Ao longo da história, tem-se percebido o mito de que as mulheres estariam relativamente protegidas contra doenças cardíacas até atingirem idades avançadas. No entanto, pesquisas recentes colocaram essa percepção em xeque, especialmente em relação às mudanças hormonais que ocorrem durante a menopausa. Esse período de transição, que marca o fim do ciclo reprodutivo feminino, traz consigo um risco aumentado de doenças cardiovasculares, tornando-se uma ameaça silenciosa que exige atenção médica renovada.
A doença cardiovascular ascendeu à posição de principal causa de mortalidade entre as mulheres ao redor do mundo, superando inclusive a incidência nos homens em certos contextos. Enquanto as taxas de mortalidade por doenças cardíacas em homens têm diminuído nos últimos anos, entre as mulheres elas permanecem persistentes e notáveis. Esse fenômeno está intrinsecamente relacionado às mudanças biológicas que ocorrem durante a menopausa. A queda de estrógenos que ocorre neste processo retira uma camada de proteção que historicamente ajudou a manter a elasticidade arterial, equilibrar os lipídios no sangue e moderar a pressão arterial.
O impacto da menopausa sobre a saúde cardíaca feminina é multifacetado. Um dos aspectos mais importantes é o aumento dos níveis de colesterol LDL, mesmo em mulheres que anteriormente mantinham uma dieta saudável e ativa. A Dra. Noelia Brenzoni, do Hospital Universitário Austral, destaca que a menopausa altera tanto o corpo quanto o coração das mulheres. Ao mudar a distribuição de gordura e aumentar a inflamação dos tecidos, potencializa o risco de desenvolver problemas graves como infartos, arritmias e acidentes cerebrovasculares. Portanto, integrar avaliações cardiovasculares nos controles ginecológicos habituais torna-se essencial, especialmente após os 50 anos.
Como a menopausa afeta o sistema cardiovascular das mulheres?
A menopausa traz uma série de transformações que vão além do hormonal, afetando também funções metabólicas e impulsionando alterações psicológicas. Uma das mudanças mais notórias é o acúmulo de gordura na região abdominal, o que possui implicações significativas que vão além da estética. Essa gordura visceral é biologicamente ativa e está relacionada à inflamação crônica de baixo grau, um fator que contribui para condições como a resistência à insulina e a síndrome metabólica.

Durante a menopausa, é comum que os níveis de colesterol LDL dupliquem, e a mulher enfrente um aumento do acúmulo de gordura abdominal que ativa processos inflamatórios no corpo. Segundo a Sociedade Argentina de Cardiologia, esse acúmulo de gordura agrava os riscos de desenvolver doenças cardiovasculares. Esse tecido adiposo não é apenas uma ameaça estética; ele é metabolicamente ativo e alimenta um estado inflamatório persistente que dificulta o manejo da saúde cardíaca e metabólica.
Quais estratégias podem prevenir doenças cardiovasculares durante a menopausa?
Diante do aumento do risco de doenças cardiovasculares durante e após a menopausa, adotar uma abordagem preventiva é fundamental. As estratégias incluem vigilância da pressão arterial, glicemia, níveis de colesterol e função renal através de avaliações regulares. A nutrição e a atividade física revelam-se ferramentas essenciais para controlar o risco cardiometabólico. O acompanhamento individualizado e a intervenção médica precoce podem fazer uma diferença significativa na prevenção de doenças cardíacas.
- Monitoramento regular da saúde cardiovascular, especialmente após os 50 anos.
- Adoção de uma dieta equilibrada e prática regular de exercícios físicos.
- Controle do estresse e manejo dos sintomas psicológicos associados à menopausa.
Qual é o papel do estrógeno na saúde cardiovascular?
O estrógeno é fundamental não apenas durante o ciclo reprodutivo, mas também na regulação de múltiplas funções corporais que afetam a saúde cardiovascular. Durante os anos férteis, o estrógeno contribui para manter a flexibilidade arterial, promove um perfil lipídico saudável e ajuda a regular a pressão arterial. A diminuição deste hormônio durante a menopausa faz com que as artérias percam flexibilidade e fiquem mais propensas à hipertensão e à aterosclerose, aumentando assim o risco de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral.
A transição para a menopausa é uma fase inevitável na vida das mulheres e precisa ser encarada sob uma nova perspectiva médica, que aborde de forma integral as transformações que ocorrem no corpo feminino. A saúde cardiovascular deve ser uma prioridade, e a conscientização sobre essa realidade pode motivar a adoção de medidas preventivas eficazes, prolongando a qualidade de vida durante essa importante etapa.