A cultura da magreza extrema está voltando, Drauzio Varella alerta para o ressurgimento de distúrbios alimentares graves como anorexia nervosa e bulimia nervosa, impulsionados por padrões estéticos malsãos, pressão social exacerbada e práticas médicas inadequadas.
Drauzio Varella é médico, escritor e grande divulgador científico, conhecido por seus programas e reportagens sobre saúde, novelas médicas e sua abordagem clara sobre temas complexos. Seu alerta sobre essa retomada da magreza extrema mostra que corpo, mente e sociedade estão interligados, e que neglicenciar qualquer parte disso pode trazer consequências sérias.
O que são anorexia nervosa e bulimia nervosa?
Anorexia nervosa caracteriza-se pela restrição extrema da alimentação, levando a perdas de peso perigosas, até níveis de inanição, com negação da gravidade, distorção da imagem corporal e consequências físicas severas. Bulimia nervosa envolve episódios de compulsão alimentar seguidos de métodos compensatórios (vômitos, uso de laxantes, jejuns) para evitar ganho de peso, mesmo que isso cause grande sofrimento físico e psicológico. Varella relata casos de meninas extremamente magras que, mesmo com pouco ou nenhum tecido adiposo, veem ainda “imperfeições” e desejam emagrecer mais, mostrando como a autoimagem distorcida pode predominar sobre a realidade visível.
Dados oficiais mostram que os transtornos alimentares têm alta prevalência entre adolescentes e jovens, atingindo muito mais mulheres do que homens. No Brasil, estima-se que cerca de 4,7 % da população sofre com algum transtorno alimentar, número que pode subir para 10 % entre os jovens.

Que riscos envolvem tratamentos “milagrosos” como o uso de testosterona?
Segundo Varella, há médicos que prescrevem testosterona para emagrecimento, algo que não encontra respaldo em literatura médica séria ou em indicações clínicas reconhecidas. O uso de testosterona por mulheres fora de indicação para disfunções específicas pode gerar efeitos adversos como engrossamento da voz, crescimento excessivo de pelos, aumento no clitóris, além de possíveis riscos a longo prazo como alterações hormonais, efeitos cardiovasculares e risco de tumores hormonais. Estudos levantam preocupação especialmente porque faltam dados suficientes sobre segurança a longo prazo.
Especialistas de sociedades de endocrinologia enfatizam que a testosterona não deveria ser usada como uma “fórmula mágica” para emagrecimento, e muito menos sem acompanhamento rigoroso de profissional capacitado.
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Qual é o grau de mortalidade dos transtornos alimentares?
A anorexia nervosa é considerada o transtorno psiquiátrico com uma das maiores taxas de mortalidade. Estimativas apontam que pode haver cerca de 10 % por década de mortalidade entre pessoas diagnosticadas com anorexia que procuram atendimento clínico. Alguns estudos chegam a mencionar taxas de mortalidade próximas de 20 % em alguns contextos, incluindo complicações físicas graves ou suicídio. Essas estatísticas reforçam que esse não é um problema estético, mas um risco sério à vida.
Quem mais é afetado por essa cultura da magreza extrema?

Mulheres, principalmente adolescentes, são as mais atingidas. Há vários fatores culturais para isso: expectativas sociais rígidas sobre beleza, pressão por corpos “perfeitos”, estigmas sobre gordura corporal, comentários frequentes sobre peso ou forma física. Varella destaca que qualquer acúmulo de gordura percebido em mulheres costuma gerar crítica, enquanto a magreza extrema nem sempre recebe alerta, mesmo quando está associada a sofrimento grave.
Além disso, a exposição crescente nas redes sociais de padrões irreais, de corpos muito finos ou musculosos, idealizações de emagrecimento rápido, tudo isso funciona como gatilho para quem já tem vulnerabilidade emocional, psicológica ou mesmo genética.
Outro dado importante é que muitos desses transtornos alimentares começam na adolescência ou início da vida adulta, período em que corpo, identidade, autoestima estão em construção, o que aumenta o risco de persistência se não houver intervenção precoce.
O que fazer para identificar, prevenir e buscar ajuda?
É fundamental reconhecer sinais como medo intenso de ganhar peso, negação do corpo atual, comportamento alimentar restritivo extremo, purgação (vômitos, uso de laxantes), exercícios físicos obsessivos, isolamento social, alterações de humor e saúde física comprometida (fraqueza, cansaço, alterações menstruais, queda de cabelo).
Prevenção inclui conversas abertas sobre corpo e autoimagem, promover educação alimentar saudável, limitar exposição a ideais estéticos irreais, incentivar atividades que valorizem saúde em vez de aparência. Para quem já percebe esses comportamentos, procurar ajuda especializada com psicólogos, psiquiatras, nutricionistas familiarizados com transtornos alimentares. O tratamento é multidisciplinar.
Também é importante que haja regulação médica mais forte contra práticas que usem hormônios ou medicamentos de forma inadequada para fins estéticos, e que a sociedade, assim como os meios de comunicação, reconheçam os danos potenciais da magreza extrema como problema de saúde pública.
Fontes oficiais e confiáveis
- Organização Mundial da Saúde – OMS: informações sobre transtornos alimentares, saúde mental e estatísticas globais.
- Manuais MSD – Anorexia Nervosa: critérios diagnósticos, taxas de mortalidade, prognóstico.
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia / estudos médicos sobre testosterona em mulheres