A construção civil no Brasil enfrenta um desafio significativo na atração e retenção de mão de obra qualificada. A problemática vai além de questões conjunturais e se enraíza em um descompasso entre exigências do setor e as novas expectativas de carreira. De acordo com Cristiano Gregorius, um renomado especialista da Sienge, o setor demanda qualificação e esforço físico alinhados a rotinas do canteiro de obras, contrastando com as atuais aspirações profissionais dos trabalhadores.
Ao analisar o cenário econômico, o país apresenta indicadores positivos, como uma taxa historicamente baixa de desemprego registrada no trimestre até julho de 2025. No entanto, mesmo com a criação de 1,52 milhão de empregos formais até aquele mês, a construção civil continua a enfrentar desafios para preencher posições disponíveis. A pesar de se beneficiar de um bom desempenho tanto na geração de vagas quanto nos salários de admissão, o setor vê um potencial perdido na força de trabalho.
Como o Bolsa Família impacta o mercado de trabalho?

Especialistas da indústria observam que a competitividade das oportunidades de emprego formal enfrenta a concorrência dos benefícios sociais, como o Bolsa Família. O medo da insegurança econômica e a rotatividade do setor contribuem para este fenômeno, levando muitos beneficiários a hesitar em buscar emprego formal.
Em resposta a esta situação, o governo tentou ajustar o programa social, permitindo que famílias que superam ligeiramente o limite de renda ainda se mantenham dentro do Bolsa Família, embora com redução do benefício. Contudo, em algumas regiões do Brasil, especialmente Norte e Nordeste, o número de beneficiários ainda supera o de assalariados formais, indicando que o impacto do programa é substancial, orientando as decisões de ingresso ou permanência no mercado de trabalho.
A construção civil e o perfil dos trabalhadores
O perfil dos trabalhadores mais afetados pelo programa assistencial coincide com o de maior interesse na construção civil: homens jovens. Territórios do Norte e Nordeste, os quais concentram a maioria dos beneficiários, são os lugares onde a participação masculina jovem no mercado de trabalho é mais sensível às condições econômicas impostas pelo benefício.
A mudança na dinâmica do trabalho formal versus informal também afeta diretamente o setor. O aumento da informalidade e a flexibilidade no trabalho exercem um forte apelo, distanciando os jovens do trabalho formal. Luiz França, presidente da Abrainc, destaca que essa tendência afeta negativamente tanto os trabalhadores quanto a economia do país, uma vez que o trabalho formal oferece proteções importantes.
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Quais as soluções para incentivar a formalização?
Em resposta ao desafio de falta de mão de obra qualificada, líderes do setor da construção e políticos se uniram para propor legislações que incentivem a transição para o emprego formal sem penalizar os beneficiários. Um projeto de lei proposto pelo deputado federal Pauderney Avelino sugere que os beneficiários do Bolsa Família mantenham o valor integral do benefício durante o primeiro ano de emprego formal, com reduções graduais no benefício ao longo de cinco anos.
Essa proposta visa facilitar a adaptação ao mercado de trabalho sem causar insegurança imediata para aqueles que dependem dos auxílios sociais. Ao incentivar a busca por empregos formais, espera-se que haja um equilíbrio entre a proteção social necessária e o impulso por um mercado de trabalho mais robusto, especialmente na construção civil.