A Dra. Tamires Mariano, neurologista infantil (CRM 21354-CE RQE 12337), explica que, até os cinco anos, o cérebro da criança está em uma fase crucial de desenvolvimento, formando as bases da linguagem, atenção e regulação emocional. Nesse período, a qualidade dos estímulos auditivos influencia diretamente a organização neurológica.
Apesar de algumas músicas infantis parecerem inofensivas ou divertidas, elas podem trazer efeitos negativos quando têm letras repetitivas, batidas aceleradas e ritmos excessivamente estimulantes. Entender esse impacto é essencial para que pais e cuidadores façam escolhas sonoras mais saudáveis para as crianças.
Por que o cérebro infantil é tão sensível aos sons nos primeiros anos?
Nos primeiros cinco anos de vida, o cérebro infantil apresenta alta plasticidade, ou seja, capacidade de criar e reorganizar conexões neurais rapidamente. Essa característica, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), torna o aprendizado intenso, mas também aumenta a vulnerabilidade a estímulos inadequados.
Quando exposto de forma repetitiva a músicas com ritmos muito acelerados ou letras sem conteúdo construtivo, o cérebro pode priorizar reações motoras e emocionais rápidas, prejudicando a formação de habilidades cognitivas mais complexas, como interpretação de linguagem e foco atencional.
Quais músicas a Dra. Tamires Mariano não recomenda antes dos cinco anos?
A especialista cita exemplos populares que devem ser evitados nessa fase: o “funk do patinho” e outros funks infantis de ritmo agressivo e letras pobres; remixes acelerados de músicas como “Baby Shark”, que dobram ou triplicam a velocidade original; e canções sertanejas como “Nosso Quadro”, de Ana Castela, que abordam temas emocionais complexos, como rejeição e ciúmes.

Esses estilos, segundo a neurologista, podem gerar agitação, impulsividade e dificuldade de concentração, além de expor a criança a conteúdos emocionais para os quais ela ainda não está preparada.
Como músicas aceleradas afetam atenção e comportamento?
O ritmo acelerado e repetitivo estimula o sistema nervoso de forma intensa, provocando respostas motoras e emocionais rápidas, mas pouco aprofundadas. Em crianças pequenas, isso pode levar à dificuldade de permanecer em atividades que exigem foco prolongado.
De acordo com estudos sobre processamento auditivo infantil, sons muito rápidos ou desorganizados tendem a sobrecarregar o córtex auditivo, dificultando a interpretação da letra e reduzindo o tempo de atenção voluntária.
Qual o impacto de letras emocionalmente complexas em crianças?
Músicas com conteúdo de rejeição, ciúme ou tristeza podem parecer inofensivas quando embaladas por melodias suaves, mas introduzem conceitos que a criança ainda não consegue compreender ou processar emocionalmente.
A exposição precoce a temas adultos pode interferir na formação das respostas emocionais e afetivas, além de gerar associações negativas com determinadas situações. Por isso, a recomendação é optar por letras simples, positivas e compatíveis com o estágio de desenvolvimento.
Quais alternativas sonoras são mais indicadas para essa fase?
A Dra. Tamires orienta que músicas calmas, com letras educativas e ritmos moderados, são ideais para favorecer a linguagem, a criatividade e a autorregulação emocional. Sons da natureza, canções de ninar, músicas folclóricas e composições infantis com vocabulário rico ajudam a estimular a imaginação e a interação social.
Também é importante que a criança tenha momentos de silêncio, que auxiliam na organização sensorial e no descanso neurológico.
Fontes oficiais
- Organização Mundial da Saúde (OMS) – www.who.int
- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) – www.sbp.com.br
- Ministério da Saúde – www.gov.br/saude