O uso contínuo de omeprazol, um dos medicamentos mais prescritos para azia e refluxo, pode parecer inofensivo à primeira vista. Porém, segundo alerta do Dr. Carlos Maurício, médico otorrinolaringologista, essa prática pode gerar efeitos colaterais graves quando realizada sem acompanhamento médico. De alterações nutricionais a riscos neurológicos, as consequências podem impactar significativamente a qualidade de vida.
Em um vídeo informativo publicado em seu perfil @drcarlos.otorrino, o especialista destaca os principais perigos do uso prolongado do remédio, como deficiência de vitamina B12, maior risco de fraturas ósseas, comprometimento renal e até uma possível associação com o desenvolvimento de demência. O alerta é claro: mesmo que o omeprazol seja eficaz, ele precisa ser usado com critério.
Por que o omeprazol pode causar deficiência de vitamina B12?
O omeprazol pertence à classe dos inibidores da bomba de prótons (IBPs), que reduzem a produção de ácido gástrico no estômago. O problema é que esse ácido é essencial para a absorção adequada da vitamina B12. Com o tempo, o uso contínuo do medicamento pode diminuir a absorção da vitamina, resultando em deficiência.

A vitamina B12 é fundamental para a função neurológica, formação de glóbulos vermelhos e manutenção da integridade do sistema nervoso. A carência pode levar a sintomas como fadiga, formigamento, perda de memória e até demência, especialmente em idosos. Segundo o NIH (National Institutes of Health), pacientes que utilizam IBPs por períodos superiores a dois anos têm maior risco de desenvolver deficiência de B12.
Qual é a relação entre omeprazol e demência?
Estudos recentes apontam uma possível correlação entre o uso prolongado de omeprazol e maior incidência de demência em idosos. Um dos mecanismos sugeridos é justamente a deficiência de B12, que pode comprometer a função cognitiva. Outro ponto é a alteração da microbiota intestinal, influenciada pelo desequilíbrio do pH gástrico provocado pelo medicamento.
Ainda que essa relação não seja completamente comprovada, a European Medicines Agency (EMA) e outras instituições reforçam que o uso crônico de IBPs deve ser avaliado com cautela, principalmente em pacientes com histórico familiar ou fatores de risco para doenças neurodegenerativas.
Pode afetar os ossos e rins também?
Sim. O uso crônico de omeprazol está associado ao aumento do risco de fraturas ósseas, principalmente de quadril, punho e coluna. Isso ocorre porque a redução de acidez estomacal pode comprometer a absorção de cálcio, mineral essencial para a saúde óssea. O FDA (Food and Drug Administration) dos EUA, inclusive, recomenda monitoramento em pessoas que utilizam o medicamento por longos períodos.
Além disso, há evidências de que o uso prolongado de omeprazol pode estar ligado a lesões renais, incluindo nefrite intersticial aguda e aumento do risco de doença renal crônica. A suspeita é que alterações inflamatórias causadas pelo fármaco comprometam a função renal, especialmente em idosos e pacientes com comorbidades.
O medicamento altera a flora intestinal?
De acordo com o Dr. Carlos Maurício, sim. O omeprazol modifica o ambiente ácido do estômago, o que pode favorecer o crescimento de bactérias resistentes e prejudiciais. Essa alteração da microbiota intestinal pode resultar em distúrbios digestivos, como inchaço, gases, diarreia, e até infecções intestinais mais graves, como Clostridium difficile, especialmente em ambientes hospitalares.
Esses efeitos são reconhecidos em revisões científicas da American Gastroenterological Association, que destaca o impacto dos IBPs sobre a diversidade bacteriana intestinal. Em longo prazo, isso pode comprometer a imunidade e a absorção de nutrientes.
Quando o uso do omeprazol é realmente necessário?
O omeprazol é eficaz e seguro quando utilizado da forma correta. Suas indicações incluem tratamento de refluxo gastroesofágico, úlceras gástricas, gastrite e uso preventivo em pacientes que tomam anti-inflamatórios por longos períodos. No entanto, o uso contínuo por meses ou anos sem reavaliação médica não é indicado.
Dr. Carlos reforça que qualquer tratamento prolongado com omeprazol deve ser acompanhado de perto por um profissional. Ajustes de dose, reavaliações periódicas e exames laboratoriais são importantes para evitar as complicações descritas. Além disso, alternativas como mudanças na dieta, elevação da cabeceira da cama e controle do peso corporal também devem ser consideradas.
Fontes oficiais utilizadas neste artigo
- Ministério da Saúde: www.gov.br/saude
- NIH – National Institutes of Health: www.nih.gov
- FDA – Food and Drug Administration: www.fda.gov
- European Medicines Agency – EMA: www.ema.europa.eu
- American Gastroenterological Association: www.gastro.org
O omeprazol, como qualquer medicamento, não é vilão, mas seu uso prolongado e sem acompanhamento pode trazer riscos importantes à saúde. Se você ou alguém da sua família faz uso contínuo, procure orientação médica para reavaliar a real necessidade. Cuidar da sua saúde começa por entender o impacto do que você consome todos os dias.