A válvula aórtica bicúspide é uma das cardiopatias congênitas mais comuns, presente em cerca de 1 a 2% da população mundial. Apesar de ser uma condição geralmente silenciosa, ela pode trazer riscos importantes à saúde cardiovascular se não for detectada e monitorada adequadamente. A cardiologista Dra. Thaíssa Monteiro explica que muitas pessoas convivem com essa anomalia sem apresentar sintomas claros, o que torna o diagnóstico precoce essencial para a prevenção de complicações.
Segundo a especialista, o exame físico tradicional nem sempre identifica alterações na válvula. Por isso, a realização de exames complementares, como o ecocardiograma, é a melhor forma de detectar a válvula aórtica bicúspide e avaliar o seu funcionamento. “Se você não tem diagnóstico, pode às vezes começar a já ter alterações e não ter sintomas importantes, ou achar que aquele seu sintoma é relacionado a uma ansiedade, algum estresse, e não valorizar”, alerta a médica.
O que é a válvula aórtica bicúspide?
A válvula aórtica é responsável por controlar a saída do sangue do coração para a aorta, a maior artéria do corpo. Em condições normais, essa válvula possui três folhetos (três cúspides). No caso da válvula aórtica bicúspide, a pessoa nasce com apenas dois folhetos, o que pode alterar a dinâmica do fluxo sanguíneo e, com o tempo, provocar sobrecarga no coração e na própria aorta.
Essa malformação congênita, mesmo que assintomática, está associada a riscos maiores de desenvolvimento de estenose aórtica (estreitamento da válvula) e insuficiência valvar (quando a válvula não fecha adequadamente). Além disso, há uma predisposição ao desenvolvimento de aneurisma da aorta, especialmente na porção ascendente, o que pode evoluir para uma dissecção ou ruptura — situações graves que exigem intervenção imediata.
Por que o diagnóstico precoce é fundamental?
Detectar a válvula aórtica bicúspide em estágios iniciais permite um monitoramento contínuo e estratégias preventivas. A Dra. Thaíssa Monteiro explica que os ecocardiogramas periódicos são a chave para acompanhar possíveis alterações, tanto na válvula quanto no calibre da aorta. Esse acompanhamento possibilita uma intervenção médica antes que ocorram complicações graves, como insuficiência cardíaca ou ruptura da aorta.
Além disso, pessoas com válvula aórtica bicúspide devem ter atenção especial à profilaxia de endocardite infecciosa, uma infecção grave das válvulas cardíacas que pode ocorrer após procedimentos odontológicos ou cirurgias. O uso de antibióticos preventivos, em situações específicas, é recomendado para evitar essa complicação potencialmente fatal.
Quais são as complicações mais comuns?
Pacientes portadores da válvula aórtica bicúspide podem apresentar as seguintes complicações ao longo da vida:
- Estenose aórtica: ocorre quando a válvula se torna rígida e estreita, dificultando a passagem do sangue e sobrecarregando o coração.
- Insuficiência aórtica: quando a válvula não fecha corretamente, permitindo que o sangue retorne ao coração.
- Aneurisma da aorta ascendente: dilatação anormal da aorta, com risco de ruptura ou dissecção.
- Endocardite infecciosa: infecção grave que pode destruir a válvula.
A Dra. Thaíssa reforça: “Pacientes com válvula aórtica bicúspide têm risco aumentado de terem aneurisma da aorta, principalmente na porção ascendente, e nesses casos você pode ter um aneurisma e não ter também sintoma algum.”
Quando buscar avaliação médica?
Nem sempre os sinais da válvula aórtica bicúspide são perceptíveis no dia a dia. No entanto, alguns sintomas podem indicar alterações na válvula ou na aorta, como falta de ar, dor no peito, palpitações, tonturas ou desmaios. Caso haja histórico familiar de problemas cardíacos ou aneurismas, é fundamental realizar uma avaliação preventiva com um cardiologista.

Para pessoas diagnosticadas, o acompanhamento médico é contínuo e individualizado. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos para controlar a pressão arterial e reduzir a sobrecarga do coração. Quando o risco de complicações aumenta, cirurgias preventivas — como a troca da válvula ou a correção da aorta — podem ser indicadas.
Como cuidar do coração com válvula aórtica bicúspide?
Além dos exames regulares, alguns hábitos saudáveis são recomendados para reduzir riscos cardiovasculares:
- Manter pressão arterial controlada, evitando esforços físicos excessivos sem acompanhamento médico.
- Praticar atividades físicas moderadas, como caminhadas ou exercícios aeróbicos leves, sempre com liberação do cardiologista.
- Adotar uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras, grãos integrais e baixa em gorduras saturadas.
- Evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool, que aumentam a sobrecarga cardíaca.
- Realizar check-ups anuais, com especial atenção ao ecocardiograma e exames de sangue relacionados à saúde cardiovascular.
O papel da informação e do acompanhamento especializado
A cardiologista Dra. Thaíssa Monteiro destaca que o maior desafio da válvula aórtica bicúspide é a falta de conhecimento sobre a condição. Muitas pessoas só descobrem o problema após um exame de rotina ou quando já apresentam complicações avançadas. Por isso, a orientação médica e a educação em saúde são fundamentais para aumentar a conscientização sobre essa anomalia.
Estudos da American Heart Association e da Harvard Health Publishing apontam que a detecção precoce, aliada a mudanças no estilo de vida e à realização de exames periódicos, pode reduzir significativamente as complicações associadas à válvula aórtica bicúspide. Além disso, avanços na cardiologia permitem diagnósticos cada vez mais precisos e tratamentos cirúrgicos menos invasivos.
Fontes oficiais e confiáveis sobre doenças do coração
American Heart Association – Heart Valve Disease:
https://www.heart.org/en/health-topics/heart-valve-problems-and-disease
Organização Mundial da Saúde – Cardiovascular Diseases:
https://www.who.int/health-topics/cardiovascular-diseases