O Supremo Tribunal Federal (STF) avançou em uma decisão significativa relacionada ao apoio às mulheres vítimas de violência doméstica. A discussão no tribunal gira em torno da determinação de que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) forneça um benefício temporário semelhante ao auxílio-doença para aquelas que necessitam se afastar de suas atividades laborais. Este julgamento surge após uma trabalhadora do Paraná garantir esse direito em uma decisão da segunda instância da Justiça Federal, que foi contestada pelo INSS.
A Lei Maria da Penha assegura que as vítimas de violência doméstica possam se afastar do trabalho, mantendo seus salários por até seis meses. No entanto, o INSS tem argumentado que a legislação não prevê explicitamente que a instituição deva arcar com este pagamento. O juiz responsável inicialmente decidiu a favor da trabalhadora, assegurando que o benefício fosse pago, o que agora é corroborado pela maioria dos ministros do STF. O relator do caso, ministro Flávio Dino, enfatizou a necessidade de proteger as mulheres vítimas de violência através da aplicação de medidas previstas na Lei Maria da Penha.
Papel do INSS no amparo às vítimas

O INSS foi colocado no centro dessa discussão devido à sua função de amparar trabalhadores em situações de afastamento temporário. Pelo entendimento da maioria do STF, a Previdência Social deve atuar para garantir que essas medidas de proteção sejam cumpridas. Isso inclui a possibilidade de ressarcimento dos valores pagos através de ações judiciais contra os responsáveis pela violência. A decisão reforça o dever da União em assegurar a eficácia imediata das medidas protetivas estipuladas pela Lei Maria da Penha.
Com essa decisão, o INSS passa a ter responsabilidade direta em assegurar que as trabalhadoras não fiquem desprotegidas economicamente ao se afastarem do ambiente laboral por motivo de violência doméstica. Ao mesmo tempo, a decisão destaca a importância do sistema de proteção social brasileiro em situações emergenciais, ampliando a visão de assistência social ao considerar as múltiplas vulnerabilidades enfrentadas pelas mulheres.
Garantias e direitos assegurados pela legislação
A legislação, conforme destacada na Lei Maria da Penha, oferece várias proteções para mulheres em situações de violência doméstica. Entretanto, a questão do pagamento pelo INSS de um benefício análogo ao auxílio-doença está sendo definida por estas decisões recentes do STF. Os ministros argumentam que além da remuneração, é essencial que a contagem do tempo de serviço e outras obrigações trabalhistas sejam mantidas durante o afastamento, prevenindo assim que as vítimas sejam duplamente afetadas pela situação de violência que enfrentam.
- Proteção salarial: As trabalhadoras podem manter seus salários por até seis meses.
- Continuidade de direitos: Recolhimento fundiário e previdenciário devem ser mantidos.
- Efetividade das medidas protetivas: Garantia da aplicação das proteções estipuladas pela lei.
Essas garantias são essenciais para que a mulher tenha condições reais de reconstrução de sua vida pessoal e profissional. Além disso, manter os direitos trabalhistas e previdenciários intactos evita que a vítima sofra consequências ainda maiores, como dificuldades futuras para aposentadoria ou acesso a outros benefícios sociais.
Impacto social da decisão do STF
O julgamento do STF representa um avanço no reconhecimento do impacto social da violência de gênero sobre a vida das mulheres, especialmente no âmbito laboral e econômico. A partir desta decisão, fica mais claro o entendimento de que o Estado deve ser proativo não apenas no combate à violência, mas também no apoio efetivo à recuperação e reintegração da vítima à sociedade.
Além de auxiliar financeiramente, a medida pode encorajar mais mulheres a denunciarem situações de violência, pois reduz a insegurança sobre sustento e direitos. Essa atuação do STF poderá servir como estímulo para a criação de outras políticas públicas específicas voltadas para a proteção e autonomia das mulheres em situação de vulnerabilidade.
Desafios para a implementação da medida
Apesar do avanço, a implementação efetiva dessa determinação ainda enfrentará desafios práticos. Um dos principais pontos é a adaptação dos procedimentos do INSS para contemplar o novo benefício, exigindo a atualização de normativas internas e capacitação dos servidores para lidar com situações delicadas de violência doméstica.
Outro desafio está relacionado à fiscalização e garantia de que todas as vítimas realmente consigam acessar o direito, visto que ainda existem barreiras culturais e institucionais para a denúncia e reconhecimento da violência doméstica no país. Dessa maneira, será fundamental acompanhar de perto a aplicação da medida para evitar fraudes e assegurar que o benefício chegue a quem realmente precisa.
Possibilidade de ressarcimento e responsabilidades legais
Uma novidade desse debate é a abertura para que a Previdência Social busque o ressarcimento dos valores pagos por meio de ações judiciais contra os agressores, responsabilizando civilmente quem praticou a violência. Essa perspectiva coloca na conta dos responsáveis diretos parte dos custos sociais gerados pela violência doméstica.
Ao incluir essa possibilidade de ressarcimento, a decisão do STF sinaliza que ações nocivas à sociedade não devem sobrecarregar apenas o poder público e a coletividade, mas também os próprios perpetradores da violência, criando um efeito pedagógico e de justiça reparadora.
Implicações futuras e fortalecimento das políticas de proteção
Até o momento, a decisão reúne uma maioria de votos favoráveis entre os ministros do STF, refletindo um esforço concreto em legislar em favor de uma proteção mais robusta para as mulheres vítimas de violência doméstica. Essa decisão significa que, futuramente, a União poderá ser acionada para garantir que mulheres em situação de vulnerabilidade não sejam desfavorecidas financeiramente quando decidirem se afastar do trabalho para sua proteção pessoal.
Este movimento jurídico não apenas fortalece a proteção das mulheres, mas também estabelece um precedente importante sobre como as leis de proteção devem ser interpretadas no país, especialmente em situações em que há lacunas ou ambiguidades. O reconhecimento da necessidade de um suporte financeiro adicional para essas mulheres é um passo vital para assegurar que as vítimas de violência possam encontrar refúgio sem receio de perder estabilidade financeira.