MODA CAIÇARA

Conheça marca brasileira natural de Paraty que está conquistando o mundo

Com linho belga e bordado brasileiro, a modelo Thayná Soares combina seus dois mundos em sua marca Thayná Caiçara

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Thayná Soares é natural de Paraty e assistente social de formação. Até os seus 27 anos atuou na Guarda Municipal da cidade, e nunca tinha tido contato com a moda e nem tinha a pretensão de sair do município. Foi o incentivo de colegas de trabalho que fez com que ela se inscrevesse em um concurso de Miss América Internacional para tentar a carreira de modelo, um desejo antigo que nem ela lembrava que tinha. Ao chegar na final do concurso, contou com a ajuda da prefeitura da cidade para participar do evento realizado fora do país. “Foi a primeira vez que andei de avião”, destaca.


A modelo voltou para o Brasil como vencedora da competição, e foi aí que percebeu que havia um futuro na área. “As agências começaram a me procurar, comecei a entender que poderia trabalhar por meio da minha imagem”, relata.

Thayná Caiçara, responsável por todo o design da marca
Thayná Caiçara, responsável por todo o design da marca Reprodução do Instagram


Coragem

Desistir nunca foi uma opção para ela, que aprendeu a viver sozinha com 14 anos e foi mãe aos 16. Os desafios, se tornaram força e inspiraram a assistente social a buscar uma nova vida, mesmo sem fazer ideia se aquilo daria certo. Quando tinha 27 anos, sua filha, Maria Flor, com 11 anos, a incentivou a pedir sua licença de dois anos na Guarda Municipal (era concursada e tinha esse direito) e ir para São Paulo para tentar carreira de modelo. “Não tinha outra opção, tudo tinha que dar certo em dois anos. Minha filha disse: ‘vai mãe, depois você me busca”.

Por mais nova que fosse, Maria Flor tinha razão em confiar tanto no talento da mãe. Com apenas sete meses morando em São Paulo, onde escutou pela primeira vez o termo “alta-costura”, Thayná decidiu embarcar para Paris, apenas com um book embaixo do braço e um sonho.

Bordado brasileiro sob linho belga inspirada no cotidiano caiçara
Bordado brasileiro sob linho belga inspirado no cotidiano caiçara Reprodução do Instagram


Em pouco tempo, a mulher que chegou na capital da França sem falar inglês conquistou os grandes nomes da moda de luxo com sua beleza brasileira, indígena e caiçara. Thayná passou por marcas como Givenchy, Armani, Hermès e Alaïa, e foi, por muito tempo, musa do estilista libanês Zuhair Murad.


Observação

Dentro dos ateliês de tantas casas de alta-costura, a modelo começou a ter contato com a produção, os artesãos, costureiros, e todos envolvidos na fabricação de peças. “Comecei a observar que, em muitas peças que eu usava, havia bordados parecidos com o que enxergava na minha cidade natal, eu conseguia ver as manualidades brasileiras na alta-costura”, comenta.

A modelo relata sua inquietação ao descobrir a grandiosidade desse universo, afinal, apesar de estar inserida nele, ainda não o entendia por completo. “Fiquei inquieta quando comecei a descobrir o valor dessas peças e fazer a ligação com técnicas de bordados, principalmente de miçangas, que via no Brasil”, explica.

Thayná Soares e Ronald Van der kemp
Thayná Soares e Ronald Vanderkemp Dan Rocha/ Divulgação


“Fiquei pensando o por quê do bordado na Europa ter um valor tão alto enquanto, no Brasil, o bordado, por mais que fosse muitas vezes melhor finalizado, não tinha esse mesmo prestígio e valor”, reforça Thayná, que afirma ter criado sua marca a partir desses questionamentos e da percepção de um mercado que valorizava o que era normalizado em sua cidade no Brasil.

Nascimento

O início da história da Thayná Caiçara, marca da modelo, foi em 2020, durante a pandemia da COVID-19. “Comecei a entrar em contato com bordadeiras e pessoas que eu sabia que bordavam da minha cidade para propor criarmos algo juntas”.

Desde o princípio, a ideia era bordar elementos da cultura de Paraty em peças de linho. “No início, comprávamos roupas em linho e debatíamos sobre quais pássaros a gente gostava e como poderíamos abordar nossa cultura que mistura a caiçara, indígena e quilombola em forma de bordado”.

Vestido criado por Thayná soares e ronald van der kemp
vestido criado por Thayná Soares e Ronald Van der Kemp Julien Perrichon/ Divulgação


Thayná viveu dentro de uma reserva em Paraty, que era um observatório de pássaros, e essa é uma das razões da ave ser tão importante para a marca. “Os pássaros são uma forma de eu resgatar essa memória da minha vida em Paraty”.


A construção da modelo ao lado de bordadeiras da cidade resultou na Thayná Caiçara, uma marca de bordado brasileiro sob linho belga inspirada no cotidiano caiçara. “No início eu não tinha a intenção de construir uma marca, mas sim de construir peças em conjunto com essas mulheres. Depois eu entendi que a gente tinha esse potencial e que eu poderia ser essa ‘ponte’ que ajudaria a colocar o nosso bordado em um lugar de destaque”, diz a modelo e fundadora da marca.


Assim, de forma despretensiosa, a Thayná Caiçara foi ganhando corpo e conquistando público. Hoje, a marca é comercializada apenas no Hotel Du Cap-Eden-Roc, localizado em Antibes, cidade no Sul da França e em eventos especiais em São Paulo, Abu Dhabi (onde Maria Flor, filha de Thainá Soares, estuda) e na Tailândia.


Da passarela para a produção

Os anos de backstage ensinaram muitas coisas a Thayná, inclusive, estilismo. Ela é a responsável por todos os designs da marca, até mesmo pelo desenvolvimento de peças sob medida. “Eu nunca fiz curso na área, aprendi com a vivência”.

Esse é um dos motivos das peças serem sempre muito únicas e da produção ser pequena. A confecção dos modelos é feita na Bélgica, onde Thayná mora com seu marido belga, que conheceu em uma viagem a Milão. “Os produtos são fabricados em linho 100% belga e por dois pequenos ateliês”. Um deles, inclusive, o Meer Couture, é também responsável pela produção de roupas para a família real do país europeu.


A modelo envia para o Brasil pedaços das peças para serem bordadas, como os bolsos, que compõem a peça mais clássica da marca, uma camisa comprida de botão. Depois de bordadas, essas peças ou parte das peças retornam à Europa, onde são finalizadas com o acompanhamento de Thayná.


Consciência e responsabilidade

Ao longo dos quase seis anos de marca, a fundadora sempre busca valorizar os profissionais de sua cidade. “Apesar de ter acesso a muitas modelos e profissionais, sempre dou preferência a pessoas de Paraty”, comenta.

“A ideia é mostrar a riqueza da cidade e das pessoas, homenageá-las”, completa a fundadora. Outro princípio da marca é valorizar as bordadeiras, e, por isso, Thayná destaca que não coloca preço no trabalho dessas profissionais. “Eu quero que outras marcas também busquem minhas bordadeiras, quero fomentar essa concorrência do mercado do bordado. Se eu não fizer essa ponte, seria responsável só por um discurso sem nenhuma mudança de fato”. Atualmente, o time é composto por 28 mulheres espalhadas pelo país. Antes, todas eram de Paraty, mas esse grupo é dinâmico e o trabalho é sazonal.

Parceria

Há um ano, Thayná se uniu com o estilista Ronald Van Der Kemp, que atuou por 25 anos em grande marcas de luxo até criar a sua própria, a RVDK, em que valoriza o upcycling, produzindo roupas com tecidos e peças já existentes por meio da transformação deles. “Fui assistir um desfile e me apaixonei pelo trabalho dele, porque dentro da alta-costura ele é meio que um vanguardista no upcycling. O upcycling é algo que todo mundo fala, mas ninguém consegue ver ainda nesse lugar de luxo, e o Ronald já vê isso há dez anos”, comenta.


Assim, com essa admiração da fundadora, eles se uniram para criar uma peça que iria ao tapete vermelho do festival de cinema de Cannes deste ano. O vestido vermelho com pássaros bordados que criaram ficou tão maravilhoso que, antes mesmo de chegar ao evento em solo francês, foi levado a uma premiação na China e também passou pela última semana de moda de Nova York, realizada no início do ano.

A parceria deu tão certo que estão desenvolvendo uma coleção, que será desfilada ainda este mês em um prédio público em Paris. A coleção se chama “Floresta da chuva”, e possui singularidades, por contar com peças produzidas a partir do upcycling e apostarem em uma moda circular. “Os looks não são feitos com o mesmo tecido, ou com a mesma cor, como grandes maisons (casas) fazem. Cada peça é única, e elas conversam entre si por meio do discurso, e não de uma tendência. É uma moda pensante”, diz Thayná.


“Eu acho que ter esse lugar junto do Ronald é uma grande oportunidade. Foi uma escolha, mas, ao mesmo tempo, vejo como uma grande honra, uma grande oportunidade de trabalhar com alguém que está trabalhando com essa moda do futuro há muito tempo”, comenta a modelo, que faz questão de transparecer sua admiração e respeito pelo parceiro de criação desse lançamento.


Alta-joalheria

Uma das joias que serão lançadas, composta pelas pedras tsavorita, safira amarela, rubi, turmalina rosa, paraíba, ônix e rubelita
Uma das joias que serão lançadas, composta pelas pedras tsavorita, safira amarela, rubi, turmalina rosa, paraíba, ônix e rubelita Divulgação

Como não bastasse inovar e conquistar clientes ao redor do mundo com as roupas, Thayná está entrando no universo da alta joalheria com o mesmo objetivo: levar elementos brasileiros para um outro patamar. No início do ano, a marca Thayná Caiçara fez uma parceria com a empresa de joias artesanais Ana Rocha & Appolinario, e em breve, será lançada a joalheria da própria marca Thayná Caiçara.


“Usamos apenas pedras preciosas como diamantes, esmeraldas e turmalinas, seguindo a mesma estética dos bordados, com a figura dos pássaros”. Toda a produção é feita na Bélgica, em um pequeno ateliê do designer de joias Fred Fa, com pedras certificadas na Suíça.


Apesar de ainda não ter sido oficialmente lançada, Thayná já conta com peças-piloto da linha de alta joalheria, que utiliza em momentos especiais como a passagem pelo tapete vermelho de Cannes. “Quando vemos alta joalheria brasileira, não vemos cores nem pássaros, e é isso que quero mostrar”, comenta.

A fundadora da marca brasileira destaca ainda a importância dessa linha de joias para que seu trabalho de valorização das bordadeiras que trabalham com ela na produção de roupas continue. “Para eu continuar valorizando o trabalho dessas pessoas da forma correta, comecei a fazer joias, porque assim consigo fazer um balanço”. 

* Estagiária sob supervisão de Isabela Teixeira da Costa

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