Você já ouviu falar de finanças comportamentais? Sabe como isso pode te proporcionar melhor saúde financeira? Entender a psicologia por trás das decisões econômicas pode te ajudar a fazer escolhas melhores tanto em compras do dia a dia, como em seus investimentos.

Ao tomar uma decisão você é mais racional ou emocional? Suas escolhas são baseadas no que é melhor para a sua vida financeira ou às vezes você se deixa levar por emoções na hora de decidir sobre o uso de seu dinheiro?

O comportamento econômico que adotamos em nossas decisões é o objeto de estudo das finanças comportamentais. Portanto, saber mais sobre este tema, é saber mais sobre você.

O que são finanças comportamentais?

Trata-se de uma área de pesquisa da psicologia cognitiva que avalia o comportamento das pessoas em condições de incerteza e risco. A psicologia econômica existe há quase 140 anos, mas suas derivações em estudos específicos do comportamento foram sendo estruturadas a partir dos anos de 1970.

O destaque para as finanças comportamentais veio em 2002, quando o Prêmio Nobel de Economia foi concedido ao psicólogo israelense Daniel Kahneman, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido em parceria com outro psicólogo, Amos Tversky.

Em resumo, o fundamento do trabalho de Kahneman e Tversky contrapõe premissas da economia clássica. Estas afirmam que investidores se comportam sempre racionalmente, sem emoção, e voltados a escolhas que otimizem seus resultados.

Os psicólogos israelenses conseguiram mostrar que uma mesma pessoa pode ter perfis de risco diferentes, conforme sua percepção do que é ganho ou perda a cada momento. Logo, sua propensão a assumir riscos não é linear, variando com as circunstâncias e informações disponíveis.

Kahneman e Tversky criaram a Teoria da Perspectiva. Com isso, mostraram que nossas decisões financeiras são influenciadas pela forma como interpretamos as informações. Ou seja, o processo nem sempre é racional, visto que temos vieses comportamentais.

Em outras palavras, nosso cérebro usa atalhos para tornar as decisões automáticas e mais fáceis. Porém, isso muitas vezes compromete nossa capacidade de avaliação, levando a escolhas ruins.

Vieses comportamentais te impedem de ganhar dinheiro

Em resumo, o estudo dos vieses pela economia comportamental busca responder questões como:

  • O que leva um investidor a escolher determinados investimento e outros não?
  • Se o mercado é o mesmo, o que diferencia investidores com bons e maus resultados?
  • Por que a maioria dos investidores têm carteiras não diversificadas?
  • Por que muitos negociam com alta frequência?
  • Por que os investidores apenas procuram informações que confirmem sua opinião e rejeitam aquelas que a contrapõem?
  • Por que os investidores tendem a vender posições lucrativas rapidamente e segurar posições com prejuízo por mais tempo?

Em busca de respostas a estas e outras questões, as finanças comportamentais combinam o melhor da psicologia econômica e da teoria financeira. Assim o objetivo é entender como e por que tomamos decisões erradas.

Definição de vieses comportamentais

Primeiramente, Kahneman explica que os vieses são como “regras de bolso”. São atalhos que o cérebro usa para simplificar avaliações e agilizar decisões. Em suma, é a nossa percepção funcionando em modo automático.

Os vieses fazem parte do nosso cérebro primitivo, de funcionamento instintivo, rápido e preparado para respostas automáticas. São esses atalhos que possibilitam que você saiba, de antemão, o que fazer em situações corriqueiras sem ter que pensar sobre isso. Alguns exemplos são dirigir um carro ou manusear o smartphone.

Contudo, os vieses podem se tornar um problema quando usados para escolhas mais complexas, como investimentos. Para decisões assim, é preciso que você saia do automático. Ou seja, é necessário racionalizar usando informações consistentes e senso crítico.

Se, ao invés disso, você permitir que os vieses o levem a agir no automático, decidindo intuitivamente o que fazer, pode se colocar em riscos desnecessários e comprometer sua vida financeira.

E por que esses erros acontecem?

Crenças e valores morais, a memória fragmentada dos fatos vividos, nossa capacidade limitada de processamento cerebral, conexões neurais, influências externas. Esses, entre outros fatores, afetam nossa capacidade de julgar racionalmente. Assim, nos tornam propensos a todo tipo de erros de interpretação.

Então, continue a leitura para conhecer alguns vieses comportamentais e saber como evitar as armadilhas do seu cérebro.

Vieses  das finanças comportamentais

Viés de Ancoragem

Sua mente funciona de forma a associar informações e buscar sempre um ponto de partida para fazer julgamentos. Dessa forma, o viés da ancoragem faz com que uma primeira informação recebida dentro de determinado contexto seja mais relevante “ancorando” as comparações subsequentes.

Por exemplo, suponha que você entrou no home broker pela primeira vez para consultar preços de ações. A primeira ação que você vê custa R$ 100. Você digita o ticker de outros papéis que exibem preços variando entre R$ 11,80 e R$ 27,60. A tendência é que você ache essas ações baratas. Porém, só está comparando empresas sem nenhuma correlação, e sem levar em conta os fundamentos de cada papel.

Assim, para evitar o viés da ancoragem, você sempre precisa saber o porquê está fazendo determinada escolha.

Aversão à Perda

Este é um viés cognitivo que nos leva a dar maior importância às perdas do que aos ganhos. Estudos científicos apontam que, do ponto de vista psicológico, a tristeza por perder R$ 100 é muito mais intensa e duradoura do que a alegria de ganhar R$ 100. Isso faz com que estejamos mais propensos a correr riscos para evitar uma perda do que para garantir um ganho.

A aversão à perda pode te levar a investir em algo sem grandes perspectivas. Outra possibilidade é sair precipitadamente de um investimento com ótimas perspectivas de ganho, simplesmente pelo medo de perder o lucro que já foi obtido.

Fugir da aversão à perda envolve traçar uma estratégia clara de investimentos onde você define antecipadamente os limites que sejam confortáveis para você, e não se desvia deles.

Falácia do Jogador

Também conhecido como falácia do apostador, este viés comportamental é uma falha na capacidade de compreender as probabilidades de um acontecimento.

Trata-se, portanto, de um viés que não está ancorado em dados concretos, mas em crenças. Um exemplo muito conhecido é o do jogo de cara e coroa.

Nele, após muitas vezes seguidas vendo o resultado “cara”, tendemos a achar que isso aumenta a possibilidade de que comece da dar “coroa”. Isso não tem qualquer fundamento, já que as chances continuam sendo de 50% para cada lado.

O viés da falácia do jogador ocorre, por exemplo, quando você insiste em manter posição num ativo onde está perdendo dinheiro há bastante tempo. Baseia-se exclusivamente na crença de que depois de muitas quedas sucessivas o “normal” é que o papel suba, mesmo não havendo nenhuma explicação racional para essa hipótese.

Evitar este comportamento envolve compreender o funcionamento das probabilidades a partir de critérios lógicos e fundamentados em dados de realidade.

Viés de Confirmação

Este viés é sobre a tendência que temos de buscar apenas informações que comprovem aquilo em que já acreditamos e ignorar aquelas que contrariem nossas certezas.

O viés de confirmação pode te levar a só procurar oportunidades de investimento naqueles segmentos onde você ou alguém conhecido já teve algum êxito, e evitar os segmentos onde teve experiências ruins.

Assim, o viés de confirmação pode privá-lo de boas oportunidades simplesmente porque, ao invés de comparar informações de fontes confiáveis, você está preso às experiências anteriores, sem que isso represente uma base realmente sólida de análise.

Lacunas de Empatia

Trata-se de um viés perigoso das finanças comportamentais, pois ocorre quando seu estado emocional pode influenciar a leitura dos fatos.

Quantas vezes você já ouviu alguém justificando uma atitude ruim dizendo “agi no calor dos acontecimentos”? Ou você mesmo disse algo como: “é melhor eu esfriar a cabeça primeiro e depois falamos disso”?

A lacuna de empatia quente-frio é exatamente sobre isso.

Nos investimentos, por exemplo, este é o viés comportamental que pode levar você a se apavorar com um momento de turbulência e queda da bolsa, sem fazer uma análise mais criteriosa sobre os fundamentos da empresa e os motivos que te levaram a comprar aquele papel. Ou, ao contrário, comprar ativos em momentos de euforia, sem avaliar se a compra está alinhada à sua estratégia de longo prazo.

Autoconfiança Excessiva

A confiança excessiva é outro viés das finanças comportamentais. Ela em suas próprias certezas pode te levar a ver padrões em algo que na verdade é aleatório. O viés da autoconfiança excessiva é o que nos leva a acreditar demais nas nossas próprias habilidades e opiniões.

Este viés está relacionado ao viés de confirmação, sobre o qual já falamos, onde se tende a dar mais valor àqueles dados que confirmam crenças preexistentes.

O viés da autoconfiança excessiva no investidor potencializa más decisões financeiras. Não buscar informações com fontes confiáveis por acreditar que já sabe de tudo o que precisa, é uma negligência que pode trazer prejuízos.

Efeito de Enquadramento

Este é o viés que impacta as decisões conforme a maneira que a informação é apresentada.

Em 1989, a agência W/Brasil ganhou o Leão de Ouro em Cannes pela peça publicitária que descrevia as qualidades de uma pessoa, enquanto pontinhos pretos iam aos poucos formando o rosto dela na tela, até que ao final via-se o rosto de Adolf Hitler. A propaganda encerrava com a frase: “é possível contar um monte de mentiras, dizendo só a verdade”

Este é um exemplo perfeito do efeito de enquadramento.

Em suma, se alguém lhe disser que um determinado investimento tem 10% de possibilidade de se valorizar é muito mais provável que você invista do que se lhe disserem que ele tem 90% de chance de não se valorizar. A informação é a mesma, o que muda é o enquadramento.

Enfim, para evitar esse viés, é importante analisar as informações por vários ângulos, para não ter um olhar “viciado” sobre os dados.

Efeito Manada

Por fim, esse viés comportamental é um dos mais conhecidos. Você é vítima do efeito manada quando abre mão de pensar criticamente e analisar evidências. Pelo contrário, faz escolhas presumindo que algo é verdadeiro apenas porque a maioria pensa que é.

Ou seja, este é o comportamento de quem age por impulso e segue o fluxo. Ele está na raiz de nossa conduta social: queremos fazer parte do bando e tememos não estar ao lado do time vencedor. Contudo, escolhas financeiras precisam se basear em fatos e não em percepções superficiais.

Para evitar que o efeito manada prejudique suas decisões financeiras, vale buscar informações confiáveis, definir objetivos claros, analisar criticamente e evitar agir movido por emoções, como por exemplo, a ansiedade, precipitação ou a necessidade de aprovação.

Como não ser vítima dos vieses comportamentais?

 Conhecer ao menos os principais vieses que podem impactar suas escolhas é importante para minimizar os seus efeitos.

Os vieses cognitivos precisam ser estudados para que você compreenda melhor como seu cérebro funciona e possa tirar verdadeiras vantagens disso.

Aprender sobre economia e finanças comportamentais, buscar informações em fontes confiáveis e contar com bons assessores, é a combinação mais saudável para evitar que os vieses comportamentais possam atrasar a sua evolução financeira.

Conclusão 

As finanças comportamentais demonstram que não somos totalmente racionais em nossas análises. Inúmeros fatores emocionais e desvios cognitivos podem influenciar decisões. E isso ocorre mesmo que não estejamos conscientes disso.

Existem mais de 180 vieses comportamentais que desafiam nossa capacidade de racionalização. Como vimos, reconhecer a presença desses vieses e sua influência no nosso comportamento de consumo e decisões de investimento é o primeiro passo para evitar armadilhas da mente e conquistar uma vida financeira equilibrada.

Tão importante quanto saber da existência dos vieses cognitivos, é saber usar os conceitos das finanças comportamentais ao nosso favor para romper com ciclos de decisões ruins.

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