A tendência decorativa que tem conquistado muitos lares, em especial os quartos de crianças, é o uso predominante da cor bege. Este estilo, caracterizado por suas tonalidades monocromáticas, é apreciado por pais que desejam criar um ambiente sereno e acolhedor para seus filhos. Porém, tal escolha decorativa tem gerado discussões no meio pediátrico e entre especialistas em desenvolvimento infantil preocupados com o conceito de “neutralidade visual”. Comumente chamado de “bege triste” nas redes sociais, esse estilo pode não atender às necessidades sensoriais dos bebês. As aqui outrora populares cores vibrantes têm sido substituídas por uma paleta bege que inclui brinquedos em tons de taupe, móveis de madeira clara e tapetes creme.
Essa estética, que impressiona por sua elegância e sobriedade, tem conquistado as plataformas de redes sociais, onde pais compartilham orgulhosos seus lares decorativamente organizados. Contudo, a busca por um ambiente calmo levanta uma questão importante: ao criar um espaço tranquilo e suave para a criança, seria possível estar negligenciando a estimulação sensorial necessária para seu desenvolvimento saudável? Muitos desses ambientes são largamente inspirados por tendências vistas em perfis internacionais no Instagram e no Pinterest, como aconteceu em países como a Dinamarca e a Noruega, conhecidos por sua arquitetura de interiores minimalista, e agora se popularizam também no Brasil.
Como a decoração pode afetar o desenvolvimento sensorial do bebê?
A especialista em colorimetria, Loren Fascianel, levanta uma preocupação com os ambientes excessivamente neutros. De acordo com sua análise, os bebês precisam de cores vibrantes após os primeiros meses de vida. Tais estímulos são cruciais para o desenvolvimento visual e cognitivo, uma vez que a retina e o cérebro em formação são mais ativados por cores puras e saturadas, como o vermelho, o azul e o verde. Essas cores não apenas estimulam os sentidos, mas também promovem a formação de conexões neuronais iniciais. Países como a Suécia costumam investir, já em creches públicas, em ambientes repletos de brincadeiras coloridas para favorecer essa estimulação desde cedo.
Quais são as diferentes opiniões de especialistas?
Opiniões distintas emergem do campo pediátrico. Enquanto o Dr. Andreas Werner, pediatra e alergologista, alerta sobre a cautela necessária nesta tendência, indicando que a falta de cores pode retardar o desenvolvimento cognitivo, ele também observa que essas alegações ainda não possuem respaldo científico sólido. Por outro lado, a pediatra Dr. Anna Boctor acredita que o desenvolvimento infantil vai além das cores no ambiente. Ela argumenta que as crianças participam de diversas experiências que contribuem para seu crescimento, além dos estímulos visuais diários.
Como é possível equilibrar estética e estímulo sensorial?
Entre as várias opiniões, prevalece a ideia de que um ambiente diversificado é essencial para o crescimento da criança. Criar uma interação de sensações no dia a dia, através de brinquedos coloridos, livros vibrantes e roupas com texturas variadas, são passos práticos para atender às necessidades de desenvolvimento dos pequenos sem comprometer a estética desejada. Manter uma decoração neutra com toques de cor pode ser uma solução prática para unir a preferência dos pais e o bem-estar dos filhos. Designers de interiores, sugerem o uso de móveis básicos com acessórios coloridos e a alternância de itens decorativos conforme a idade da criança para garantir essa diversidade de estímulos.
Em última análise, a discussão sobre o uso do bege nos quartos infantis destaca uma questão significativa: como harmonizar as aspirações estéticas dos adultos com as necessidades básicas de estimulação das crianças? A mensagem principal é criar um ambiente que promove o bem-estar através de diversidade e surpresa, estimulando os sentidos e enriquecendo o mundo de descobertas do bebê. Portanto, ao escolher a decoração do quarto de uma criança, é crucial lembrar que, para eles, o mundo é uma paleta infinita de cores esperando para ser explorada.