O corpo humano, descrito por Asun González como “um saco de bichos”, guarda complexas interações microbiológicas que são fundamentais para a saúde geral. A microbiota, que consiste em trilhões de microrganismos presentes em nosso intestino, desempenha um papel vital em nossa digestão, sistema imunológico e até mesmo na saúde mental. No entendimento de González, autora de Tú también tienes SIBO, respeitar o relógio biológico de nossa microbiota é crucial para manter o equilíbrio saudável do corpo. Pesquisas recentes de universidades como Harvard e Universidade de São Paulo destacam que alterações na microbiota podem inclusive influenciar doenças metabólicas, como diabetes e obesidade.
Para preservar o equilíbrio microbiológico, nossa alimentação deve seguir padrões que respeitem os ritmos naturais. González sugere que o ideal seria iniciar o dia com o café da manhã às nove horas e antecipar o jantar para as quatro horas. Esse horário ajustado, embora improvável em muitos países, pode promover um melhor funcionamento microbiano, ajudando a evitar problemas digestivos como inchaço e gases, sintomas frequentemente atribuídos à descompensação conhecida como SIBO (Supercrescimento Bacteriano no Intestino Delgado). Estudos apresentados no Congresso Europeu de Gastroenterologia 2023 também salientam a relação entre horário das refeições e saúde intestinal.
O que é SIBO e como afeta a saúde?
O SIBO, ao contrário de uma infecção, refere-se a um desequilíbrio onde há um crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado. Embora não seja uma condição rara, pode passar despercebida, já que muitos dos sintomas, como hinchazón e desconforto abdominal, são frequentemente normalizados. A prevalência de sintomas digestivos em cerca de 80% da população sugere que os ritmos modernos de vida e alimentação podem estar descompensando nossa microbiota natural. Conforme apontado por estudos do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, a identificação precoce dos sintomas é fundamental para evitar complicações a longo prazo.

Quais hábitos alimentares são recomendados para um intestino saudável?
Asun González defende uma dieta simples, mas rica em peixes, vegetais e água, elementos centrais de uma base pesco-mediterrânea. Incorporar o jejum intermitente sincronizado com os ritmos solares pode ajudar a dar ao sistema digestivo e à microbiota tempo para se regenerar, reduzir inflamações e promover a saúde geral. Isso evita a necessidade de dietas complexas e difíceis de seguir, que muitas vezes são insustentáveis a longo prazo. Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde, esse tipo de alimentação potencializa a diversidade da microbiota, reduzindo o risco de doenças inflamatórias.
Como probióticos e prebióticos influenciam a microbiota?
Probióticos e prebióticos são frequentemente referidos como o abono necessário para o “jardim intestinal”. Eles ajudam na manutenção de bactérias benéficas no intestino. No entanto, a escolha das cepas deve ser cuidadosa e combinada com uma dieta apropriada para ser eficaz. González lembra que suplementos não supervisionados podem ser uma armadilha, enfatizando a importância de entender as necessidades individuais e evitar escolhas aleatórias. Diversas marcas como Nestlé Health Science e Yakult investem em pesquisas para aprimorar formulações e dosagens, mas a orientação de um especialista é indispensável.
De que forma a microbiota se conecta a outros sistemas do corpo?
A saúde intestinal transcende a digestão. A conexão entre o intestino e outros sistemas, como o cérebro, a pele, e o sistema imunológico, destaca a importância de se olhar para a saúde de forma abrangente. Condições como eczemas ou fadiga podem ter suas raízes em uma microbiota desequilibrada. Reconhecer e ajustar práticas modernas, que muitas vezes negligenciam os ritmos naturais, é crucial para manter os “velhos amigos” microbianos em boa saúde. Ao evitar alimentos ultraprocessados, aumentar a qualidade do sono e promover um estilo de vida menos sedentário, é possível favorecer o ecossistema interno que tanto influencia nosso bem-estar. Recentemente, trabalhos publicados na Nature demonstraram que intervenções simples no dia a dia, como caminhar ao ar livre em parques urbanos, também podem beneficiar a microbiota através da exposição a uma maior variedade de microrganismos ambientais.