INOVAÇÃO

Jovens líderes comandam debates em escolas no interior de MG

Projeto pioneiro no Brasil transforma comunidades a partir da formação de estudantes para promover diálogos de temas importantes para a juventude

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Estudantes de Minas Gerais podem fazer a diferença nas comunidades em que vivem. É o que mostram os resultados dos Debates Públicos nas Escolas, programa pioneiro no Brasil, que deve se expandir a outros países em 2025. Promovido pela Ashoka Brasil, o projeto tem como objetivo estimular o protagonismo juvenil, com o fortalecimento da cultura democrática nas escolas.

O projeto é gratuito para quem se interessar em participar e se dá a partir de uma jornada de seis meses ao longo ano, e já formou 38 lideranças jovens no país, que impactaram mais de 4.500 pessoas em 14 estados brasileiros. Durante o período, estudantes de todas as regiões do país são estimulados ao diálogo de temas interessantes às juventudes e ao desenvolvimento, como infraestrutura da escola, qualidade da educação e ambiente escolar, relacionando os tópicos com os desafios e as aspirações dos estudantes.

É o que conta Débora Myrlan, articuladora nacional dos Debates Públicos nas Escolas. Segundo ela, no 3º Ciclo de Formação de Lideranças, que se deu durante o ano de 2024, foram discutidos tópicos de relevância nacional, como o sistema eleitoral e o meio ambiente. “Muito se falou de primeiro voto, justiça climática, longevidade, saúde mental, saúde menstrual, direitos dos jovens rurais e indígenas e acesso ao ensino superior”, esclareceu Myrlan.

De maneira similar, a expectativa é que as discussões deste ano abordem temas que colocam o Brasil nos holofotes do mundo, como a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a COP 30, que será sediada em Belém, no Pará, em novembro. “Temos visto uma discussão crescente sobre meio ambiente e clima, considerando a COP 30 e a importância de ter a incidência das juventudes nesses espaços de negociação e tomada de decisões”, afirma a articuladora. 

De acordo com Débora, outros temas emergentes em vista são a diversidade e inclusão, além da educação midiática. Assim, segundo a organização, fazem parte do quadro fixo de tópicos de debates assuntos como possíveis soluções para desafios locais, nacionais e globais, como crises ambientais e climáticas, educação midiática, equidade racial e de gênero.

Ainda segundo a articuladora, apesar de focar em temas de interesse de pessoas mais jovens e no início da jornada acadêmica, o projeto pode ter a inscrição de pessoas de todo grau de escolaridade. “Todas as pessoas, de todos os graus de escolaridade, podem participar. Apesar de focar em juventudes, em especial as que ainda estão na escola, sabemos que tem muita gente interessada em pôr a mão na massa e fortalecer a cultura democrática para além do ambiente escolar, e por isso não temos restrição de idade, escolaridade ou região”, esclarece Débora.

“O importante é que os temas debatidos sejam de interesse das juventudes e que elas tenham protagonismo nas discussões”, comenta. O 4º Ciclo de Formação de Lideranças teve início em fevereiro deste ano, e a expectativa da Ashoka Brasil é que a edição da vez ajude o projeto a reunir jovens de regiões ainda não alcançadas no Brasil.


Metodologia acertada

Manter o interesse em juventude em temas diversos é um desafio, tendo em vista diferentes bagagens culturais, econômicas e regionais dos inscritos no programa. Por isso, a organização da Ashoka Brasil adota práticas para apresentação de diversas metodologias e práticas que podem ajudar os estudantes a mobilizar mudanças em diferentes contextos comunitários e escolares, como a disponibilização de roteiros de debates possíveis.

“Fazemos simulações, identificamos potenciais aliados, disponibilizamos roteiros de debates, um kit de mobilização e nos encontramos periodicamente em um espaço de troca e compartilhamento de experiências, desafios, aprendizagens e oportunidades”, conta a representante da Ashoka Brasil.

As sessões de formação e coordenação do projeto acontecem de forma on-line, e os debates mobilizados pelas lideranças ocorrem presencialmente. “Ao longo desses quatro a seis meses de jornada, ajudamos os jovens a mapear e a avaliar caso a caso como é possível de alguma maneira, em pequena ou grande escala, solucionar problemas que fazem parte da agenda pública e que são relevantes para seus territórios”, contou Débora Myrlan.

A analista especificou que os alunos aprendem metodologias capazes de engajar outros jovens, gestão escolar, veículos de mídia, secretarias municipais e outros atores em assuntos e iniciativas que podem mudar realidades.


Debates que estimulam outros projetos

É o caso de Wallace Matheus, estudante, de 19 anos, que participou do 2º Ciclo de Debates, em novembro de 2023 – um mês antes de se formar no Ensino Médio. Ao Estado de Minas, ele contou que sempre teve o interesse em contribuir com a comunidade, mas não sabia como. Ele ficou sabendo da possibilidade de participação nos debates pela divulgação das inscrições nas redes sociais.

Depois da experiência, Wallace promoveu debates com crianças e adolescentes na cidade onde mora, na região Noroeste de Minas Gerais. Em Unaí, município de 86.619 habitantes, segundo senso de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a instituição escolhida foi a Escola Municipal Domingos Pinto Brochado, que “recebeu de braços abertos” a iniciativa e foi palco de discussões sobre primeiro voto e protagonismo juvenil – tema escolhido em conjunto com os alunos. As dinâmicas foram possíveis graças aos materiais disponibilizados e pela participação nos encontros formativos da Ashoka, de acordo com o estudante. 

Wallace relatou que os alunos estavam receosos no início, uma vez que era uma experiência nova para todos, mas logo se soltaram nas conversas. Para essa segurança, foram estabelecidas regras básicas de convivência, cujo objetivo principal era criar um ambiente seguro e acolhedor, no qual os alunos poderiam expressar suas opiniões livremente e construir conhecimento de forma colaborativa.

“Fiquei impressionado com a forma como os estudantes se engajaram, principalmente no segundo encontro, quando se sentiram mais à vontade para compartilhar suas ideias”, comentou.

Para o estudante, a mudança de postura ilustra como crianças e adolescentes devem ser estimulados na construção de argumentos e alternativas para a comunidade. “A simples oportunidade de dialogar e debater sobre um tema já é capaz de despertar o interesse dos alunos, transformar a forma como eles se relacionam com o assunto e incentivá-los a construir o próprio conhecimento de forma mais ativa e engajada”, afirma Wallace.


Falta de interesse das escolas

Nesse sentido, uma queixa do embaixador da Ashoka é que a falta de interesse de escolas em investir em debates é “lamentável”. “O sistema educacional brasileiro tem um potencial enorme para ser ainda mais transformador, e investir na criação de espaços de debate e projetos que estimulem o protagonismo juvenil é um passo crucial nessa direção”, afirma.

O jovem acredita que facilitar o acesso a iniciativas como a dos debates nas escolas, propostas por agentes externos ou idealizadas pelos próprios alunos, “é essencial para empoderar os jovens e incentivá-los a se tornarem verdadeiros agentes de mudança”.

Com o estímulo do Ciclo de Formação, Wallace também começou a fazer parte da coordenação do projeto Tocando em Frente, e atualmente participa dos times internos de gestão de dados. O projeto tem o objetivo de mobilizar lideranças no interior dos estados de todo o Brasil, inclusive Minas Gerais, de maneira a evitar a evasão escolar na junção do estímulo ao desenvolvimento socioemocional, gamificação e competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).


Impacto local

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Outro que teve experiência similar foi Felipe Briguente, embaixador da Ashoka Brasil e morador de Rosário da Limeira, município de 4.734 habitantes na Zona da Mata Mineira, segundo senso de 2022 do IBGE. Ele foi um dos estudantes que se envolveram no 1º Ciclo de Formação de Lideranças, de 2022. O jovem, hoje professor de língua portuguesa e estudante de contabilidade aos 21 anos, mobilizou debates na Escola Municipal Amélio José da Silva, engajando estudantes do 5º ano do ensino fundamental até o ensino médio, em temas como primeiro voto, meio ambiente e participação estudantil.

Briguente contou que também conheceu o programa dos Debates Públicos nas escolas pelas redes sociais, o que foi, para ele, uma identificação instantânea. Isso porque ele pôde identificar a possibilidade de desenvolvimento de um assunto que tem afinidade desde a adolescência: “Desde muito jovem, sempre busquei criar projetos que conectassem educação e cidadania, e participar do primeiro ciclo de debates foi uma oportunidade única de ampliar essa missão”, contou.

No município de Rosário da Limeira, o jovem, depois da formação, adaptou os debates que experienciou no ciclo para o público infantil e adolescentes das escolas locais. A turma do 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Amélio José da Silva, por exemplo, abraçou a dinâmica e surpreendeu o novo líder.

”Eles debateram sobre o meio ambiente e trouxeram à tona problemas e situações em suas comunidades que muitos de nós (adultos) desconhecíamos”, comentou Felipe. Parte do sucesso dos debates se deu ao entusiasmo do grupo, que acolheu temas como meio ambiente e primeiro voto com interesse genuíno.

Segundo ele, as crianças “apresentaram propostas criativas e surpreendentes, mostrando que, quando damos espaço, podem ser verdadeiros agentes de transformação”. Felipe acredita que a possibilidade deu voz aos grupos do município que, segundo ele, “muitas vezes são silenciados ou subestimados, simplesmente por não serem adultos” e, agora, podem mobilizar discussões dentro do ambiente familiar.

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