A recente medida provisória (MP) lançada pelo governo em 2025 trouxe mudanças significativas na concessão do auxílio-doença no Brasil, regulado pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O principal ajuste introduzido foi a limitação dos benefícios concedidos apenas com base em atestados médicos a um máximo de 30 dias. Esse ajuste impõe que períodos mais extensos de auxílio-doença deverão passar por uma perícia médica presencial ou, alternativamente, serem avaliados através de telemedicina.
Essa MP surgiu em meio a um contexto de reajustes fiscais, motivados pela necessidade de compensar a alta do IOF. Originalmente, a expectativa do governo era arrecadar cerca de R$ 61 bilhões ao longo de dois anos, como anunciado no decreto do final de maio de 2025. Essa medida gerou descontentamento em diversos setores, incluindo o Congresso Nacional e o mercado privado, impulsionando o Executivo a buscar alternativas em cooperação com o Legislativo.
Como as mudanças no auxílio-doença afetam os beneficiários?

Para os beneficiários do auxílio-doença, a principal mudança está na revisão do processo de concessão quando a duração do benefício excede 30 dias. Anteriormente baseado exclusivamente em documentação médica, agora é necessário realizar uma perícia médica, seja de maneira presencial ou virtual. Essa alteração busca garantir a autenticidade e necessidade do afastamento prolongado, trazendo, por um lado, maior rigor ao processo, mas, por outro, possíveis desafios logísticos para os beneficiários.
Muitos segurados, especialmente aqueles residentes em áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos, relataram preocupação com o acesso à perícia presencial. Assim, expandiu-se a possibilidade de perícia via telemedicina, uma tentativa de facilitar o acesso e reduzir deslocamentos, mas que ainda depende amplamente da infraestrutura tecnológica disponível em diferentes regiões do país.
Quais impactos a nova MP teve na arrecadação e economia?
A medida provisória impacta diretamente a arrecadação econômica do país, especialmente ao revisar impostos e benefícios associados a produtos financeiros como Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Letras de Crédito Imobiliário (LCI), que perderam isenções fiscais. A arrecadação esperada com o aumento do IOF promete um influxo considerável nas finanças públicas, mas enfrenta críticas pela possível desaceleração de investimentos em áreas chave.
Por outro lado, especialistas apontam que o aumento da arrecadação pode, a longo prazo, ser revertido em maior capacidade de investimento estatal em saúde, previdência e infraestrutura. Contudo, ainda há preocupação dos investidores quanto à previsibilidade das regras fiscais, algo indispensável para o fortalecimento do ambiente de negócios brasileiro.
De que forma o mercado reagiu às alterações no IOF?
O mercado financeiro reagiu inicialmente com cautela e certa resistência aos aumentos no IOF. Essa resposta reflete as preocupações com o custo crescente de operações financeiras e investimentos em setores agrário e imobiliário, áreas anteriormente beneficiadas por isenções fiscais. As negociações entre o governo e líderes legislativos para minimizar impactos negativos continuaram a ser um tema central enquanto a MP avança para sua aprovação definitiva.
Apesar do cenário de incertezas, alguns analistas afirmam que o ambiente tende à estabilização à medida que empresas e investidores se adaptam ao novo quadro fiscal. A atenção permanece voltada para eventuais ajustes que possam ser implementados no Congresso e para eventuais compensações a setores mais afetados pelas mudanças.
Desafios logísticos e tecnológicos para a perícia médica
A implementação da perícia presencial e da telemedicina enfrenta desafios consideráveis no Brasil, em virtude das desigualdades regionais em infraestrutura de saúde e conectividade digital. Grandes centros urbanos tendem a se adaptar mais rapidamente, porém cidades pequenas e zonas rurais dependem de investimentos para garantir a efetividade desses novos mecanismos.
O governo federal anunciou planos de investimento em tecnologia e capacitação de profissionais para ampliar a oferta de perícias virtuais. Contudo, associações de médicos e representantes de usuários do INSS defendem que a adaptação demanda tempo e acompanhamento, para que nenhum beneficiário sofra prejuízos injustificados no acesso ao auxílio-doença.
Reações do Congresso e discussões futuras
A MP gerou intenso debate no Congresso Nacional, com parlamentares questionando tanto a necessidade das restrições ao auxílio-doença quanto o aumento do IOF. Grupos de oposição defendem maior proteção aos trabalhadores em situação de vulnerabilidade e sugerem alternativas menos onerosas para a arrecadação federal.
O texto segue em tramitação, e emendas já foram apresentadas para garantir flexibilidade em casos especiais, como doenças graves e crônicas. A participação ativa do Legislativo no debate demonstra a complexidade do tema para a sociedade brasileira e pode resultar em ajustes antes da versão definitiva da lei.
Perspectivas para a política fiscal e o ambiente de investimentos
Em essência, o cenário atual exige uma navegação cuidadosa entre a necessidade do governo de incrementar arrecadações e a importância de manter um ambiente econômico estável e atrativo para investidores. O equilíbrio entre as novas regulamentações e o incentivo aos setores econômicos continua a ser uma prioridade para a política fiscal brasileira ao longo dos próximos anos.
No médio prazo, o sucesso das medidas dependerá da eficácia da gestão pública em aplicar os recursos arrecadados de maneira sustentável. O acompanhamento constante dessas mudanças será vital para proteger direitos dos beneficiários e garantir competitividade do mercado, contemplando os interesses sociais e econômicos do país.