Para Eslen Delanogare, a ideia de que temos livre arbítrio absoluto é um mito. Segundo ele, cada escolha que fazemos é moldada por um conjunto de experiências passadas que formam “camadas” no cérebro. Essas vivências influenciam diretamente como reagimos diante de situações presentes, mesmo quando acreditamos estar decidindo de forma consciente.
A explicação envolve um conceito central na neurociência: redes neuronais formadas por memórias e emoções. Traumas, rejeições, relações interpessoais e até experiências intrauterinas moldam nossa forma de ver o mundo. Assim, boa parte das nossas ações é, na visão do especialista, uma resposta automática ao que já vivemos.
Como as experiências moldam nossas decisões?
De acordo com Eslen, vivências marcantes deixam registros profundos no cérebro, conhecidos como engramas. Se uma criança passa por rejeição dos pais, sofre bullying na escola ou enfrenta traições em relacionamentos, essas memórias podem se sobrepor e criar padrões de resposta emocional.
Esses padrões funcionam como filtros. Diante de um convite, desafio ou nova oportunidade, a mente recorre automaticamente a essas referências para decidir como agir. Muitas vezes, isso acontece sem que a pessoa perceba que está repetindo comportamentos influenciados por situações antigas.
O papel dos traumas na vida adulta
Experiências negativas na infância e adolescência têm potencial de alterar a forma como reagimos a frustrações, mudanças e relações interpessoais na vida adulta. Eslen destaca que não se trata de “culpa” das pessoas ou de terceiros, mas de condicionamentos que se formaram ao longo do tempo.

Um exemplo é quando alguém evita se aproximar de certas pessoas porque inconscientemente elas lembram figuras associadas a dor ou decepção no passado. Essa reação pode ocorrer de forma automática, sem uma análise racional consciente, justamente pela influência dessas “camadas” de vivência.
E a influência antes mesmo de nascer?
Eslen explica que até eventos ocorridos durante a gestação podem moldar respostas emocionais futuras. Isso acontece por meio da epigenética, mecanismo que altera a expressão dos genes a partir de fatores ambientais. Se a mãe enfrentou estresse intenso durante a gravidez, o bebê pode desenvolver uma predisposição maior a respostas de estresse na vida adulta.
Esse fator reforça a ideia de que muito do que somos e fazemos resulta da interação entre genética, ambiente e vivências, e que nossas decisões são, em grande parte, consequência de influências anteriores.
É possível mudar esses padrões?
Apesar de reconhecer que não controlamos totalmente nossas decisões, o especialista ressalta que é possível reprogramar padrões de resposta emocional. Terapias, autoconhecimento, práticas de atenção plena e mudanças no ambiente podem ajudar a criar novas conexões neuronais, diminuindo o impacto de traumas passados nas decisões presentes.
A chave está em identificar os gatilhos emocionais, compreender sua origem e aprender formas mais conscientes de lidar com eles. Assim, mesmo sem um “livre arbítrio absoluto”, é possível ampliar as possibilidades de escolha.
O que isso muda na forma de ver nossas decisões?
Entender que nossas escolhas são influenciadas por um histórico complexo de experiências não significa que estamos condenados a repetir padrões. Ao contrário, essa consciência pode ser o ponto de partida para mudanças significativas, já que nos permite agir de forma mais estratégica e menos impulsiva diante de situações desafiadoras.
Fontes oficiais consultadas:
- Organização Mundial da Saúde (OMS): www.who.int
- Ministério da Saúde (Brasil): www.gov.br/saude
- National Institute of Mental Health (NIMH): www.nimh.nih.gov