O café, uma das bebidas mais consumidas no Brasil e no mundo, tem passado por diferentes oscilações em seus preços nos últimos anos, impactando desde produtores até consumidores. Em julho de 2025, um dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sinalizou uma ligeira queda, inédita após um longo período de aumentos expressivos. O contexto econômico, os desafios climáticos e as pressões do mercado externo contribuem para esse panorama dinâmico, tornando o cenário do café ainda mais desafiador e interessante para os próximos meses.
Evolução recente dos preços do café

Em julho de 2025, o IBGE reportou pelo IPCA uma redução de 1,01% no valor do café moído, quebrando uma sequência de 18 meses de elevação quase contínua. Ao longo desses meses, o preço chegou a dobrar, com uma alta acumulada em 12 meses de 70,51%. Essa variação demonstra a sensibilidade do setor cafeeiro às oscilações tanto internas quanto externas.
Além disso, vale lembrar que as flutuações periódicas nos preços são bastante comuns, afetando desde o consumidor final até grandes exportadores. O aumento nas exportações, a variação da demanda internacional e os custos de produção são fatores que influenciam diretamente esses resultados.
A recuperação gradual dos estoques globais tem sido outro fator que, a médio prazo, pode estabilizar ou até pressionar levemente para baixo o preço do café.
Impacto da safra e dinâmica de oferta
Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IBGE, atribui a recente queda de preços ao início da safra, que aumentou a oferta do café no mercado e aliviou a pressão da demanda. Com a chegada da colheita, a oferta tende a superar a demanda sazonal, causando uma acomodação natural nos preços ao consumidor.
Esse movimento mostra a importância dos ciclos agrícolas para a economia do café no Brasil, país referência no cultivo e exportação da bebida. O ritmo das colheitas, aliás, dita boa parte da estabilidade ou instabilidade do setor ao longo do ano.
Além da influência direta nas prateleiras, o aumento da oferta durante as safras também contribui para a formação de reservas estratégicas, essenciais em anos de produção abaixo da média.
Influência das tarifas internacionais no setor cafeeiro
A discussão sobre tarifas internacionais, principalmente dos Estados Unidos, ganhou força em 2025. Gonçalves destaca que as novas tarifas de 50% sobre determinados produtos brasileiros, incluindo o café, só passaram a valer em agosto, não impactando diretamente a queda registrada em julho.
Porém, existe uma preocupação em relação ao impacto futuro: as tarifas podem dificultar as exportações e elevar os custos aos importadores americanos, potencialmente reduzindo a competitividade do café brasileiro nesse mercado estratégico.
Se confirmados, esses impactos podem levar à busca por novos parceiros comerciais ou a estratégias para fortalecer o consumo interno no Brasil.
- Dificuldade de acesso a mercados tradicionais como os Estados Unidos
- Necessidade de diversificação dos destinos de exportação
- Possível readequação logística e comercial pelas exportadoras brasileiras
Principais fatores que pressionaram a alta dos preços
Antes da redução, os preços do café vinham em ascensão por motivos climáticos e de demanda global. Secas, geadas e outros eventos extremos afetaram negativamente a produção, reduzindo a oferta mundial e elevando o preço do produto.
Por outro lado, a crescente demanda internacional, sobretudo puxada por mercados emergentes como a China, impulsionou o consumo e ampliou a competição por estoques limitados, tencionando ainda mais os valores praticados no mercado.
Além desses fatores, outros elementos têm papel fundamental na formação dos preços:
- Oscilações cambiais, que afetam a competitividade do café brasileiro
- Aumento dos custos de produção, como fertilizantes e mão de obra
- Ampliação de novos mercados consumidores fora do eixo EUA-Europa
Perspectivas futuras para o mercado de café
A tendência dos próximos meses é de volatilidade, já que fatores como clima, oscilações cambiais e medidas protecionistas podem afetar tanto a produção quanto o escoamento internacional do café brasileiro. A reação dos produtores a possíveis quedas na demanda externa também pode impactar o volume destinado ao mercado interno.
Se a aplicação das tarifas se consolidar, é esperado um movimento de busca por novos mercados em países asiáticos, africanos e árabes, o que pode reconfigurar a geografia da exportação de café do Brasil.
O futuro do setor exigirá maior organização, inovação e adaptação rápida dos produtores e exportadores diante das pressões internacionais e dos desafios climáticos recorrentes.
O café entre economia, clima e políticas globais
A interligação entre fatores econômicos, mudanças climáticas e decisões políticas globais coloca o setor cafeeiro diante de incertezas e oportunidades. O café segue como um termômetro das transformações que afetam o Brasil e o mundo.
É fundamental que todos os elos da cadeia produtiva estejam atentos a novidades tecnológicas, práticas sustentáveis e movimentos do mercado internacional para garantir não apenas a rentabilidade, mas a sobrevivência do setor em longo prazo.
Consumidores e produtores, diante desse cenário, devem se preparar para um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico e sujeito a novas realidades globais.