A situação financeira dos brasileiros chama a atenção pela alta porcentagem de renda destinada ao pagamento de dívidas. Um estudo recente da Serasa Experian revela que, em média, 70,5% da renda dos consumidores no país está comprometida com contas diversas, como faturas de cartão de crédito e contas de serviços essenciais. Isso deixa disponível apenas cerca de R$ 968 mensais para outras despesas. O levantamento busca entender a capacidade de pagamento do consumidor, oferecendo uma visão clara sobre o endividamento nacional.
O comprometimento da renda é particularmente mais expressivo entre aqueles com rendimentos mais baixos. Para os que recebem até um salário mínimo, aproximadamente R$ 1.804, essa proporção sobe para 90,1%. Isso significa que restam cerca de R$ 120 disponíveis após o cumprimento das obrigações financeiras mensais. Para aqueles que ganham dois salários mínimos, 79,4% da renda está comprometida, enquanto para três salários mínimos, a porcentagem cai para 71,1%, deixando R$ 410 e R$ 1.056 livres, respectivamente.
Como a renda comprometida afeta o consumo no Brasil?

O impacto da elevada proporção de renda comprometida reflete diretamente na capacidade de consumo das famílias brasileiras. Quando a maior parte do salário é destinada a pagamentos de dívidas e contas fixas, sobra pouco espaço para gastos discricionários, que impulsionam setores como varejo e serviços. Esse cenário contribui para uma retração no mercado interno, já que o consumo é um dos pilares do crescimento econômico sustentado.
Além disso, o cenário de consumo limitado afeta negativamente a confiança do consumidor, levando à redução de investimentos em itens duráveis, lazer e educação. Com menos circulação de dinheiro, há prejuízo também para pequenas e médias empresas, responsáveis por parte significativa da geração de empregos e do dinamismo econômico brasileiro.
Quais são as tendências recorrentes na redução do comprometimento de renda?
O estudo da Serasa Experian indica uma leve tendência de queda na porcentagem de renda comprometida ao longo dos anos. Em 2022, essa taxa estava em 72,3%, passando para 72% em 2023 e 70,9% em 2024. Especialistas, como Eduardo Mônaco, apontam que essa redução pode ser atribuição do mercado de trabalho mais dinâmico e às políticas para estímulo de renda, que apesar das melhorias, ainda não são suficientes para frear o aumento da inadimplência, que afeta cerca de 77,8 milhões de brasileiros.
Mesmo com essa discreta melhora, o acesso ao crédito permanece restrito para parte da população, especialmente para pessoas com histórico de inadimplência. Ademais, programas de renegociação de dívidas e campanhas de educação financeira são consideradas alternativas relevantes, mas ainda precisam de maior alcance e efetividade.
Efeitos do alto endividamento nas famílias brasileiras
O alto nível de endividamento impacta o bem-estar das famílias, causando estresse financeiro, dificuldades no planejamento de longo prazo e até mesmo conflitos familiares. Muitas famílias acabam recorrendo a empréstimos com juros elevados para cobrir necessidades básicas, agravando ainda mais o comprometimento de renda.
Esses problemas geram riscos para a saúde mental da população, já que o medo constante de perda de bens, corte de serviços essenciais e limitações no acesso à educação e lazer impactam diretamente a qualidade de vida e as futuras oportunidades desses grupos.
Educação financeira como ferramenta de mudança
Uma das principais estratégias para enfrentar o endividamento crônico no país é investir em educação financeira para todas as faixas etárias. Escolas, empresas e políticas públicas podem promover cursos e campanhas para ensinar conceitos de orçamento, poupança e uso responsável do crédito, prevenindo o sobre-endividamento.
Nos últimos anos, há avanços como a inclusão de temas de educação financeira no currículo escolar. Entretanto, é fundamental expandir as iniciativas para a população adulta, especialmente para os grupos mais vulneráveis, tornando a informação acessível e relevante para a realidade financeira de cada cidadão.
Políticas públicas e alternativas para reduzir o endividamento
O governo tem papel fundamental ao criar políticas que facilitem a renegociação de dívidas, ofereçam linhas de crédito com juros mais baixos e protejam os consumidores de práticas abusivas. Além disso, incentivos fiscais e programas de geração de emprego e renda são essenciais para ampliar a renda disponível e diminuir o comprometimento financeiro das famílias.
Outra alternativa é fortalecer instituições de apoio, como serviços de atendimento ao consumidor e órgãos de proteção ao crédito, ampliando o diálogo entre credores e devedores para soluções mais justas e acessíveis, possibilitando um ambiente econômico mais equilibrado.
Quais são as implicações do endividamento para o futuro?
Mesmo com uma queda progressiva no comprometimento de renda, o nível elevado de inadimplência no Brasil sinaliza para desafios estruturais na economia doméstica. Com quatro em cada dez pessoas em situação de inadimplência, é fundamental repensar as estratégias de educação financeira e adoção de políticas públicas para mitigar riscos de instabilidade financeira. A médio e longo prazos, o fortalecimento do mercado de crédito e o aumento da renda disponível podem viabilizar um cenário mais sustentável para o consumo e crescimento econômico.
Essas informações, extraídas do estudo de janeiro de 2025, oferecem uma visão abrangente das estratégias necessárias para lidar com o endividamento e estimular uma economia mais equilibrada no país. Com o comprometimento de renda moldando o padrão de consumo, há uma necessidade crescente de reformas que incentivem um planejamento financeiro mais robusto e acessível.