A derrocada do universo cinematográfico da Sony baseado em personagens Marvel encontrou sua conclusão definitiva com “Kraven: O Caçador“. O filme estrelado por Aaron Taylor-Johnson registrou a pior estreia da história da parceria entre as empresas, arrecadando meros 11 milhões de dólares domesticamente em seu fim de semana de abertura. Globalmente, o longa alcançou apenas 26 milhões de dólares, números catastróficos para uma produção orçada em 110 milhões.
Este desempenho devastador coloca Kraven como marco final de uma sequência de fracassos que incluiu “Morbius” (167 milhões mundialmente) e “Madame Teia” (100 milhões globais). Apenas a trilogia Venom conseguiu sustentar comercialmente este universo expandido, mas mesmo “Venom: A Última Rodada” demonstrou sinais de esgotamento com 473 milhões mundiais, bem abaixo dos 856 milhões do filme original.
Por que Kraven falhou tão drasticamente?
A saturação do mercado de super-heróis representa apenas parte da explicação para o fracasso de Kraven. O filme enfrentou dois anos de adiamentos devido às greves de roteiristas e atores em 2023, período que inflacionou o orçamento de 90 para 110 milhões de dólares. Essas interrupções impediram ajustes narrativos cruciais durante a produção, resultando em produto final desconectado das expectativas do público.
A classificação indicativa R, primeira da história do universo Sony/Marvel, deveria ter diferenciado o filme da concorrência. Contudo, a violência gráfica não conseguiu mascarar deficiências fundamentais no roteiro e nos efeitos visuais. Como commented David A. Gross, consultor da Franchise Entertainment Research: “À medida que o gênero de super-heróis declinou nos últimos cinco anos, ‘Morbius’, ‘Madame Web’ e ‘Kraven’ lideraram a corrida para o fundo do poço”.
Que fatores agravaram a rejeição crítica?
A recepção crítica devastadora contribuiu significativamente para o fracasso comercial. Kraven obteve 15% no Rotten Tomatoes e nota C no CinemaScore, indicadores que praticamente selaram seu destino nas bilheterias. Essa rejeição reflete problemas estruturais que perseguem o universo Sony desde sua concepção: adaptações que se afastam drasticamente do material original.
Tony Vinciquerra, CEO da Sony Pictures, atribuiu os fracassos recentes à hostilidade da crítica especializada. “A imprensa simplesmente os crucificou”, declarou ao Los Angeles Times. “Por alguma razão, a imprensa decidiu que não queria que fizéssemos esses filmes”. Contudo, essa explicação ignora problemas fundamentais de qualidade que afetaram consistentemente essas produções.
Como a concorrência afetou o desempenho?
O período de lançamento de Kraven coincidiu com o domínio contínuo de “Wicked“, que arrecadou 22,5 milhões de dólares em seu quarto fim de semana, mais que o dobro da estreia do filme da Sony. A adaptação musical acumulou 524 milhões globalmente, demonstrando que audiências ainda respondem a entretenimento de qualidade superior.
“Gladiador II” também superou Kraven com 7,8 milhões em sua quarta semana, evidenciando como o filme da Sony não conseguiu competir nem mesmo com títulos em final de ciclo comercial. Esta dinâmica ilustra a realidade cruel do mercado contemporâneo: qualidade e execução determinam sucesso mais que reconhecimento de marca.
Qual é o legado do universo Sony/Marvel?
A trilogia Venom permanece como única realização comercial sustentável do universo Sony, acumulando coletivamente mais de 1,8 bilhão de dólares mundialmente. Este sucesso isolado contrasta drasticamente com os fracassos sistemáticos de “Morbius“, “Madame Teia” e agora Kraven, revelando inconsistência fundamental na estratégia criativa do estúdio.
O CEO Vinciquerra admitiu que o universo está “amaldiçoado” e que futuros lançamentos seriam “destruídos independentemente de sua qualidade”. Esta confissão pública marca reconhecimento corporativo de que a marca Sony/Marvel tornou-se tóxica junto às audiências e críticos especializados.
Existe esperança de redenção para Kraven?
Paradoxalmente, Kraven encontrou segunda vida no streaming. O filme alcançou terceiro lugar na lista dos mais assistidos da Netflix em março de 2025, acumulando 7,1 milhões de visualizações e 15 milhões de horas assistidas. Este desempenho digital sugere que problemas de percepção pública, mais que qualidade intrínseca, contribuíram para o fracasso teatral.
Contudo, este sucesso tardio no streaming não será suficiente para reviver o universo Sony/Marvel. A empresa já sinalizou mudança estratégica, focando na colaboração com Marvel Studios para “Homem-Aranha 4” e na continuidade da série animada Aranhaverso. “Kraven: O Caçador” permanecerá como epitáfio melancólico de experimento cinematográfico que prometia muito, mas entregou consistentemente decepções.