Muitas mulheres assumem o papel de cuidadoras emocionais em seus relacionamentos, o que pode gerar esgotamento e perda de identidade. A psicóloga Saray Ares explica as causas desse comportamento e compartilha estratégias práticas para interromper essa dinâmica.
- Entenda por que tantas mulheres assumem o papel de “mães” emocionais
- Descubra os impactos dessa postura na saúde mental e identidade
- Aprenda técnicas práticas para estabelecer limites saudáveis
Por que tantas mulheres acabam assumindo esse papel?
A psicóloga Saray Ares explica que desde cedo as mulheres são ensinadas a valorizar o cuidado como parte essencial de sua identidade. Esse aprendizado cultural associa o feminino ao mundo privado e emocional, enquanto o masculino se vincula ao público e racional.
Essa construção histórica gera a sensação de que cuidar é não apenas aceito, mas também o correto. O resultado é a repetição automática desse papel, que se converte em um mandato social: ser boa mulher significa sustentar os outros, mesmo às custas do próprio bem-estar.

Quais as consequências de manter as relações?
Embora possa trazer a sensação de reconhecimento, assumir constantemente o papel de cuidadora traz efeitos nocivos. O desgaste se acumula e impacta diretamente a saúde mental e física de quem carrega esse peso emocional.
- Agotamento e estresse: o bem-estar próprio fica em segundo plano, gerando cansaço e até estresse crônico.
- Perda de identidade: quando o valor pessoal é medido pelo cuidado ao outro, há desconexão com desejos e necessidades próprias.
- Ressentimento e culpa: a falta de reciprocidade pode gerar ressentimento, e os limites trazem culpa pelo medo de parecer egoísta.
Como a cultura influencia essa sobrecarga?
Ares destaca que não é a biologia, mas sim a cultura, que coloca as mulheres no lugar de cuidadoras. Filósofas como Simone de Beauvoir já apontavam que ser mulher é uma construção, moldada por séculos de expectativas sociais.
Esses mandatos de gênero se refletem em profissões e escolhas de vida. Estatísticas confirmam: 84% das enfermeiras e 82% das psicólogas na Espanha são mulheres, evidenciando como o cuidado permanece atrelado à identidade feminina.

Como reconhecer que você está sobrecarregada?
Identificar a sobrecarga nem sempre é simples, já que o cuidado foi normalizado. Muitas mulheres percebem que os problemas do parceiro ou da família acabam se tornando seus, levando a sofrimento emocional e dificuldade em colocar limites.
- Sentir que carrega o peso dos problemas de outras pessoas como se fossem seus.
- Perceber que sempre busca soluções para dificuldades alheias.
- Notar que a culpa aparece ao tentar se afastar ou dizer “não”.
Quais passos práticos ajudam a reverter essa dinâmica?
Romper com o papel de cuidadora exige consciência e pequenas mudanças. Segundo Saray Ares, o primeiro passo é perceber que cuidar também significa voltar-se para si mesma e reconhecer seus próprios limites.
- Tomar consciência: questione padrões culturais e compartilhe experiências com outras mulheres.
- Cuidar de si primeiro: equilíbrio acontece quando se reconhece a própria necessidade antes de doar energia.
- Reconectar-se: pequenas ações, como ouvir música ou descansar sem justificativas, ajudam a fortalecer a autonomia.