Nos últimos anos, um número crescente de aposentados tem optado por voltar à ativa, fenômeno conhecido como “desaposentadoria”. Diversos fatores contribuem para essa decisão, incluindo mudanças econômicas, aumento da expectativa de vida e transformações no perfil do trabalho. A busca por uma renda complementar e o desejo de manter-se produtivo são aspectos frequentemente observados entre esse público.
Além disso, a inflação e o custo de vida elevado têm impactado diretamente o poder de compra dos benefícios previdenciários. Muitos aposentados percebem que o valor recebido não é suficiente para cobrir todas as despesas, o que os leva a procurar novas oportunidades de emprego, seja em tempo integral ou parcial. A recente alta dos preços, especialmente em capitais como São Paulo e grandes regiões metropolitanas, tem acelerado esse movimento, segundo levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Quais são os principais setores que absorvem profissionais aposentados?
Alguns segmentos do mercado de trabalho têm se mostrado mais receptivos à contratação de pessoas aposentadas. Setores como comércio, serviços, consultoria e educação costumam valorizar a experiência e o conhecimento acumulados ao longo dos anos. Essas áreas oferecem vagas que permitem flexibilidade de horários e funções adaptadas às necessidades desse público.
Empresas de pequeno e médio porte também enxergam vantagens em contar com profissionais experientes, principalmente para cargos de orientação, treinamento e atendimento ao cliente. O trabalho remoto, que ganhou força após a pandemia de Covid-19, ampliou ainda mais as possibilidades para quem deseja voltar a trabalhar sem sair de casa. Plataformas digitais como LinkedIn e Indeed registraram aumento no número de perfis de aposentados buscando recolocação ou consultorias em 2023.
Como a “desaposentadoria” afeta a vida financeira dos idosos?
O retorno ao trabalho pode representar um alívio financeiro significativo para muitos aposentados. Ao somar a renda do emprego com o benefício previdenciário, é possível equilibrar o orçamento doméstico e até realizar novos projetos pessoais. Essa combinação de fontes de renda é vista como uma estratégia para lidar com imprevistos e garantir maior estabilidade.

No entanto, é importante considerar os impactos tributários e previdenciários dessa decisão. Dependendo do regime de contratação, o aposentado pode ter descontos adicionais em folha ou, em alguns casos, perder benefícios específicos. Por isso, a orientação de um especialista em finanças é recomendada antes de assumir um novo compromisso profissional. No caso do regime do Instituto Nacional do Seguro Social, por exemplo, algumas regras específicas podem afetar o valor do benefício.
Quais desafios os aposentados enfrentam ao retornar ao trabalho?
Apesar das vantagens, a “desaposentadoria” traz desafios importantes. A adaptação às novas tecnologias e métodos de trabalho pode ser um obstáculo para quem ficou afastado do mercado por um longo período. Além disso, questões relacionadas à saúde e à disposição física exigem atenção especial na escolha das atividades a serem desempenhadas.
Outro ponto relevante é o preconceito etário, ainda presente em algumas empresas. Muitos aposentados relatam dificuldades em processos seletivos, onde a preferência por profissionais mais jovens é evidente. Para superar essas barreiras, iniciativas de inclusão e programas de capacitação, como os promovidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), têm sido fundamentais.
Como a legislação brasileira trata o retorno de aposentados ao mercado de trabalho?
A legislação permite que aposentados retornem ao trabalho, mas existem regras específicas conforme o tipo de aposentadoria. Quem se aposentou por tempo de contribuição ou idade pode ser contratado normalmente, enquanto aposentados por invalidez não podem exercer atividades remuneradas. O contrato de trabalho pode ser formal, autônomo ou temporário, de acordo com as necessidades das partes envolvidas.
Vale destacar que, ao voltar a trabalhar com carteira assinada, o aposentado continua contribuindo para a Previdência Social, mas não tem direito a uma nova aposentadoria pelo mesmo regime. Mudanças recentes nas leis trabalhistas e previdenciárias, como a Reforma da Previdência de 2019, também influenciam as condições desse retorno, exigindo atenção às atualizações normativas.
Quais são os impactos sociais do fenômeno da “desaposentadoria”?
O aumento da participação de aposentados no mercado de trabalho tem reflexos diretos na sociedade. Por um lado, contribui para a valorização da experiência e do conhecimento dos mais velhos, promovendo a diversidade geracional nas empresas. Por outro, desafia políticas públicas a repensarem a inclusão e o bem-estar dessa parcela da população.
Além disso, a presença ativa dos idosos no mercado de trabalho pode inspirar novas gerações a repensarem o conceito de aposentadoria. O fenômeno da “desaposentadoria” reforça a ideia de que envelhecer não significa afastar-se das atividades produtivas, mas sim adaptar-se a novas realidades e possibilidades. Organizações como a Organização Mundial da Saúde destacam que o engajamento social e profissional traz benefícios para a saúde mental e física dos idosos.