As cores, mais do que simples fenômenos visuais, têm sido símbolos culturais que refletem valores e ideologias de cada período histórico. Essa perspectiva cultural e social sobre a interpretação das cores é uma abordagem discutida por estudiosos como o historiador francês Michel Pastoureau. Segundo ele, as cores não são apenas percepções naturais, mas construções sociais que variam conforme a época e a sociedade.
Uma análise intrigante sobre essa relação é a segmentação de preferências cromáticas por gerações. Gerações como os boomers, X, Y, Z e Alfa não apenas demonstram gostos por determinadas paletas, mas também expressam, através das cores escolhidas, suas aspirações, interações com o tempo e padrões sociais predominantes. Esse fenômeno é explorado no capítulo “La Couleur, marqueur créatif générationnel?”, destacando a forma como as cores servem como marcadores visuais de mudanças sociais e culturais. Novos estudos da Universidade de Oxford também vêm mostrando que essa ligação entre cor e geração se intensificou com o avanço das redes sociais e da comunicação digital.
Como cada geração define as cores de sua época?
Os baby boomers, nascidos entre o fim da Segunda Guerra Mundial e meados dos anos 60, frequentemente preferem cores mais tradicionais e neutras, refletindo uma era de renovação pós-guerra. Conforme ingressaram nas décadas de 1970 e 1980, houve uma inclinação para tons naturais e terrosos. Já a geração X, que emerge entre 1965 e 1980, mantém essa estética, mas aos poucos começa a abraçar a diversidade cromática.
Por outro lado, os millennials, ou geração Y (1980 a 1995), veem o surgimento da cor de rosa millennial na década de 2010. Essa tonalidade pastel não apenas simboliza otimismo e leveza, mas também desafia normas de gênero tradicionais, marcando uma mudança significativa na forma como as cores são interpretadas socialmente. Pesquisas da Pantone sobre as “Cores do Ano” mostram o impacto dessa tendência a nível internacional.
Quais são as cores que caracterizam a geração Z e Alfa?
A geração Z, nascida entre 1995 e 2010, se destaca com a introdução de um amarelo vibrante, chamado de “Gen Z Yellow”, em contraste com o rosa da geração anterior. A paleta dessa geração também incorpora o roxo, tradicionalmente associado ao poder e criatividade, como símbolo de inclusão e expressão pessoal. Mais recentemente, o verde, tanto na sua vertente ecológica quanto como uma cor provocativa, tornou-se popular, especialmente no contexto de preocupações ambientais e políticas — tema central em movimentos como o Fridays for Future, iniciado por Greta Thunberg.
A geração Alfa, que começa a partir de 2010, está apenas começando a estabelecer seus padrões. No entanto, já se observa uma dualidade entre tons reconfortantes da natureza e cores digitais saturadas, refletindo seu ambiente imediato e a rápida evolução tecnológica que os rodeia, especialmente com a ascensão de plataformas como TikTok e integração de dispositivos inteligentes nas rotinas.
Como o marketing moderno interpreta as cores?
No contexto mercadológico, a importância das cores vai além da escolha estética; envolve também a linguagem dos nomes atribuídos a essas cores. Estudos em marketing indicam que a resposta a uma cor está amplamente relacionada ao nome que ela recebe, moldando as preferências e intenções de compra dos consumidores. Nomes evocativos ou poéticos tendem a aumentar o engajamento, enquanto nomes genéricos podem não ter o mesmo impacto. Exemplo disso é a influência das nomenclaturas criadas por marcas como a Apple para seus produtos e cores nos lançamentos dos iPhone.
Para as empresas, o desafio não é apenas compreender as referências geracionais, mas também criar paletas de cores que sejam reconhecíveis e sustentáveis ao longo do tempo. A comunicação eficaz através das cores exige uma leitura cuidadosa desses códigos visuais e uma flexibilidade em reinterpretá-los conforme novas tendências surgem.
Como garantir paletas de cores executáveis e sustentáveis?
Por fim, falar sobre cores de gerações é mais do que discutir estética; trata-se de decodificar símbolos culturais e sociais que transcendem o tempo. Para cada geração, as cores são uma linguagem compartilhada que conecta indivíduos ao espírito de sua era, servindo como testemunhas de tempos em constante mudança. Assim, é fundamental reconhecer a fluidez das cores e seu poder comunicativo único no cenário contemporâneo. Pesquisadores alertam que, à medida que avançamos rumo ao futuro, a influência do contexto digital e das mudanças climáticas continuará moldando a forma como as sociedades enxergam e utilizam as cores.