Em meio a tensões geopolíticas, guerras tarifárias, inflação e juros elevados, os virais das redes sociais parecem que se tornaram a válvulas de escape para as pressões do cotidiano. Os cases se sucedem em velocidade inédita. E como nada passa despercebido pelo varejo - tampouco pelo mercado publicitário -, a palavra de ordem é transformar oportunidade em retorno financeiro. O exemplo mais recente é o fenômeno que conquistou o país e virou uma verdadeira aula prática de marketing de oportunidade: o Morango do Amor. Simples na receita, mas poderoso no simbolismo afetivo, o doce - um morango grande envolto em brigadeiro de leite em pó e coberto com calda de açúcar - tomou conta das redes sociais com uma força que transcende os limites da gastronomia. De postagens virais a campanhas de marcas, a fruta açucarada tornou-se protagonista de uma onda de consumo impulsiva, criativa e estrategicamente aproveitada por quem soube agir com o timing certo.


Para o mercado, mais do que um simples doce, o Morango do Amor simboliza a força do marketing de oportunidade. Uma estratégia que parece ser simples, que consiste na arte de aproveitar tendências, memes ou acontecimentos relevantes para gerar conexões entre marcas e o imaginário coletivo. Mas é preciso ter o timing perfeito, explorar a relevância cultural para fazer o alinhamento com o posicionamento da marca e usar criatividade adaptativa como pilares para a estratégia alcançar o sucesso desejado. Do contrário, o marketing vira mero "oportunismo" e pode trazer prejuízos irreparáveis.


A lembrança afetiva da trend atual resgata herança histórica, inspirada na maçã do amor. Historiadores creditam a guloseima a William W. Kolb, que em 1908 criou o doce para o Natal nos Estados Unidos. No Brasil, o doce teria chegado por volta da década de 1940. Já o Morango do Amor ganhou releituras locais e se juntou ao time de produtos simples que viraram febres nas redes sociais. Ele entra no top do ranking das últimas trends, superando queridinhos como Bobbie Goods (livro de colorir lúdico), Labubu (personagem de pelúcia desejado pelas celebridades) e o Bebê Reborn (bonecas hiper-realistas).


O Morango do Amor, no entanto, chegou sob medida para vários setores do mercado. Enquanto o assunto bombava nas redes, micros, pequenos e grandes varejistas esvaziavam suas vitrines. Os números falam por si. A Sodiê Doces chegou a vender oito mil unidades em apenas um dia, enquanto empreendedores menores relataram aumentos de até 2.500% em suas vendas. No iFood, os pedidos do doce cresceram 2.300%, e as buscas pelo termo no Google dispararam 1.333% em apenas um mês. A estética do produto -casquinha vermelha brilhante e o som característico da crocância ao ser mordido, o famoso crack moment - tornou-se central na produção de vídeos virais, especialmente aqueles voltados para experiências sensoriais.


Os criativos que trabalham para as grandes marcas de beleza e cosméticos logo perceberam o potencial da febre. A Avon, por exemplo, relançou o batom Moranguinho, sucesso nostálgico das décadas passadas, incorporando o doce em sua narrativa com uma campanha envolvente, que incluía kits promocionais distribuídos a influenciadoras. O Boticário ativou sua linha Cuide-se Bem Morango com Leite em uma parceria com a criadora Michele Ykegaya, que ensinava a receita do doce enquanto apresentava o produto. A MAC Cosméticos apostou no apelo de resistência, mostrando que seus batons e glosses permanecem intactos mesmo após saborear o doce. Já Vult e Eudora, marcas do Grupo Boticário, entraram na conversa com variações como "Cereja do Amor" e "Morango Irresistível", aproveitando a estética e a simbologia do momento.


Mas o marketing de oportunidade não é nada novo na publicidade. O Brasil possui históricos notáveis do uso eficiente da estratégia. Nos mais recentes, durante a Copa do Mundo de 2022, com a proibição da venda de cerveja nos estádios do Catar, a Budweiser espalhou contêineres pelo Brasil prometendo liberar a bebida para o país campeão. E como a Seleção Brasileira foi eliminada, a marca ainda se saiu bem ao pedir sugestões ao público sobre o que fazer com os contêineres, o que gerou engajamento e mídia espontânea.


Outro exemplo marcante foi da Prefeitura de Paulo Afonso (BA), que usou o "paredão" do BBB 21 para anunciar toque de recolher com a frase: "Hoje é dia de eliminar o vírus e a Karol Conká". Enfim, usou o toque de humor para tratar um assunto polêmico à época. Já a marca Reserva inovou ao transformar imagens de assalto em uma campanha de liquidação, sob o slogan provocativo: "Não precisa quebrar a vitrine. Apenas entre." Genial! A força da viralização do Morango do Amor também se deu pelo papel decisivo dos influenciadores. Um reforço que as marcar estão utilizando muito bem, que, neste caso, multiplicaram o conteúdo espontâneo e geraram mídia orgânica de alto impacto.


O sucesso do Morango do Amor reforça ensinamentos importantes para o mercado publicitário: a agilidade é fundamental, já que tendências têm vida curta; a autenticidade é indispensável, pois ações desalinhadas podem soar forçadas; o storytelling sensorial e emocional ajuda a criar conexões profundas, muitas vezes baseadas em memórias afetivas; e a criatividade é o diferencial que transforma simples reações em grandes cases. Além de tudo, a tendência das campanhas de experiência, que convidam o público a participar, tendem a alcançar resultados exponenciais, ampliando o engajamento e o retorno sobre investimento.


Enfim, em tempos de Inteligência Artificial e incertezas do papel humano na comunicação, o case do Morango do Amor deixa um recado cristalino: é possível transformar um simples item cotidiano em um objeto de desejo irresistível, usando criatividade, agilidade e sensibilidade para dialogar com o consumidor. Tudo de forma autêntica, sem artificialidades. Para o mercado publicitário, fica mais uma doce lição sobre como as marcas devem estar antenadas com o agora para não perder relevância. Num ambiente digital guiado pela velocidade e pela efemeridade das trends, quem souber agir rápido vai sempre surfar na onda e colher os frutos. Literalmente! 

Briefing

FORA DO CONVENCIONAL
O Duolingo, app de aprendizado mais popular do mundo, se uniu à Serasa em ação criativa e bem-humorada. Nas redes sociais, os mascotes Duo (a coruja) e Boletinho protagonizam um duelo épico para decidir qual score realmente importa. A disputa começa com provocações entre os personagens e termina num ringue de boxe, com data, hora marcada e clima de grande evento. A campanha promove leve reflexão: manter o score alto é fundamental.

AMOR X DINHEIRO
A Serasa também lançou o reality "Até que os boletos NÃO nos separem" fora dos padrões, apresentado por Chris Flores. A série acompanha quatro casais em diferentes fases da vida a dois, lidando com os desafios financeiros do casamento. Mais de 50% dos noivos planejam gastar até R$ 40 mil, mas muitos extrapolam esse valor, revela pesquisa da Serasa com o Casar.com.

EDUCAÇÃO E PLANEJAMENETO
O programa traz emoção e informação, promovendo educação financeira de forma leve e acessível. Disponível no YouTube, o reality mistura histórias reais com dicas práticas sobre dinheiro. Os episódios abordam temas como renda extra, gravidez, dívidas e orçamento emergencial. Cada casal compartilha aprendizados sobre união, responsabilidade financeira e planejamento.

MINEIRÃO ACOLHEDOR
Antes do jogo Cruzeiro x Ceará, o Mineirão inaugurou o Espaço de Acolhimento à Mulher. O local atende denúncias de assédio, racismo, importunação sexual e violência de gênero. A ação conta com o apoio de diversos órgãos, como TJMG, MPMG, Sedese, PMMG, PCMG e Defensoria Pública. É um passo importante rumo a estádios mais inclusivos, seguros e humanizados.

SEBRAE/MG SUSTENTÁVEL
O Sebrae reafirma seu compromisso com o desenvolvimento sustentável em Minas Gerais. São 3,4 milhões de atendimentos em todos os municípios do estado, com destaque para os pequenos negócios. As ações de Suporte Empresarial, Educação Empreendedora e Desenvolvimento Econômico estão alinhadas aos ODS da ONU. O relatório comprova o impacto positivo da instituição nas comunidades mineiras.

PRÁTICAS ESG
O Programa GAIA aprimorou o controle de recursos e processos internos no Sebrae. Houve redução de resíduos em aterros (-19%), impressões (-6%) e consumo de materiais (-7%). A frota agora opera com 97% de etanol, e a usina fotovoltaica gera 85% de economia na conta de luz. Essas medidas reafirmam o compromisso com a sustentabilidade e a gestão responsável.

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