A seletividade alimentar infantil tem sido cada vez mais discutida por pais, educadores e profissionais da saúde. Mas, segundo o Dr. Alexandre Duarte (CRM-SP 162757), médico especializado em fisiologia metabólica e hormonal, esse comportamento pode não ser tão natural quanto se pensa. Para ele, a raiz do problema está no excesso de opções alimentares e no consumo desenfreado de alimentos ultraprocessados.
Com mais de 300 mil seguidores no Instagram (@dralexandreduarte), o médico defende que a seletividade alimentar é um reflexo de um ambiente moderno que estimula o prazer imediato e dificulta escolhas alimentares conscientes. A afirmação do especialista chama atenção para o papel dos adultos na formação do paladar infantil e levanta questionamentos sobre o modelo alimentar atual.
O que causa a seletividade alimentar em crianças?
O Dr. Alexandre Duarte afirma que a seletividade alimentar só existe porque há excesso de opções. Segundo ele, em contextos onde a oferta de comida é limitada, como em épocas passadas ou em comunidades com poucos recursos, as crianças simplesmente comem o que está disponível. “Vocês acham que a criança das cavernas tinha seletividade alimentar? Pra comer o quê? Pedra? Arbusto?”, questiona o médico.
Essa reflexão indica que a seletividade está muito mais ligada ao ambiente do que a uma característica natural da infância. Quando a criança é exposta a diversos alimentos industrializados, ricos em sal, açúcar e gordura, ela tende a rejeitar preparações mais naturais. Para o especialista, isso não é seletividade, mas uma “drogadição alimentar” promovida pelos estímulos cerebrais causados por alimentos ultraprocessados.
Se não comer, deve-se obrigar a criança?
Segundo o Dr. Duarte, impor que a criança coma pode ser contraproducente. A abordagem ideal, segundo ele, é oferecer opções saudáveis e limitar o acesso a alimentos ultraprocessados. “Se tem só carne pra comer, ela vai comer. Se não quiser, tudo bem, amanhã vai ter a mesma coisa”, explica.
Essa estratégia baseia-se em limitar a variedade de opções e, ao mesmo tempo, respeitar a fome natural da criança. Forçar a alimentação, segundo especialistas em nutrição infantil, pode gerar aversão e comportamentos alimentares disfuncionais no futuro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os cuidadores ofereçam repetidamente alimentos saudáveis, respeitando o apetite da criança, sem pressões.
Seletividade alimentar é um problema de saúde pública?
Sim. Quando a criança se alimenta apenas de produtos industrializados ou recusa grupos alimentares inteiros, ela está mais suscetível a deficiências nutricionais. Ferro, zinco, fibras e vitaminas do complexo B são alguns dos nutrientes comumente negligenciados por crianças seletivas, segundo o Ministério da Saúde.
Além disso, o hábito de comer com base em prazer e recompensa imediata aumenta o risco de obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares no futuro. Por isso, é fundamental criar um ambiente alimentar adequado desde os primeiros anos de vida. A educação alimentar deve ser contínua, e os adultos são os maiores exemplos.
Como o paladar da criança é formado?
O paladar começa a se formar ainda na gestação, mas é nos dois primeiros anos de vida que ele é moldado com mais intensidade. A introdução alimentar diversificada, sem sal, açúcar ou ultraprocessados, é recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Nessa fase, quanto mais contato a criança tem com frutas, vegetais, legumes e preparações caseiras, maior a chance de ela manter esses hábitos ao longo da vida.

Entretanto, quando há fácil acesso a alimentos com alto teor de açúcar e gordura, como bolachas, refrigerantes e comidas prontas, o cérebro da criança tende a associar esses alimentos ao prazer imediato, dificultando a aceitação de alimentos mais simples.
O que fazer quando a criança rejeita tudo?
É essencial entender que fome não é inimiga. O Dr. Alexandre Duarte afirma: “Duvido que uma criança fique mais de 3 dias sem comer aquilo que aparecer na frente dela.” Isso reforça a importância da paciência e da consistência por parte dos pais e responsáveis.
A recomendação é evitar substituições imediatas e não oferecer alternativas menos saudáveis diante de uma recusa. O ideal é seguir oferecendo os mesmos alimentos saudáveis em diferentes preparações e respeitar o tempo da criança. Além disso, envolver os pequenos no preparo das refeições pode ser uma excelente estratégia para melhorar a aceitação.
E se o comportamento persistir?
Se a recusa alimentar for severa, gerando prejuízos no crescimento ou nas atividades diárias da criança, o acompanhamento com pediatra e nutricionista especializado em comportamento alimentar é fundamental. Esses profissionais poderão avaliar possíveis causas emocionais, neurológicas ou sensoriais associadas à seletividade.
Algumas crianças, especialmente com diagnóstico de transtornos como o espectro autista, podem ter seletividade alimentar mais rígida e duradoura. Nesses casos, estratégias personalizadas são indispensáveis.
Onde encontrar informações confiáveis sobre alimentação infantil?
Para aprofundar o conhecimento e buscar diretrizes baseadas em evidências, consulte fontes oficiais como:
- Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude
- Organização Mundial da Saúde (OMS): https://www.who.int/
- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): https://www.sbp.com.br
Será que não estamos complicando demais a alimentação?
A seletividade alimentar não é uma sentença definitiva, nem um traço da personalidade da criança. Segundo o Dr. Alexandre Duarte, ela é um reflexo de um ambiente desorganizado, com excesso de estímulos e poucas regras claras. Estabelecer rotinas, limites e dar bons exemplos à mesa são atitudes simples, mas extremamente eficazes para transformar a relação da criança com a comida.