
Polícia Federal faz perícia no Museu de Arte Sacra, em Ouro Preto, onde foi furtado um rosário do século 19
"Teremos que fazer cofres em vez de museus para trancafiar a história", diz, indignado, o diretor do museu
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Siga noEquipe da Polícia Federal faz perícia, na manhã deste sábado (11/11), no Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, vinculado à Paróquia Nossa Senhora do Pilar, no Centro Histórico, onde foi furtado um rosário do século 19. O crime no templo tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ocorreu na sexta-feira (10/11), às 13h18, sendo praticado, conforme registro das câmeras de segurança, por três pessoas. No local, estiveram, nesta sexta, as polícias Militar e Civil.
Desolado com a situação, o diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto e membro da Comissão de Bens Culturais da Arquidiocese de Mariana, Carlos José Aparecido de Oliveira, falou com exclusividade ao Estado de Minas. “Mais uma vez, o Pilar é saqueado. Nossa posição é de desencanto, pois fazemos o trabalho com paixão e sofremos muito, quando isso ocorre. Parece que, em vez de museus, teremos que fazer cofres para trancafiar a história.”
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O diretor mantém a esperança de o relicário ser encontrado. “Espero que tudo se resolva, mas é uma sensação muito ruim. Penso que o padre Simões (o pároco José Feliciano da Costa Simões - 1931-2009) sofreu o mesmo em 1973. Ver parte do acervo furtado, algo que está exposto para toda a popular ver, traz o desencanto. Este museu recebe muita gente, muitos jovens, sempre ficamos felizes em ver tanta gente visitando o Pilar, no sentido de valorizar o conhecimento e fortalecer a identidade e a nação. Infelizmente, três pessoas acabam com isso”, lamentou Carlos José, mais conhecido por Caju.
O furto no bem tombado ocorre no ano em que é lembrado o cinquentenário da invasão e do furto do museu localizado no subsolo da igreja barroca, um dos ícones da primeira cidade brasileira (1980) reconhecida como Patrimônio Mundial. Na madrugada de 2 de setembro de 1973, ladrões levaram 17 peças sacras, incluindo uma coleção formada por custódia e três cálices de prata folheados a ouro, de origem portuguesa, usados no Triunfo Eucarístico, em 1733, a maior festa religiosa do Brasil colonial. Os objetos de fé continuam sendo procurados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), e se encontram entre os bens cadastrados na plataforma virtual Somdar ([email protected]). Passados 50 anos, não há, até hoje, pistas das peças levadas pelos ladrões.
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Inventário
Conforme o inventário (de 1984) da peça existente na Paróquia Nossa Senhora do Pilar, o relicário em ouro, do século 19, ficava preso originalmente na ponta de uma cruz. Eis a descrição: “Rosário de contas escuras de uma rocha não identificada, com as contas do ‘Pai Nosso’ em ouro, de decoração em corda nas extremidades e um aro de flores e folhas contornando o centro. A cruz é em ouro, tem espessura triangular decorada com folhas estilizadas. O Cristo é também em ouro; acima dele há a inscrição INRI em uma superfície convexa com a base em duas pontas enroladas. As pontas da cruz são formadas por três triângulos superpostos”.