Ainda hoje, muitas ideias equivocadas circulam sobre como a mente e as emoções humanas funcionam. A psicóloga Andressa Leal destaca que a psicologia é uma ciência, baseada em estudos e evidências, e não um conjunto de conselhos intuitivos. No entanto, alguns mitos persistem, alimentados por estereótipos e senso comum, que acabam distorcendo o verdadeiro papel das emoções e do comportamento humano.
Por exemplo, sentimentos como raiva, tristeza ou mágoa são frequentemente vistos como negativos ou inadequados, quando, na realidade, são respostas naturais do nosso corpo a situações externas e internas. O problema não está em sentir essas emoções, mas em como lidamos com elas. Reprimir o que sentimos pode causar impactos emocionais e físicos a longo prazo.
O cérebro de homens e mulheres funciona de forma diferente?
Um mito muito difundido é o de que os cérebros de homens e mulheres funcionam de formas completamente opostas. Essa crença é reforçada por frases como “homens são racionais e mulheres são emocionais”, o que não tem base científica sólida. Embora existam diferenças anatômicas sutis entre os cérebros, pesquisas mostram que essas variações não determinam inteligência, comportamento ou capacidade emocional.
Na verdade, fatores como experiências de vida, cultura e ambiente social têm um impacto muito maior no comportamento humano do que qualquer diferença biológica entre gêneros. O mito, além de falso, perpetua estereótipos que limitam a forma como cada indivíduo se percebe e se expressa.
Crianças não entendem nada do que acontece?
Outro equívoco comum é acreditar que crianças pequenas não compreendem ou não sentem as situações que vivenciam. A ciência comprova que, desde cedo, as experiências emocionais são registradas no cérebro, mesmo antes do desenvolvimento completo da linguagem.
A criança pode não conseguir expressar suas emoções verbalmente, mas isso não significa que não as sinta intensamente. Traumas e vivências negativas podem ser armazenados no corpo e na mente, afetando o comportamento e o desenvolvimento emocional futuro. Por isso, é essencial respeitar e acolher os sentimentos das crianças, valorizando sua percepção do mundo.
Ninguém pode magoar você sem a sua permissão?
A ideia de que “ninguém pode te magoar sem a sua permissão” também é um mito. Emocionar-se não é uma escolha consciente. Assim como não escolhemos sentir dor física, não escolhemos sentir tristeza, mágoa ou frustração. As emoções são respostas automáticas do sistema nervoso e estão ligadas a processos biológicos.
O que podemos controlar é a forma como reagimos a essas emoções, desenvolvendo habilidades emocionais e estratégias para lidar com elas. A terapia, por exemplo, não busca eliminar as emoções, mas ajudar a interpretá-las e usá-las a favor do autoconhecimento e do bem-estar.
Por que buscamos explicações simplistas sobre emoções?
Muitas pessoas ainda preferem acreditar em frases prontas ou explicações simplistas porque elas oferecem uma falsa sensação de controle. A ideia de que “é só não sentir” ou “é só não permitir” parece fácil, mas ignora a complexidade do funcionamento mental.
Em geral, isso acontece porque lidamos com uma cultura que valoriza a produtividade e a racionalidade, e que considera o sentir como sinal de fraqueza. No entanto, estudos indicam que compreender e aceitar as emoções é um dos pilares para desenvolver inteligência emocional, melhorar relacionamentos e manter a saúde mental equilibrada.
Como a psicoterapia ajuda a ressignificar crenças limitantes?
A psicoterapia é um processo de autoconhecimento que permite identificar mitos e crenças que nos impedem de crescer emocionalmente. Com a ajuda de um profissional, é possível perceber padrões de pensamento distorcidos, compreender suas origens e aprender formas mais saudáveis de lidar com emoções e situações desafiadoras.
Ao longo das sessões, o indivíduo desenvolve uma relação mais empática consigo mesmo, aprendendo que sentir raiva, medo ou tristeza não é um erro, mas uma forma de o corpo sinalizar necessidades internas. Esse processo reduz o peso dos mitos e ajuda a construir uma autoestima mais sólida e realista.
Lista de mitos comuns na psicologia
- “Homens são racionais e mulheres são emocionais” – Estereótipo sem base científica.
- “Criança não sente dor emocional” – Elas percebem e registram emoções desde cedo.
- “A terapia é só para quem tem problemas graves” – Todos podem se beneficiar para autoconhecimento.
- “Controlar emoções é questão de força de vontade” – Emoções não são escolhas conscientes.
- “A psicologia não é ciência” – É uma ciência com métodos validados e estudos clínicos.
- “Se eu não penso no problema, ele não me afeta” – Reprimir emoções pode intensificar sofrimentos internos.
A importância da educação emocional
Investir em educação emocional é uma forma eficaz de desconstruir esses mitos desde cedo. Ensinar crianças e adolescentes a reconhecer, nomear e lidar com emoções contribui para o desenvolvimento de adultos mais conscientes e emocionalmente equilibrados. Hoje, escolas e empresas já incorporam programas voltados para inteligência emocional, justamente por entenderem que o bem-estar psicológico impacta diretamente a produtividade e as relações sociais.
@psiandressaleal aposto que já escutou alguma dessas #psicologia #ciencia #autoconhecimento ♬ som original – Andressa Leal
Além disso, a sociedade precisa entender que cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo. Assim como procuramos um médico diante de sintomas físicos, buscar apoio psicológico deve ser visto como uma atitude saudável e preventiva.
Dado científico interessante
Estudos da American Psychological Association (APA) mostram que pessoas que identificam e compreendem melhor suas emoções têm 36% menos chances de desenvolver ansiedade crônica. Essa estatística reforça a ideia de que entender o funcionamento emocional não é um luxo, mas uma necessidade para manter a saúde mental.