Uma mistura entre a gastronomia e as diversas formas de arte. É o que se vê na “Bendita Feira”, aberta na tarde desta terça-feira (6/05) e que segue até quinta-feira (8/05), em Montes Claros, no Norte de Minas.
A mostra é realizada em espaço do Restaurante Já Vai Li, no Bairro Jardim São Luiz, reunindo artesãos, designes, decoradores e mestres em culinária. Os visitantes podem apreciar e adquirir os trabalhos apresentados na feira, bem como saborear os alimentos dos expositores e comer pratos e bebidas do cardápio do estabelecimento.
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O evento ainda conta com oficinas criativas e rodas de conversas, reunindo 60 expositores de Montes Claros e de outros municípios do Norte de Minas. Também participam convidados de Belo Horizonte e de outros pontos mais distantes do estado.
“Ao envolver gastronomia, arte e decoração, a nossa ideia é trabalhar com a criação, porque gastronomia também é uma coisa criativa”, afirma o publicitário Caico Siufi, curador da feira, juntamente com a arquiteta Viviane Marques Terence.
Caico ressalta que a feira, que chega a sua oitava edição, tem como objetivo valorizar os trabalhos manuais, feitos em cerâmica, madeira, tecido e outros tipos de materiais. “Tudo que entra na Bendita Feira é feito à mão. Temos trabalhos em madeira, acessórios e decoração. Também temos gastronomia, mesas postas e velas. A gama de produtos da feira é muito diversificada, o que é muito legal”, avalia o curador do evento.
Carrancas
Na entrada do restaurante onde acontece a Bendita Feira, chamam atenção as carrancas das embarcações do Rio São Francisco, confeccionadas em Pirapora, cidade banhada pelo Velho Chico, também no Norte de Minas. O autor das peças é o escultor Geraldo Rodrigues Soares, o “Romário”, de 61 anos, da cidade ribeirinha.
O artista destaca a importância da feira por proporcionar a divulgação das carrancas, que estão ligada à cultura e história da navegação no Rio São Francisco. As esculturas, com formato humano ou animal, eram colocadas nas canoas e barcos, mantidas pela crença dos barqueiros de que têm o poder sobrenatural de proteger as embarcações das fortes correntezas e dos riscos de naufrágio, garantindo viagens seguras.
“As carrancas fazem parte do nosso folclore, mas foram um pouco estigmatizadas e fazem parte de uma história que ficou esquecida. Por isso, é muito importante que possam ser mostradas e divulgadas nas feiras”, assegura “Romário”.
Ele ressalta a relevância da feira por misturar gastronomia e trabalhos artísticos e artesanais. “No mesmo ambiente, as pessoas apreciam e comida e bebida e acabam conhecendo e gostando da arte”, afirma o escultor de Pirapora.
Árvores do cerrado
Outro participante da Bendita Feira é o artista plástico Osmar Oliva, que também é escritor e professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ele disse que apresenta trabalhos feitos com o aproveitamento de “sobras” (retalhos) de costura, nos quais fez desenhos bordados.
“Estou trabalhando com paisagens do interior, casario e árvores do cerrado como o pequizeiro, o ipê amarelo, o ipê rosa e o ipê branco. Então, além da paisagem interiorana, trabalho também com a fauna e com a flora, com os frutos e aves do Cerrado Norte Mineiro”, explica Osmar Oliva.
O artista plástico disse que vê com bons olhos a “integração” da gastronomia com as peças expostas na feira, sobretudo, com os seus trabalhos ligados ao cerrado.
“O Cerrado tem cores, cheiros e sabores e o Norte de Minas é muito rico em texturas, em variedades, em percepções e sensações. Então, a gastronomia, a arte e essas outras expressões culturais e gastronômicas se inter-relacionam”, afirma Osmar Oliva.