
Após MPF suspender negociações, Governo de Minas cobra repactuação do Acordo de Mariana
Acordo entre empresas e governos Estadual e Federal segue travado
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Siga noO Governo de Minas Gerais emitiu um nota, na tarde desta quarta-feira (6/12), cobrando a finalização da repactuação do Acordo de Mariana, referente aos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco, em Mariana, na região Central de Minas, em 2015.
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As negociações foram suspensas nessa terça-feira (5/12), justamente na data prevista para a assinatura do novo acordo. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a negociação foi encerrada em “razão da recusa das empresas responsáveis pelo rompimento, Vale, BHP e Samarco, em apresentar uma nova proposta financeira, conforme calendário previamente estabelecido.”
Na nota publicada, o governo do estado “demonstra indignação com a postura das empresas Vale, BHP e Samarco que provocaram a paralisação das negociações para a repactuação do acordo de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem em Mariana, na região Central do estado.”
“Embora tenha havido evolução nas discussões técnicas, a reparação só será possível com a adoção de medidas que permitam as melhorias ambientais necessárias, a devida reparação às pessoas e aos municípios atingidos e o fortalecimento de políticas públicas em todo o território. A execução destas ações demanda um aporte de recursos, por parte das empresas, condizente com os impactos da tragédia por elas causada”, completa o comunicado do Governo mineiro.
Julgamento em Londres
A demora para finalizar o acordo de repactuação não vai afetar diretamente o processo em que mais de 700 mil vítimas movem contra a Vale e a BHP em Londres.
Thomas Goodhead, CEO do escritório Pogust Goodhead, que defende as vítimas na ação criminal, esperava que um acordo pudesse ser fechado até o meio de 2024. “ A repactuação foi uma tentativa das empresas, instituições de justiça e governo de negociar remediação e reparação para o caso Mariana. No entanto, excluiu a voz dos atingidos pelo rompimento da barragem e não teve participação social em nenhuma das discussões que ocorreram durante mais de dois anos a portas fechadas. A recusa das empresas em apresentar uma proposta financeira digna não surpreende e reflete a afronta da BHP e da Vale à justiça desde que o crime ocorreu, em 2015. Sem apoio popular, este é um processo sem legitimidade em qualquer hipótese”, disse.
Inicialmente, o julgamento estava marcado para abril de 2024. A BHP pediu para que a Justiça adiasse em 15 meses para analisar documentos. Entretanto, a nova data para o julgamento será em outubro.
Em julho, foi marcada uma audiência entre a Vale e a BHP. A ideia das empresas era tumultuar o processo, já que, caso a Vale fosse reintegrada, ela pode pedir um novo adiamento para o julgamento, justificando que precisa analisar os novos termos impostos.
Em agosto, a Technology and Construction Court, em Londres, rejeitou o recurso, tornando a Vale ré junto da BHP.
Na decisão, a Justiça da Inglaterra enfatizou que "a mineradora brasileira Vale é responsável pelos mesmos motivos ou semelhantes e, portanto, responsável por contribuir para quaisquer danos devidos junto com a anglo-australiana BHP".
O que diz a Vale?
“A Vale, como acionista da Samarco, continua comprometida com a repactuação e tem como prioridade as pessoas atingidas, representadas desde o início das negociações por diversas instituições de justiça como as defensorias e os ministérios públicos. As negociações seguem em andamento, apesar da pausa de final de ano, conforme já publicado no site do TRF-6. A companhia confia que as partes chegarão a bons termos quanto ao texto que vem sendo conjuntamente construído antes de definir o valor global do acordo. Como parte do processo de negociação, a companhia está avaliando as soluções possíveis, especialmente no tocante à definitividade e segurança jurídica, essenciais para a construção de um acordo efetivo.”
O desastre
A barragem se rompeu em 5 de novembro de 2015, deixando 19 mortos e mais de 500 mil pessoas atingidas pelos 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos despejados na Bacia do Rio Doce. O mar de lama passou pelo estado do Espírito Santo e chegou até o Oceano Atlântico.