Ao escolher uma instituição de ensino, um dos primeiros passos é, sem dúvida, a identificação entre a família e a escola. Para Luciane de Sousa Pires, psicóloga clínica, pedagoga, consteladora familiar sistêmica e autora de livros infantis, uma forma de perceber essa conexão é visitar a escola e o espaço físico da sala. “Existem escolas que, desde o maternal, têm uma organização física de carteiras e cadeiras de forma mais tradicional. Outras oferecem espaços para movimentação mais livre, com tapetes e almofadas que favorecem o acolhimento”, exemplifica.


“Outros fatores devem ser levados em conta, como a infraestrutura da escola, o envolvimento da comunidade escolar, a reputação da instituição, a oferta de atividades extracurriculares e a diversidade cultural”, ressalta. A especialista reforça que, do ponto de vista psicopedagógico, a parceria entre a escola e a família é fundamental. Uma colaboração estreita, complementa, garante que o desenvolvimento da criança ou jovem seja observado e apoiado, tanto no ambiente escolar quanto no âmbito familiar.


MUDANÇA


Para quem deseja mudar de escola, Luciane orienta que a época ideal para essa troca é no início do ano letivo ou no início de um novo semestre, o que permite que o aluno comece junto com os novos colegas, acompanhando o início dos conteúdos programáticos. “Evitar trocas no meio de períodos de avaliação ou no final do ano letivo é aconselhável, pois isso pode causar interrupções significativas no aprendizado e adaptação social”, indica.


Sobre o que pode levar à decisão de trocar de escola, ela enumera fatores como: conflitos (problemas recorrentes com colegas, professores ou administração), mudança de residência (que tornam a atual escola geograficamente inconveniente), qualidade de ensino (a busca por uma educação de melhor qualidade ou que se alinhe mais com os valores e expectativas da família), necessidades específicas (o aluno pode precisar de um ambiente que atenda melhor suas necessidades educativas ou emocionais) e fatores financeiros (mudanças na condição financeira da família).


Acolhimento

“Quando uma família escolhe uma escola, não olha apenas para a estrutura. Busca coerência entre aquilo que deseja para o futuro do filho e o que a instituição pode oferecer no presente", diz a diretora geral interina do Colégio Arnaldo e diretora de ensino da Rede Verbita de Educação, Priscilla Lauro.


No Colégio Arnaldo, a premissa é de que educar é preparar para a vida, o que requer a atitude e o coração dos educadores, dos estudantes e da família, explica Priscilla. “Esse diferencial faz com que a decisão vá além do racional: os pais querem confiar a educação dos filhos a um espaço que alia tradição, excelência acadêmica e valores humanos.”


Emily Azevedo Silva, de 17 anos, saiu do antigo colégio, onde estudava há dois anos, para ingressar na instituição no início de 2025. Ela cursa o 2º ano do ensino médio e está se preparando para tentar uma vaga em Direito. Entre os motivos que a levaram à mudança, cita a troca constante de professores, coordenadores e diretores na escola anterior. “Incomoda, porque quando começava a me acostumar com a pessoa, mudava de novo. Também não me identificava com meus colegas de sala”, diz.


Outro fator que pesou na decisão é a proximidade do novo colégio com sua casa, além de ser uma instituição católica, o que condiz com a opção religiosa da família. “Aqui no Arnaldo fiz amigos com mais facilidade. A sala é acolhedora. Também gosto do corpo docente, da didática e da forma como o conteúdo é apresentado. Estou muito satisfeita com a mudança.”


Linha pedagógica


Para a diretora de operações das unidades escolares do Bernoulli Educação, Ana Paula Marques, a decisão das famílias sobre a instituição de ensino a ser escolhida envolve fatores que vão desde metodologia de ensino, qualidade do corpo docente e projetos extracurriculares, até aspectos como infraestrutura e localização.


Mas não se trata apenas disso. Ana Paula reforça a importância de perceber se a escola oferece um ambiente que favoreça tanto o desenvolvimento cognitivo quanto o socioemocional. “Muitas vezes, pais que já viveram a experiência em outra instituição fazem comparações naturais, avaliando de que forma cada escola atende, de fato, às necessidades e expectativas da família.”


Alinhar a linha pedagógica e os valores da escola com as expectativas da família garante, segundo a diretora, que a criança ou adolescente receba estímulos consistentes, promovendo não só o aprendizado acadêmico, mas também o desenvolvimento socioemocional. “Escolas com metodologias centradas no estudante, que incentivam participação ativa e pensamento crítico, costumam gerar maior engajamento e satisfação dos alunos.”


A diretora acrescenta que a escolha da escola vai além de uma decisão comercial: é um contrato formativo e ético – o estudante passa grande parte da vida nesse espaço. “Existem escolas mais tradicionais, outras alternativas, algumas com foco em valores humanos ou cristãos, outras voltadas ao desempenho acadêmico ou à formação integral. Cada abordagem gera experiências distintas, e, quando há alinhamento entre escola e família, o aluno se sente acolhido e vive um percurso educativo coerente.”


A relação entre família e escola é um dos pilares para o sucesso educativo. Para ser efetiva, reforça a diretora, precisa estar alicerçada em uma comunicação aberta, transparente e de mão dupla, na qual a escola compartilha seus propósitos e valores, ao mesmo tempo em que escuta e acolhe as famílias.


“É o que constrói confiança, gera corresponsabilidade e favorece a participação ativa dos responsáveis no desenvolvimento acadêmico e socioemocional dos estudantes. Para consolidar esse vínculo, o projeto escolar deve promover encontros periódicos, coletivos e individuais, formações temáticas, culminâncias de projetos abertos à comunidade e o uso de canais digitais que mantenham a comunicação constante”, aponta Ana Paula.


Reais motivos


Quando a decisão é pela troca de escola, colocar para o filho abertamente os reais motivos é imprescindível. Ana Paula orienta escolher um momento tranquilo para conversar, usar uma linguagem simples, validar os sentimentos de perda e acolher dúvidas.


Ao mesmo tempo, o processo de adaptação a uma nova escola passa pela familiarização com professores, colegas, metodologia e rotina, continua. “Um ambiente acolhedor, seguro e estimulante facilita essa transição e favorece a construção de vínculos. Além da participação da família, o olhar atento e o acompanhamento próximo dos educadores fazem toda a diferença, pois permitem identificar dificuldades precoces e intervir com cuidado.”


COMO AGIR

 

O que levar em consideração ao escolher uma escola


Horários


Observar se os horários de funcionamento da escola são compatíveis com a rotina da família. Considere também os horários de entrada e saída das aulas, assim como as atividades extracurriculares oferecidas, e se isso casa bem com a dinâmica familiar, para não haver contratempos depois da matrícula


Questão financeira


Avalie o custo da mensalidade e outros possíveis gastos adicionais, como uniformes, materiais escolares e atividades extracurriculares. Certifique-se se o valor é viável para o orçamento familiar.


Distância de casa


Considere a localização da escola em relação à sua residência. Verifique se é de fácil acesso e se há transporte disponível. Leve em consideração também o tempo de deslocamento e o impacto na rotina.- Irmãos estudando na mesma escola: caso haja mais de um filho na família, é importante verificar se a escola oferece descontos ou benefícios para irmãos. Além disso, considere a conveniência de ter todos os filhos estudando no mesmo local.


Linha pedagógica/ ambiente psicológico


Pesquise sobre a linha pedagógica adotada pela escola. Verifique se ela está alinhada com os valores e objetivos educacionais da família. Considere também a abordagem de ensino, metodologias utilizadas e a qualidade do corpo docente. Existem escolas de linha mais conteudista, mais humanista ou construtivista. É preciso que os pais tenham clareza do que estão buscando para a educação dos seus filhos.


Fonte: Luciane de Sousa Pires

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