O fígado desempenha múltiplas funções essenciais para o funcionamento do corpo humano. Ele atua na desintoxicação de substâncias nocivas, auxilia na digestão, armazena nutrientes e regula o metabolismo. Este órgão impressionante, apesar de sua capacidade de regenerar-se, não é indestrutível. Hábitos cotidianos, muitas vezes negligenciados, podem causar danos a longo prazo, levando a condições graves como cirrose ou insuficiência hepática [1].
As doenças hepáticas podem ser particularmente traiçoeiras, uma vez que podem não apresentar sintomas óbvios em estágios iniciais. Fadiga constante e náuseas são alguns sinais vagos que podem surgir inicialmente. Com a progressão do dano, podem aparecer sinais mais conhecidos, como a icterícia, caracterizada pela coloração amarelada da pele e dos olhos [2].
Como o Álcool Afeta o Fígado?
O consumo excessivo de álcool é um dos agentes mais conhecidos de danos ao fígado. Quando ingerido, o fígado trabalha para quebrar o álcool e eliminá-lo do organismo. No entanto, quantidades excessivas podem sobrecarregar o órgão, resultando no acúmulo de substâncias tóxicas que danificam as células hepáticas [3]. O acúmulo de gordura no fígado, conhecido como fígado gorduroso, é um efeito inicial que pode ser revertido com a interrupção do consumo de álcool.
Se o consumo continua, pode ocorrer a hepatite alcoólica, caracterizada pela inflamação e formação de cicatrizes no fígado. Esse dano pode evoluir para cirrose, onde a função do fígado é seriamente comprometida [4]. Recomenda-se limitar o consumo de álcool a no máximo 14 unidades por semana, permitindo dias sem consumo para recuperação do fígado [5].

O Impacto de Uma Dieta Inadequada no Fígado
Não é necessário abusar do álcool para desenvolver problemas hepáticos. Uma dieta pobre pode levar à acumulação de gordura no fígado, causando a chamada doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). O excesso de gordura compromete a função hepática e pode desencadear inflamação e cirrose ao longo do tempo. Pessoas com excesso de peso, especialmente na região abdominal, são mais suscetíveis [6].
Alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcares, como carnes vermelhas, frituras, e snacks processados, são fatores de risco. Estudos mostram que bebidas açucaradas aumentam significativamente o risco de desenvolver doenças hepáticas gordurosas [7]. Em contrapartida, uma dieta balanceada rica em vegetais, frutas, grãos integrais e peixes pode prevenir e até reverter danos ao fígado [8].
Por Que o Excesso de Medicamentos Pode Ser Perigoso?
Muitas pessoas recorrem a analgésicos como o paracetamol para alívio de dores cotidianas. Embora seguros em doses recomendadas, o uso excessivo pode ser altamente prejudicial ao fígado. Durante a metabolização do paracetamol, o fígado produz um subproduto tóxico, que em altas concentrações pode causar danos hepáticos severos [9]. Portanto, é crucial respeitar as dosagens recomendadas e consultar um médico ao necessitar de alívio frequente de dores.
O Exercício Físico é Realmente Importante para a Saúde do Fígado?
O sedentarismo contribui para a obesidade e a resistência à insulina, fatores que facilitam o acúmulo de gordura no fígado. A boa notícia é que o exercício regular pode beneficiar o fígado mesmo sem perda significativa de peso. Estudos indicam que o treinamento resistido reduz a gordura do fígado e melhora o controle do açúcar no sangue [10].
Atividades aeróbicas, como caminhadas rápidas por 30 minutos, cinco vezes por semana, também são eficazes em diminuir a gordura hepática e aumentar a sensibilidade à insulina [11]. Portanto, manter-se ativo é uma estratégia crucial para a saúde hepática.
Referências Científicas
- Friedman, SL. “Liver fibrosis — from bench to bedside.” Journal of Hepatology, 2003. Link
- Ferenci, P., et al. “Liver function tests in healthy persons and patients with liver diseases.” Gut, 1984. Link
- World Health Organization. “Global status report on alcohol and health 2018.” Link
- European Association for the Study of the Liver. “EASL Clinical Practice Guidelines: Management of alcohol-related liver disease.” Journal of Hepatology, 2018. Link
- National Health Service (NHS). “Alcohol units.” Link
- Chalasani, Naga, et al. “The diagnosis and management of nonalcoholic fatty liver disease: Practice guidance from the American Association for the Study of Liver Diseases.” Hepatology, 2018. Link
- Ma, Junliang, et al. “Sugar-sweetened beverages and risk of nonalcoholic fatty liver disease: A meta-analysis.” European Journal of Nutrition, 2021. Link
- Medina, J, et al. “Beneficial effects of Mediterranean diet on nonalcoholic fatty liver disease.” World Journal of Gastroenterology, 2014. Link
- Lee, WM. “Acetaminophen and the U.S. Acute Liver Failure Study Group: Lowering the risks of hepatic failure.” Hepatology, 2004. Link
- Fealy, CE, et al. “Exercise training decreases hepatic fat content and improves liver function and insulin sensitivity in obese adults.” Obesity, 2012. Link
- Keating, SE, et al. “Effect of aerobic exercise training dose on liver fat and visceral adiposity.” J Hepatol, 2015. Link