Para ter um produto de sucesso é preciso criatividade, visão, dedicação, empenho, pesquisa e muito trabalho. Liliane Rebehy reúne todas essas qualidades e por isso conseguiu criar, com êxito, há 30 anos, a Coven, marca de roupa feminina, em tricô, reconhecida pela qualidade, beleza e bom gosto. A cada coleção apresenta trabalhos inovadores que surpreendem e encantam.
Como começou a trabalhar com tricô e por quê?
Comecei da forma despretensiosa. Desde criança sempre fiz atividades com fins lucrativos, sou uma comerciante nata. Nasci empreendedora. Passei em arquitetura na UFMG e minhas aulas só começariam no segundo semestre. Decidi esperar na casa dos meus pais, em Patrocínio, onde nasci. Minha prima tinha uma máquina que fazia tricô caseiro. Comecei a criar umas peças para ela fazer, deu uma repaginada na roupa e eu vendia tudo em BH. Mas a reposição era lenta. Minha irmã virou minha sócia por seus meses, depois fiz sociedade com uma amiga por dois anos. Nesse período, encontrei uma pessoa maravilhosa, D. Alda, com um trabalho primoroso e extremamente educada, que ficou comigo por mais de 20 anos, até se aposentar. Em 1993, abri uma fábrica, no Sion, e nasceu a Coven, em um momento de preconceito com o tricô. Mas a marca nasceu moderna, com uma identidade própria. tricô meio alfaiataria, vestido com modelagem de tecido plano. Cresci de forma muito rápida.
Sempre fez trabalhos novos, “efeitos” no tricô. Como conseguia isso antes?
A fábrica era e é uma área de experimentos, e isso é muito divertido. Mexo no tipo do fio, na trama e ele se transforma. Fazemos um trabalho na máquina e depois criamos uma segunda camada como uma sobreposição. Misturo cores em pontos comuns. Tudo na vida é um exercício e pesquisa em cima das inspirações. Manter uma fábrica é um custo muito alto, mas esse laboratório é fundamental para a criação.
Qual o segredo da sua roupa não perder cor e brilho?
Minhas clientes sempre falam que têm roupas da Coven há 20, 25 anos e estão como novas. Isso se deve à escolha de uma matéria-prima de qualidade, por mais que eu faça uma malha extremamente estruturada, se esse fio não tem qualidade, não consegue esse resultado. A estrutura da malha também é fundamental, quanto mais solto o ponto, mais produtividade você tem, mas sempre persegui ter malhas com uma estrutura durável. A regulagem da máquina tem que ser perfeita para não perder o caimento e o conforto. É preciso cuidado, apuro, minucia para que tudo seja impecável: modelagem, acabamento e peso. Hoje, temos tudo isso no tecido plano, que agora está bem presente na marca.
Você sempre teve um olhar de vanguarda?
Minha mãe nunca conseguiu colocar em mim um vestido de casinha de abelha. Nunca fui de cópia, e a marca nunca foi direcionada por tendências. O produto Coven tem duas durabilidades, a física, que nós já falamos e a temporalidade. A gente foge de códigos que são muito da estação, porque nossa roupa não é uma peça barata por cousa do processo de produção.
Você abriu uma segunda marca, a Coa. Como foi isso?
Lançamos a Coa na pandemia, para usar as sobras dos fios da Coen, que não são suficientes para grande produção. São matérias primas nobres. Aí nasceu a Coa, que vem do coar, do depurar, do aproveitar o que já temos em casa e criar uma linha para nossas lojas.
Quando introduziu o tecido plano?
Em 2008, quando abri a primeira loja para mostrar a potência máxima da marca, mostrar toda a coleção. Quando se tem loja própria, é preciso mix de produto. Vi a necessidade de ter peças de tecido plano para compor os looks. No começo não tinha o domínio do plano, então ele era mais tímido. Hoje, temos um tecido plano que está a altura do tricô. A venda está 60% tricô e 40% tecido plano.
Como é completar 30 anos de Coven?
Sensação de realização, porque apesar de todas as dificuldades que esse segmento apresenta – porque é setor de lutas e desafios –, quando se tem oportunidade de trabalhar com algo que você realmente ama, é um presente, você trabalha quase que brincando. Carrego até hoje, a cada coleção, esse entusiasmo, não perdi isso até hoje. Esse é o ponto principal da marca estar viva e fresca com 30 anos. Isso é importante até na formação de equipe, que é outro pilar extremamente importante. Quem trabalha aqui tinha o sonho de trabalhar na Coven e isso só é realidade porque a marca está pulsante porque gostamos do que fazemos e queremos fazer cada vez melhor, aqui não existe acomodação.
Quais são seus planos?
Vislumbro mais duas ou três lojas e retomar o mercado internacional. Já estou vendo algumas portas se abrindo nesse sentido. Em 2004, a Abit, Fiemg e outras entidades fomentaram a exportação da moda. Embarcamos nesse processo por uns oito anos. Vendemos para a Bergdorf, Henri Bendel, Anthropologie, mas aí o dolar chegou a R$ 1,70, e nesse momento o produto ficou muito caro, e esse mercado, muito inconsistente. Custo de feira, do profissional de comércio exterior, e o resultado não era satisfatório e impactava muito na produção. Os volumes não justificavam. Eu atrasava a produção do mercado nacional e, financeiramente não valia a pena. Foi um momento de muitos ajustes na empresa e um deles foi ver que a exportação não valia a pena. Agora, percebemos que o momento está bom. Temos uma pessoa em Londres com um trabalho muito bom, e excelente aceitação do produto pelo design e pela qualidade. n