A restrição severa de carboidratos tem sido popularizada por diversas dietas, mas segundo o nutricionista esportivo Dr. Felipe Donatto (CRN3: 18.215), esse hábito pode trazer efeitos negativos importantes, especialmente para quem treina e deseja preservar massa muscular.
Em seus conteúdos nas redes sociais, o especialista alerta que o sistema nervoso central depende de glicose diariamente para funcionar, e a falta desse substrato pode gerar um efeito em cascata, ativando hormônios do estresse como o cortisol e levando à degradação muscular.
Por que o sistema nervoso precisa de glicose todos os dias?
Segundo Dr. Donatto, o sistema nervoso central consome cerca de 100 a 120g de glicose por dia. Isso representa aproximadamente 20% do gasto energético de repouso. A glicose é o combustível preferencial do cérebro, e uma escassez pode afetar desde a cognição até o equilíbrio hormonal.
Quando a ingestão de carboidratos é muito baixa, o organismo ativa mecanismos de emergência. O cérebro “pede” glicose, e para isso, o corpo eleva os níveis de cortisol, um hormônio que sinaliza ao fígado para produzir glicose via gliconeogênese.
O que acontece com o músculo quando faltam carboidratos?
O ponto de alerta trazido por Dr. Donatto é que a principal matéria-prima para produzir glicose em situações de jejum ou dieta restritiva são os aminoácidos provenientes dos músculos. O corpo degrada proteína muscular para extrair alanina e glutamina, que são convertidas em glicose no fígado.

Esse processo, chamado catabolismo muscular, é prejudicial especialmente para atletas, praticantes de musculação ou pessoas que buscam recomposição corporal. Ou seja, a falta de carboidrato pode acabar sabotando o ganho de massa magra.
Cortar carboidrato é sempre ruim?
Não. O problema não está na redução em si, mas na falta de estratégia e individualização. Como alerta o especialista, cortar carboidratos sem saber como isso afeta o funcionamento do sistema nervoso e os mecanismos hormonais pode gerar desequilíbrios.
Em dietas cetogênicas bem formuladas, por exemplo, o corpo se adapta ao uso de corpos cetônicos como fonte de energia. Mas isso exige acompanhamento profissional e transição correta. Para a maioria das pessoas, manter um mínimo de 100g de carboidratos por dia pode preservar a função neurológica sem comprometer os resultados estéticos.
Quais os riscos de ativar o cortisol com frequência?
O cortisol é um hormônio essencial, mas quando ativado constantemente (por jejum prolongado, estresse ou dietas extremas), pode ter efeitos colaterais indesejados. Entre eles estão:
- Perda de massa muscular
- Dificuldade de recuperação pós-treino
- Aumento da gordura abdominal
- Distúrbios no sono
- Queda na imunidade
Manter níveis estáveis de glicose e evitar picos de estresse fisiológico é essencial para preservar a saúde muscular e hormonal.
Fontes oficiais utilizadas neste conteúdo
- Ministério da Saúde – Diretrizes Alimentares para a População Brasileira: https://www.gov.br/saude
- Organização Mundial da Saúde (OMS) – Nutrição e Saúde: https://www.who.int
- PubMed – Metabolic responses to low carbohydrate diets: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/