No Brasil, as abordagens policiais têm sido alvo de intenso debate jurídico e social, especialmente quanto à legalidade e aos critérios que as justificam. A discussão central é se tais abordagens são válidas diante de suspeitas infundadas ou discriminatórias, levando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a fixar parâmetros claros sobre o que configura a “fundada suspeita”.
Em decisão paradigmática da 5ª Turma do STJ, em 2025, ficou decidido que situações como estar em veículo amassado não justificam por si só uma abordagem invasiva. O tribunal reforça que a motivação para a abordagem deve existir de forma objetiva antes da ação policial, sem depender do que venha a ser encontrado durante a revista.
Critérios para uma abordagem policial legítima

O STJ define que para abordar alguém legitimamente, a polícia deve possuir fundadas razões baseadas em indícios concretos de atividade ilícita. A simples impressão subjetiva do policial, preconceito de classe ou raça não são admissíveis como justificativas.
Documentos recentes do CNJ também reforçam que a abordagem deve ser fundamentada pela existência de atos ou circunstâncias objetivas suspeitas, como denúncia formal registrada ou flagrante visualização de comportamento típico inusitado conforme padrões legais.
Efeitos da jurisprudência do STJ sobre ações policiais
A jurisprudência recente do STJ busca equilibrar o enfrentamento à criminalidade com a proteção dos direitos individuais, vedando abordagens de caráter exploratório sem indícios claros ou justificativas consistentes. Tais decisões coíbem práticas abusivas e evitam que achados durante a abordagem sejam usados para legitimá-la retroativamente.
Além disso, surgiram treinamentos mais específicos para as corporações policiais, promovendo critérios objetivos na atuação de agentes. Isso reduz o risco de arbitrariedades e fortalece a confiança na atuação policial junto à sociedade.
Impacto e abrangência das decisões judiciais
A orientação do STJ serve de referência para instâncias inferiores, padronizando a análise da legalidade das abordagens policiais em todo o país. Isso contribui para minimizar discriminações e garantir que situações similares tenham julgamentos baseados nos mesmos preceitos legais.
Consequentemente, as forças de segurança passaram a revisar seus protocolos internos, promovendo políticas mais voltadas à transparência, respeito aos direitos humanos e prevenção de abordagens movidas apenas por estereótipos sociais.
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Influência do contexto social nas abordagens policiais
O contexto histórico e social ainda pesa na forma como a sociedade percebe e reage às abordagens policiais. Práticas discriminatórias têm raízes profundas, por isso o STJ destaca a importância do enfrentamento de desigualdades, mesmo na esfera operacional da segurança pública.
Portanto, o rigor jurídico adotado nas decisões judiciais sobre abordagens visa não só garantir a legalidade das ações policiais, mas também resguardar a dignidade dos abordados e promover a confiança institucional, essenciais para uma justiça mais justa e igualitária.