A saúde mental tornou-se um desafio crescente na sociedade moderna, com um efeito silencioso, porém profundo, que impacta a qualidade de vida dos indivíduos. Uma em cada quatro pessoas enfrenta problemas de saúde mental, um dado alarmante que permaneceu, em grande parte, oculto durante décadas. Diante dessa realidade, os sistemas de saúde buscam implementar estratégias mais integradoras e eficazes, como o recente Plano Estratégico de Saúde Mental e Adições da Andaluzia, que oferece uma abordagem holística para lidar com essas questões complexas.
Esse plano, conhecido como PESMA-A, destaca a importância de uma visão coordenada que integre saúde mental e adições, duas áreas que frequentemente interagem de maneira significativa. Estima-se que 70% das pessoas com doenças mentais graves também lutam contra o consumo de substâncias tóxicas ou enfrentam outras dependências. Por isso, abordar esses problemas de forma conjunta pode melhorar notavelmente as respostas terapêuticas e os resultados para os pacientes.
Qual é o impacto das adições sobre a saúde mental e como acontece a comorbidade?
A conexão entre dependências e saúde mental é clara, mas complexa. As dependências podem ser tanto causa quanto consequência do sofrimento mental, complicando assim o diagnóstico e o tratamento de doenças psiquiátricas. O uso de substâncias como álcool ou cocaína não só agrava os problemas mentais, mas também pode ser uma tentativa das pessoas de aliviar seus sintomas. Por isso, o PESMA-A defende uma avaliação e tratamento conjuntos que considerem ambos os aspectos.

Em sua elaboração, o plano contou com a participação de mais de 1.500 profissionais. Eles identificaram a necessidade urgente de criar campanhas de conscientização que reduzam o estigma associado, especialmente no caso das mulheres, que sofrem uma carga dupla pelo consumo no ambiente doméstico. Essas iniciativas buscam promover uma mudança de percepção e facilitar o acesso aos tratamentos.
Por que o enfoque de gênero é fundamental na saúde mental?
O PESMA-A incorpora uma perspectiva de gênero que reconhece as diferenças significativas no consumo e no acesso ao tratamento entre homens e mulheres. As mulheres frequentemente enfrentam um estigma mais forte relacionado às dependências, o que dificulta o tratamento. Além disso, a prevalência de transtornos mentais associados ao uso de medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos é notavelmente maior nesse grupo, destacando-se a partir dos 35 anos. O plano sugere o desenvolvimento de respostas alternativas além do tratamento medicamentoso para abordar de maneira mais eficaz essas diferenças.
Atualmente, o acesso a tratamentos psicoterapêuticos ainda é limitado, o que aumenta a dependência de opções medicamentosas. Em resposta, o PESMA-A estabelece a necessidade de fortalecer a atenção primária por meio da redução dos tempos de encaminhamento para especialistas e da formação adequada dos médicos de família para identificar melhor os transtornos mentais em fases iniciais.
Como ampliar a identificação precoce e o tratamento de adições?
Uma parte essencial do plano é o foco na detecção e tratamento precoces, especialmente entre jovens e adolescentes, grupos onde se originam muitos dos casos futuros de dependência. Melhorar as estratégias de diagnóstico precoce e oferecer alternativas como inserção no mercado de trabalho e programas de prevenção são passos fundamentais para um tratamento mais eficaz e menos estigmatizante. Além disso, isso implica colaboração multissetorial entre os setores de saúde, educação, justiça e serviços sociais para garantir uma abordagem integral e coordenada.
O PESMA-A também se concentra em humanizar os espaços de tratamento, com base na crescente demanda por serviços de saúde mental e no aumento de situações de emergência relacionadas ao abuso de substâncias. A possibilidade de criação de unidades de internação específicas por gênero e faixa etária destaca a personalização e a dignidade no cuidado, condições essenciais para um sistema de saúde mais inclusivo e acessível.