Recentemente, a Petrobras tomou uma decisão estratégica que marca seu retorno ao mercado de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), comumente conhecido como gás de cozinha. Essa decisão reflete uma mudança na estratégia da empresa que, durante a administração anterior, sob a presidência de Jair Bolsonaro, optou por privatizar a Liquigás em um esforço para reduzir dívidas e concentrar-se na exploração de petróleo em águas profundas. A venda da Liquigás ocorreu em 2020, destacando uma reestruturação focada na otimização dos investimentos no portfólio da companhia.
A decisão atual da Petrobras surge em um contexto onde há insatisfação geral, incluindo do governo, quanto aos preços altos do botijão de gás aos consumidores finais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante um evento em 2025, destacou essa insatisfação, evidenciando a discrepância entre o custo de produção e o preço final ao consumidor. Essa preocupação não é isolada, já que a Federação Única dos Petroleiros (FUP) também expressou seu apoio à decisão de retorno ao mercado de GLP, destacando a falta de repasse dos benefícios de custo ao consumidor por parte dos distribuidores.
O que significa o retorno da Petrobras ao mercado de GLP?

Com o retorno ao setor de distribuição de gás, a Petrobras pretende ampliar seu escopo de atuação e fortalecer sua presença em um cenário onde os preços ao consumidor final têm se mostrado problemáticos. No passado, a Liquigás, sob gestão da Petrobras, possuía uma presença robusta em todo o território brasileiro, com centros de operação e uma vasta rede de revendedores autorizados. Aproveitar essa expertise pode permitir que a Petrobras ajude a estabilizar ou reduzir os preços para o consumidor final.
A empresa também espera contribuir para o aumento da transparência no setor, tornando mais visíveis os custos associados ao GLP e, assim, estimulando uma precificação mais justa para o consumidor. A entrada de um grande player estatal pode influenciar práticas comerciais e aumentar a pressão competitiva sobre as empresas privadas que dominaram o setor nos últimos anos.
Como o mercado reagirá a essa mudança?
A expectativa é que a entrada da Petrobras nesse segmento resulte em uma competitividade renovada, podendo estimular também um ajuste nos preços praticados pelas atuais distribuidoras de GLP. Contudo, ainda não está claro se a Petrobras planeja adotar uma abordagem direta ao lançar um serviço de entrega de botijão ao consumidor final ou se utilizará intermediários para essa distribuição. Tal decisão poderá impactar as formas como os consumidores adquirem gás de cozinha e, consequentemente, influenciar o preço final que pagam.
Além disso, especialistas apontam que o impacto pode se sentir especialmente nas regiões mais remotas, onde o preço do gás costuma ser ainda mais elevado devido à logística. A atuação da Petrobras nessas áreas pode aumentar a oferta, reduzir preços e até motivar melhorias em infraestrutura e serviços no setor de distribuição de GLP.
Quais os desafios operacionais do retorno ao mercado de GLP?
Apesar do potencial positivo, o retorno ao mercado de GLP não é isento de desafios operacionais significativos. A Petrobras precisará reconstruir parte das estruturas de distribuição e logísticas que foram desmobilizadas desde a venda da Liquigás, readquirindo equipamentos e estabelecendo uma rede de revendedores eficiente pelo país.
Outro desafio relevante envolve o relacionamento com distribuidores e revendedores locais, que atualmente dominam as rotas e canais de vendas regionais. Para garantir uma atuação efetiva, a Petrobras precisará negociar parcerias e estabelecer novos acordos comerciais que garantam eficiência e competitividade nos preços ao consumidor.
Impacto para o consumidor e para o preço do gás de cozinha
O grande objetivo do retorno da Petrobras ao mercado de GLP é tornar o preço do botijão de gás mais acessível para a população, especialmente para as camadas mais vulneráveis da sociedade. Ao aumentar a concorrência, há potencial para redução dos preços e novas opções de fornecimento para os consumidores finais.
Essa estratégia pode se refletir também no fortalecimento de políticas sociais, já que o custo do gás de cozinha impacta diretamente o orçamento doméstico de milhões de brasileiros. Assim, com a atuação estatal, espera-se um alinhamento entre a lógica de mercado e a responsabilidade social da empresa.
A Petrobras deve expandir sua atuação também para a distribuição de gasolina?
Embora a Petrobras tenha retomado parte de suas atividades no setor de GLP, a questão da distribuição direta de gasolina permanece sem alteração significativa. A venda anterior de sua participação na BR Distribuidora para a Vibra Energia incluiu restrições que impedem a Petrobras de competir diretamente nesse mercado até 2029. No entanto, a empresa já sinalizou uma intenção de reavaliar essa estratégia de marca após o término do acordo, o que pode modificar a paisagem competitiva no futuro. Enquanto isso, a Petrobras mantém seu papel de fornecedora de combustível para o mercado.
Caso a política da Petrobras mude após 2029, uma possível reentrada no segmento de distribuição de combustíveis líquidos poderá afetar fortemente a estrutura de mercado, promovendo ainda mais concorrência e possíveis ganhos para os consumidores em relação à gasolina e ao diesel, segmentos historicamente sensíveis a oscilações de preço.
Perspectivas futuras para a atuação da Petrobras no mercado de energia
Simultaneamente à decisão sobre o GLP, a Petrobras também informou resultados financeiros robustos no segundo trimestre de 2025, com um lucro líquido considerável e distribuição de dividendos para os acionistas, incluindo uma parcela significativa destinada ao governo federal. Essas atitudes reforçam o compromisso da empresa com seus objetivos financeiros e a continuidade de sua contribuição econômica para o país.
No longo prazo, a Petrobras poderá expandir sua atuação para novas áreas do mercado de energia, aproveitando tendências como a transição energética, biocombustíveis e infraestrutura para gás natural. O retorno ao mercado de GLP pode servir como pontapé inicial para uma atuação mais diversificada, voltada não apenas à rentabilidade, mas também ao fortalecimento da segurança energética nacional.