Too Much, nova série da Netflix criada por Lena Dunham, oferece uma visão rara: um retrato de Londres com autenticidade emocional e geográfica, mesmo sendo uma produção americana. Inspirada na experiência pessoal da própria Lena, a série evita os clichês turísticos e mergulha em uma Londres real, habitada e imperfeita.
Jessica, a protagonista, caminha por ruas grafitadas, parques noturnos e pubs que também são restaurantes. Essa ambientação foge da London Eye e da Tower Bridge, e aproxima a narrativa do cotidiano londrino, com seus ônibus noturnos, sotaques e contrastes.
Como a relação entre Lena Dunham e Londres influenciou a série?
A criadora Lena Dunham viveu na pele a trama que inspira a série: após um término doloroso, ela se mudou de Nova York para Londres, onde conheceu e se casou com Luis Felber — coautor e produtor executivo da série. Essa vivência pessoal confere à obra um realismo sutil e honesto, difícil de replicar.
Cenas como a do casamento no Union Club, no Soho, são mais que ficção: refletem momentos reais da vida de Lena, filmados nos mesmos cenários onde tudo aconteceu.
Quais elementos tornam a representação de Londres tão precisa?
Too Much acerta nos detalhes. Desde as gírias locais até os figurinos autênticos, como jaquetas Barbour e tênis Adidas surrados, cada cena respira a vida urbana londrina. Ao retratar personagens que frequentam Hackney City Farm ou jogam futebol em Peckham, a série dá voz aos não-turistas.

O humor ácido entre britânicos e americanos também é bem explorado. Quando Jessica tenta oferecer um scone, a resposta irônica de Felix sobre “humor americano irritante” sintetiza esse contraste cultural com delicadeza e sagacidade.
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Por que as diferenças culturais se tornam um destaque na narrativa?
A série usa os conflitos culturais como combustível emocional. Jessica se encanta, mas também estranha, o modo de viver dos britânicos. Em uma cena marcante, ela diz: “Eles são divertidos, mas não são legais”. Essas contradições tornam a história mais real, mais humana.
Os diálogos revelam nuances de identidade e pertencimento, em especial para quem se vê como estrangeiro tentando se encaixar. É aí que Too Much se distancia de caricaturas e ganha profundidade emocional.
O que torna Too Much uma carta de amor a Londres?
Apesar das frustrações e choques, a série transmite afeto sincero por Londres — com suas esquisitices, sarcasmo e beleza não convencional. É um olhar estrangeiro que escolhe amar a cidade como ela é, não como deveria ser.
Curiosidade: A maioria das produções que retratam Londres com profundidade são feitas por britânicos. Too Much quebra esse padrão ao ser escrita por uma nova-iorquina, que não idealiza, mas compreende a cidade com a intimidade de alguém que decidiu ficar.