Rinite vasomotora ou idiopática é um tipo de rinite não alérgica, muito comum em pessoas que sofrem com crises quando a temperatura muda. Segundo o otorrinolaringologista Dr. Carlos Maurício (Instagram @drcarlos.otorrino), esse tipo de rinite não envolve reações alérgicas, mas provoca sintomas idênticos à rinite alérgica, como coriza, obstrução nasal, espirros e coceira. A diferença é que o tratamento padrão com antialérgicos costuma ter pouco ou nenhum efeito nesses casos.
A explicação está na origem do problema. A rinite vasomotora não é causada por alérgenos, mas por estímulos ambientais como clima seco, vento, odores fortes ou mudanças de temperatura. Por isso, a abordagem terapêutica precisa ser diferente para realmente aliviar os sintomas e evitar o agravamento.
Quais são os sinais que indicam rinite vasomotora?
Os sintomas da rinite vasomotora são muito semelhantes aos da rinite alérgica: nariz entupido, coriza clara, espirros frequentes e coceira. A principal diferença é o gatilho. Enquanto a rinite alérgica é provocada por poeira, ácaros ou pelo de animais, a rinite vasomotora é desencadeada por variações de temperatura, fumaça, perfumes ou até estresse. Ela também pode aparecer em pessoas que nunca apresentaram alergias na infância e geralmente não responde bem ao uso de antialérgicos.
Além disso, o teste de alergia geralmente dá negativo, e a dosagem de IgE — marcador imunológico associado à alergia — costuma estar normal. Isso ajuda os profissionais de saúde a diferenciarem os tipos de rinite e definirem o melhor tratamento, evitando erros comuns como o uso excessivo de medicamentos que não trazem resultado.
Por que antialérgicos não funcionam na rinite vasomotora?
Como a rinite vasomotora não envolve liberação de histamina, que é o principal alvo dos antialérgicos, o efeito dessas medicações é limitado ou inexistente. Dr. Carlos Maurício reforça que insistir em antialérgicos nesses casos gera frustração e prolonga o sofrimento. Em vez disso, outras estratégias têm se mostrado mais eficazes para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
É o caso da lavagem nasal com soro fisiológico, o uso de corticoides nasais sob orientação médica e, em alguns casos, descongestionantes orais usados com cautela e por tempo limitado. Esses métodos ajudam a controlar a inflamação local e a reduzir a sensibilidade da mucosa nasal, o que traz alívio real e duradouro.
O que é o spray nasal com capsaicina e por que ele funciona?
Dr. Carlos cita um tratamento ainda pouco conhecido no Brasil: o spray nasal com capsaicina, substância presente na pimenta. Essa fórmula atua dessensibilizando os nervos da mucosa nasal, o que reduz a reatividade exagerada aos estímulos. Estudos indicam que o uso desse tipo de spray pode proporcionar alívio dos sintomas em até 40% dos pacientes com rinite vasomotora.

Apesar dos resultados promissores, o produto ainda não está disponível no Brasil, o que limita seu uso. No entanto, é uma alternativa que deve ganhar espaço nos próximos anos, especialmente entre pacientes que não se adaptam aos tratamentos convencionais. O potencial da capsaicina reforça a importância de diferenciar corretamente o tipo de rinite para alcançar resultados reais no controle dos sintomas.
Como deve ser o tratamento ideal para quem sofre com rinite vasomotora?
O tratamento deve ser baseado em medidas que atuem diretamente na causa e nos sintomas. A lavagem nasal diária com soro fisiológico é o primeiro passo, ajudando a reduzir a inflamação e a manter a mucosa limpa. Em seguida, o uso de corticoides nasais pode controlar a obstrução e prevenir crises frequentes. Descongestionantes orais podem ser indicados por curtos períodos, sempre com acompanhamento médico.
Evitar gatilhos também é fundamental. Isso inclui fugir de locais com ar muito seco, cheiros fortes, fumaça e mudanças bruscas de temperatura. Em casos mais resistentes, pode-se considerar o uso de terapias mais modernas, como a capsaicina nasal, quando estiver disponível no país. O importante é tratar com individualidade, evitando soluções prontas e ineficazes.
Quais cuidados ajudam a prevenir crises no dia a dia?
Manter uma rotina de higiene nasal é uma das melhores formas de evitar crises. Usar umidificadores em ambientes secos, evitar exposição a perfumes e produtos químicos fortes e proteger-se de mudanças bruscas de temperatura são atitudes que ajudam bastante. Além disso, é essencial não se automedicar com antialérgicos sem recomendação, pois em casos de rinite vasomotora eles têm pouco efeito.
Outra dica importante é manter a hidratação, dormir bem e, sempre que possível, procurar um otorrinolaringologista para fazer o diagnóstico correto. Um tratamento bem indicado faz toda a diferença para melhorar a respiração, o sono e até o humor no dia a dia.
Fontes oficiais consultadas
- Sociedade Brasileira de Pediatria – IV Consenso Brasileiro sobre Rinites: www.sbp.com.br
- Organização Mundial da Saúde (OMS) – Diretrizes para doenças respiratórias crônicas: www.who.int
- Associação Brasileira de Alergia e Imunologia – Informações sobre rinite não alérgica: www.sbai.org.br
- Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica – Rinite vasomotora e terapias: www.spaic.pt