultado é que a vítima fica com a dívida do empréstimo, cujas parcelas são descontadas diretamente de sua aposentadoria ou pensão, e ainda perde o dinheiro que transferiu.
Como se proteger:
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Monitore regularmente o extrato bancário e o extrato de empréstimos consignados no portal Meu INSS.
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Caso identifique um depósito de origem desconhecida, não gaste o dinheiro e entre em contato imediatamente com seu banco para relatar o ocorrido.
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Nunca transfira ou devolva valores para contas informadas por telefone ou mensagem. A devolução de qualquer quantia deve ser tratada diretamente com a instituição financeira oficial.
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Registre um boletim de ocorrência e formalize uma reclamação nos canais do INSS e no Banco Central.
3. Golpe do bilhete premiado
Apesar de antigo, este golpe continua fazendo vítimas. Um golpista aborda o idoso na rua, fingindo ser uma pessoa simples e sem instrução, com um suposto bilhete de loteria premiado em mãos. Ele alega não saber como resgatar o prêmio milionário e oferece uma recompensa generosa para quem o ajudar.
Para criar credibilidade, um segundo golpista aparece, se passando por um cidadão comum que confirma a autenticidade do bilhete. Eles convencem a vítima a entregar dinheiro, joias ou o cartão do banco como "garantia" de que ela não fugirá com o bilhete, enquanto eles vão resolver uma pendência. Assim que conseguem os bens, os criminosos desaparecem.
Como se proteger:
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Desconfie de ofertas de dinheiro fácil e rápido. Ninguém oferece uma grande recompensa em troca de uma ajuda simples na rua.
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Nunca entregue dinheiro, cartões bancários ou qualquer objeto de valor a estranhos, independentemente da história que contem.
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Não entre em carros de desconhecidos nem os acompanhe a agências bancárias ou outros locais.
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Ao ser abordado com uma história semelhante, afaste-se e, se possível, procure um local seguro ou avise uma autoridade policial.
4. Fraudes online e phishing
Com a digitalização dos serviços, os golpes migraram para o ambiente online. A tática mais comum é o phishing, no qual os criminosos enviam e-mails, SMS ou mensagens de WhatsApp se passando por bancos, lojas ou órgãos do governo. As mensagens costumam ter um tom alarmista, como “sua conta será bloqueada” ou “você tem uma dívida em aberto”.
O objetivo é fazer com que a vítima clique em um link malicioso, que a direciona para um site falso, idêntico ao original. Nesse site, ela é induzida a fornecer dados pessoais, senhas de contas bancárias e números de cartão de crédito. Com essas informações em mãos, os golpistas realizam compras e transferências.
Como se proteger:
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Nunca clique em links recebidos por e-mail, SMS ou WhatsApp, especialmente se a mensagem solicitar uma ação urgente.
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Verifique sempre o endereço do remetente. Empresas sérias não usam contas de e-mail genéricas (como @gmail.com).
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Não forneça senhas, tokens ou dados pessoais em resposta a essas mensagens. Bancos e instituições financeiras nunca pedem essas informações por esses canais.
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Se tiver dúvidas sobre a veracidade de uma comunicação, entre em contato com a empresa por meio de seus canais oficiais, como o telefone no verso do seu cartão ou o aplicativo oficial.
5. Abuso de confiança por cuidadores ou familiares
Este é o golpe mais delicado, pois parte de pessoas próximas, que deveriam proteger o idoso. O abuso pode ocorrer de várias formas: um cuidador que furta dinheiro ou objetos da casa, um familiar que faz compras não autorizadas com o cartão da vítima ou que a pressiona a assinar procurações e documentos que lhe dão acesso total às suas finanças.
Muitas vezes, o idoso se sente constrangido ou com medo de denunciar um parente ou a pessoa que cuida dele. Sinais de alerta incluem o sumiço de dinheiro ou pertences, o aparecimento de compras desconhecidas na fatura do cartão e mudanças repentinas no comportamento do idoso, que pode se tornar mais retraído ou ansioso.
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Como se proteger:
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Estabeleça um sistema de supervisão financeira com mais de um familiar de confiança, para que as contas possam ser revisadas por diferentes pessoas.
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Evite dar acesso irrestrito a cartões e senhas. Use cartões pré-pagos para despesas do dia a dia ou combine valores fixos a serem entregues ao cuidador.
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Converse abertamente com o idoso sobre suas finanças, criando um ambiente seguro para que ele possa relatar qualquer situação estranha sem medo.
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Fique atento a mudanças de comportamento e a novas amizades ou relacionamentos que pareçam ter um interesse financeiro excessivo.
Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.