A condição financeira dos brasileiros revela-se preocupante à medida que mais de dois terços de suas rendas estão comprometidos com contas e dívidas. Segundo dados recentes da Serasa Experian, os consumidores têm, em média, 70,5% de sua renda destinada ao pagamento de diversas despesas, como faturas de cartão de crédito e serviços essenciais, restando cerca de R$ 968 mensais para outras necessidades. Este cenário reflete uma capacidade de pagamento limitada, o que representa um desafio significativo para muitos.
Indivíduos que recebem até um salário mínimo enfrentam restrições ainda maiores, com 90,1% de sua renda comprometida. Isto deixa apenas R$ 120 livres para o restante do mês, evidenciando a dificuldade enfrentada por aqueles de menor renda. Para quem ganha dois salários mínimos, a situação é ligeiramente melhor, mas ainda assim preocupante, com 79,4% da renda comprometida. Para esses grupos, a manobra do orçamento é uma constante preocupação do cotidiano.
Quais fatores influenciam a capacidade de pagamento dos brasileiros?

Vários fatores contribuem para essa alta porcentagem de comprometimento de renda, incluindo o custo crescente de vida, com aumentos nos preços de bens e serviços essenciais, que pressionam os orçamentos familiares. Além disso, o mercado de trabalho, embora aquecido, nem sempre proporciona salários que acompanham essa elevação de custos. Ainda que políticas de estímulo à renda tenham sido implementadas, como mencionado por Eduardo Mônaco, Vice-Presidente da Serasa Experian, os ganhos adicionais muitas vezes não são suficientes para reverter o aumento da inadimplência.
Questões como o aumento das tarifas de energia, combustíveis e alimentos influenciam diretamente no orçamento das famílias. Ao mesmo tempo, a falta de acesso à educação financeira faz com que muitos consumidores desconheçam mecanismos de controle de gastos, o que amplia a vulnerabilidade diante de períodos de instabilidade econômica.
Como essa situação tem evoluído nos últimos anos?
O comprometimento de renda vem apresentando uma leve melhora nos últimos anos. Ainda que em uma escala lenta, a porcentagem que os brasileiros desembolsam para cobrir suas despesas tem caído gradativamente. Em 2022, esse número era de 72,3%, diminuindo para 72% em 2023 e atingindo 70,9% em 2024. Esse movimento é associado a condições econômicas mais favoráveis, como crescimento do emprego e reajustes salariais modestos.
No entanto, esse progresso não foi igual para todas as faixas de renda; famílias de baixa renda continuam altamente pressionadas pelas dívidas e gastam a maioria de seus ganhos apenas para sobreviver. A recuperação pós-pandemia, apesar de tímida, trouxe algum alívio, mas não suficientes para uma mudança estrutural de cenário.
O impacto da inadimplência em larga escala
Os números de inadimplentes são preocupantes, com 77,8 milhões de brasileiros em situação de inadimplência, um aumento de 1% no mês de junho de 2025. Este fenômeno atinge cerca de quatro em cada dez cidadãos, tornando-se uma questão econômica de larga escala. A situação é particularmente grave para aqueles que continuam tentando se recuperar dos impactos financeiros impostos pela pandemia e pela inflação.
A inadimplência afeta não apenas o consumo, como também o acesso ao crédito. Famílias inadimplentes muitas vezes enfrentam dificuldades em obter financiamentos e empréstimos, o que compromete suas chances de recuperação financeira e amplia a exclusão do sistema bancário oficial.
Estratégias para reverter o quadro de inadimplência
Para mitigar a inadimplência crescente, medidas estruturais e individuais são necessárias. Ao nível macroeconômico, políticas que busquem estabilizar a inflação e aumentar o poder de compra são cruciais. Por outro lado, ao nível individual, educar a população sobre gestão financeira e incentivar práticas de consumo consciente podem ajudar a equilibrar as contas pessoais. Combinadas, essas estratégias têm o potencial de não apenas reduzir o número de inadimplentes, mas também ampliar a capacidade de consumo sustentável de milhões de brasileiros.
Programas de renegociação de dívidas, campanhas de orientação financeira e o fortalecimento de políticas públicas voltadas à geração de emprego e renda também são fundamentais. Essas ações, quando integradas, promovem maior estabilidade econômica e social.
O papel da educação financeira na prevenção do endividamento
Um dos fatores que pode ajudar a frear o crescimento das dívidas é a educação financeira. Ensinar desde cedo conceitos como orçamento, poupança e investimento proporciona maior consciência sobre o uso do dinheiro. Empresas e escolas têm papel importante na disseminação desses ensinamentos, preparando as pessoas para decisões mais seguras no cotidiano financeiro.
Pessoa bem informada tende a gastar melhor e criar reservas para emergências, reduzindo o risco de recorrer ao crédito em situações de aperto. Investimentos nesse campo resultam em ganhos de longo prazo para toda a sociedade, promovendo ciclos econômicos mais saudáveis.
Perspectivas para o futuro financeiro das famílias brasileiras
Há expectativa de que, com políticas econômicas mais consistentes e o avanço do acesso a informações financeiras, as famílias consigam ampliar sua capacidade de poupança e de consumo consciente. O fortalecimento da economia, aliado à redução da inflação e à geração de empregos de qualidade, contribuirá para a melhoria deste quadro.
Contudo, o desafio é grande e demanda esforços contínuos tanto do setor público quanto do privado. Em suma, enquanto o comprometimento de renda dos brasileiros permanece em alta, a esperada recuperação econômica precisa ser acompanhada por estratégias eficazes para lidar com a inadimplência e otimizar não apenas a capacidade de pagamento, mas também de poupança das famílias.