Ao se informar sobre a economia brasileira e/ou internacional, é provável que você já tenha se deparado com diversas menções ao Federal Reserve, ou Fed. Trata-se do banco central dos Estados Unidos, que, assim como o órgão brasileiro, tem a função de definir e regular as políticas monetárias norte-americanas.

As decisões do Fed podem impactar a economia global na totalidade, uma vez que os Estados Unidos detêm a política econômica mais influente e poderosa do mundo. Por isso, é importante compreender como funciona esse órgão e de que forma ele impacta a economia brasileira.

O que é o Federal Reserve (Fed)?

O Federal Reserve, também conhecido como Fed, é o sistema bancário central dos Estados Unidos.

O órgão é responsável por várias funções importantes, como a formulação da política monetária, a supervisão e regulamentação de bancos e outras instituições financeiras, a manutenção da estabilidade financeira e a promoção da estabilidade econômica, em geral.

O Federal Reserve foi criado em 1913, como resposta a uma série de crises financeiras que atingiram os Estados Unidos no final do século XIX e início do século XX. A ideia era criar um sistema bancário centralizado e coordenado, que pudesse agir como um “emprestador de última instância” para as instituições financeiras em tempos de crise.

Um dos principais papéis do Fed é legislar sobre a política monetária do país. Assim, o sistema fica responsável por ajustar a oferta de dinheiro na economia dos Estados Unidos, o que tem um impacto significativo nas taxas de juros, portanto, no crescimento econômico e na inflação.

Como o Fed é estruturado?

O sistema do Fed é composto por 12 bancos regionais, cada um servindo a uma área geográfica específica do país.

Cada um desses bancos, por sua vez, é supervisionado por um conselho de diretores composto por membros eleitos pelos bancos membros daquela região, assim como por diretores nomeados pelo conselho de governadores. Entenda melhor como funciona a estruturação do Fed.

Junta de Governadores

Órgão central do Federal Reserve, a Junta de Governadores é composta por sete membros encarregados de supervisionar as operações do sistema bancário central e formular a política monetária do país. Além disso, é responsável por emitir regulamentações e supervisão bancária, além de liderar a coordenação com outras instituições financeiras internacionais.

Bancos regionais

Os 12 bancos regionais são o braço executivo do Federal Reserve, e servem a regiões específicas do país. Cada banco regional é governado por um conselho de nove diretores, que são responsáveis por implementar as políticas monetárias definidas pela Junta de Governadores e oferecer serviços financeiros para os bancos em suas áreas de atuação.

Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC)

É responsável por implementar a política monetária do Federal Reserve, sendo composto pelos sete membros da Junta de Governadores e cinco dos 12 presidentes dos bancos regionais. O FOMC se reúne regularmente para discutir as condições econômicas e definir a política monetária do país.

Quais são as principais funções do Fed?

O Federal Reserve (Fed) é responsável por várias funções importantes, tanto a nível local como mundial.

Funções locais

  • Política monetária: definir e implementar a política monetária dos Estados Unidos, incluindo o ajuste e a oferta de dinheiro na economia, além da definição de taxas das taxas de juros e a regulamentação da oferta de crédito;
  • Supervisão bancária: supervisionar e regulamentar bancos e outras instituições financeiras dos EUA, emitindo regulamentações e realizando inspeções regulares para garantir a estabilidade e a segurança do sistema financeiro;
  • Serviços financeiros: oferecer serviços financeiros, como transferências eletrônicas, compensação de cheques e empréstimos de curto prazo para bancos e outras instituições financeiras;
  • Controle da inflação: trabalhar para controlar a inflação, garantindo que a oferta de dinheiro não cresça mais rápido do que a economia pode suportar, mantendo a estabilidade dos preços e protegendo o poder de compra dos consumidores.

Funções Mundiais

  • Coordenação com outros bancos centrais: trabalhar de forma colaborativa com outros bancos centrais em todo o mundo, a fim de coordenar a política monetária e promover a estabilidade financeira global;
  • Intervenção cambial: intervir no mercado de câmbio para controlar a taxa de câmbio do dólar americano em relação a outras moedas, promovendo a estabilidade econômica em todo o mundo;
  • Participação em organizações internacionais: participar de várias organizações internacionais, como o Banco de Compensações Internacionais (BIS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), para promover a cooperação econômica global e a estabilidade financeira;
  • Monitoramento de riscos globais: monitorar riscos que possam afetar a economia dos Estados Unidos, como crises financeiras em outros países ou instabilidade política em regiões importantes para o comércio internacional.

Como funciona o Federal Reserve?

Assim como outros órgãos monetários, o Federal Reserve age de maneira independente nos Estados Unidos. Sua principal funcionalidade é definir a política monetária do país, ou seja, o controle da oferta de dinheiro e da taxa de juros para influenciar o comportamento das pessoas e das empresas na economia.

Para implementar sua política monetária, o Fed utiliza vários instrumentos, incluindo taxa de juros de referência, operações de mercado aberto, requisitos de reserva bancária e juros sobre reservas.

A taxa de juros de referência, por exemplo, é a taxa que os bancos cobram uns dos outros para emprestar dinheiro durante a noite. O Fed ajusta essa taxa para influenciar as taxas de juros em toda a economia do país.

Além disso, o Fed pode comprar ou vender títulos do Tesouro dos Estados Unidos para aumentar ou diminuir a quantidade de dinheiro em circulação na economia. É também papel do Fed estabelecer os requisitos de reserva que os bancos devem manter em relação aos depósitos que recebem.

A política monetária do Fed

A política monetária do Federal Reserve tem como objetivo promover o pleno emprego e a estabilidade de preços. Assim, quando a economia está em recessão e o desemprego está alto, por exemplo, o Fed pode adotar uma política monetária expansionista, reduzindo as taxas de juros e aumentando a oferta de dinheiro para incentivar a atividade econômica.

Por outro lado, quando a economia está aquecida e a inflação está acelerada, o Fed pode adotar uma política monetária contracionista, aumentando as taxas de juros e reduzindo a oferta de dinheiro para desacelerar a atividade econômica e controlar a inflação. Esse desempenho é crucial no controle da oferta de dinheiro e das taxas de juros na economia.

Como o Fed influencia a economia?

Para além da economia norte-americana, o Fed pode afetar diversas outras nações, uma vez que os Estados Unidos são detentores da economia mais forte do mundo. Um exemplo histórico de grande impacto é a crise financeira global de 2008, que respingou em diversas economias mundo afora.

Com a quebra dos bancos americanos, o Fed implementou uma política monetária expansionista, a fim de estimular o crescimento econômico e impedir uma grande recessão. Além disso, realizou várias operações de mercado aberto para injetar dinheiro na economia do país, ajudando a estabilizar os mercados globais e evitando uma crise ainda maior.

Outro exemplo de destaque foi a política adotada durante a crise gerada pela pandemia da covid-19. O Fed implementou várias medidas de estímulo econômico para evitar uma grande recessão, reduzindo as taxas de juros para quase zero e realizando grandes compras de títulos do Tesouro dos Estados Unidos para injetar dinheiro na economia.

Além disso, o Fed criou vários programas de empréstimo para empresas e governos locais para ajudar a manter a liquidez nos mercados financeiros.

Quais são os impactos do Fed na economia brasileira?

Assim como afeta diversas nações, a política monetária do Fed também pode afetar a economia brasileira. Quando o Fed eleva as taxas de juros, por exemplo, os investidores tendem a retirar dinheiro dos países emergentes – é o caso do Brasil. Isso porque esses investidores buscam maiores retornos nos Estados Unidos.

Esse movimento pode gerar uma desvalorização da moeda brasileira, além do aumento da inflação no país. Em 2013, por exemplo, a expectativa de redução dos estímulos monetários do Fed levou a uma forte desvalorização do real.

As políticas comerciais do Fed também podem afetar o comércio internacional e, consequentemente, a economia brasileira. Quando o Fed adota uma política monetária expansionista, contribui para uma desvalorização do dólar americano em relação a outras moedas, tornando os produtos dos EUA mais competitivos no mercado internacional.

Ou seja, essa desvalorização do dólar faz com que as exportações brasileiras sejam afetadas, gerando uma queda nas receitas de exportação do país.

Controvérsias do Fed

Por ser um dos bancos mais influentes do mundo, o Federal Reserve é também alvo de críticas e controvérsias. Alguns críticos argumentam que o Fed não é transparente o suficiente em relação às suas operações e decisões de política monetária.

Esses críticos argumentam que as reuniões do FOMC, por exemplo, não são abertas ao público e que o Fed não divulga informações detalhadas sobre suas operações de mercado aberto. Outra crítica comum é que o Fed pode ser muito tolerante com a inflação, o que pode levar a um aumento nos preços e redução no poder de compra da moeda.

Isso é especialmente verdadeiro para aqueles que acreditam que a política monetária expansionista do Fed durante e após a crise financeira global de 2008-2009 aumentou a inflação e criou bolhas nos mercados financeiros.

Assim como no Brasil, alguns críticos argumentam que o Fed é muito independente do poder político e que isso pode levar a uma falta de prestação de contas. Eles acreditam que o Congresso dos EUA deveria ter mais supervisão sobre as operações do Fed e que o banco central deveria ser mais responsável perante o público.

Independência do Banco Central do Brasil em pauta

Essas controvérsias em relação ao Fed têm sido discutidas em todo o mundo, incluindo no Brasil. Por exemplo, a discussão sobre a independência do Banco Central do Brasil (Bacen) é frequentemente vinculada à discussão sobre o papel do Fed e sua relação com o poder político nos Estados Unidos.

Alguns argumentam que a independência do Bacen é necessária para evitar interferência política na política monetária e para garantir a estabilidade econômica. Outros, no entanto, acreditam que a independência do Banco Central pode levar a uma falta de transparência e responsabilidade.

O Bacen atua de forma independente desde a promulgação da Lei da Autonomia do Banco Central, aprovada em 2021.

Conclusão

Federal Reserve é uma instituição fundamental para a economia dos Estados Unidos e do mundo. E, embora haja críticas e controvérsias em relação ao órgão, é indiscutível que ele desempenha um papel crucial na estabilidade financeira e monetária da maior economia global.

As políticas monetárias e operações de mercado aberto do Fed têm o poder de influenciar as taxas de juros, a inflação, o câmbio e outros fatores importantes para a economia. E para isso, é crucial que o órgão, assim como outros mundo afora, continuem a operar de forma transparente e responsável, garantindo a estabilidade financeira no longo prazo.

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