Entre, fique à vontade e aproveite, porque a história é nossa – e melhor: tecida com as linhas do tempo e do progresso. Em Juiz de Fora, uma centenária construção está aberta à cultura, ao abastecimento e, principalmente, ao convívio. Após dois anos em restauração, o Mercado Municipal traz também à tona parte do passado da cidade conhecida como “Manchester mineira”, pelo pioneirismo industrial, no estado, no fim do século 19. A inglesa Manchester, vale lembrar, tem seu nome gravado na Revolução Industrial pela primazia na aplicação da máquina a vapor na indústria têxtil.


Reinaugurado em abril e administrado pela Prefeitura de Juiz de Fora, o Mercado Municipal ocupa o prédio da antiga Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, que começou a funcionar em maio de 1888 com 60 teares ingleses. Foi a primeira (1898) no país a usar um motor elétrico Westhinghouse e instalar música ambiente em suas instalações (1932).


O complexo arquitetônico fica na Praça Antônio Carlos, no Centro, e tem recebido muitos visitantes. Só nos primeiros 20 dias de funcionamento, cerca de 8 mil pessoas estiveram no Mercado Cultural Aice – Arte de Inventar Coisas Especiais, nome em homenagem ao rapper Josimar Aparecido Andrade Silva, o MC Aice, de destaque na cena hip-hop local. Ainda no segundo piso, se encontram a Galeria Nívea Bracher e a Praça da Alimentação.


Lugar para compras é o que não falta. No primeiro piso, ficam as lojas de hortifrúti, condimentos, laticínios, vinhos, embalagens, peixaria, açougue e outros produtos. Já no anexo, pode ser visitado o Centro de Referência do Artesanato, com mais de 20 expositores.


CRESCIMENTO INDUSTRIAL


Vindo de Curvelo para Juiz de Fora, em 1822, o empresário Bernardo Mascarenhas impulsionou o crescimento industrial da cidade a partir da construção da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e da primeira Usina Hidrelétrica da América Latina. Mas a expansão e o avanço tecnológico da fábrica de tecidos não resistiram às modificações político-econômicas do Brasil. Em 14 de janeiro de 1984, a Companhia Têxtil encerrou suas atividades, deixando um terreno de 10,4 mil metros quadrados com uma área coberta de aproximadamente 7 mil metros, patrimônio usado para pagamento de dívidas ao Estado de Minas Gerais e à União.


A Prefeitura de Juiz de Fora tinha interesse em preservar o complexo arquitetônico. Assim, em 1982, iniciou o processo de tombamento municipal do prédio, assinado em 19 de janeiro de 1983. Entre 1983 e 1987, negociou a compra das instalações da fábrica, então totalmente restauradas para abrigar o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas – a partir de um movimento intenso da classe artística, o "Mascarenhas, meu amor" – e o Mercado Municipal, preservando-se as características originais. A transformação da tecelagem em espaço de cultura ocorreu em 1987, projeto cultural ousado de Minas Gerais, que tinha ação similar apenas em São Paulo, na Fábrica Pompéia.


No início dos anos 1990, um incêndio destruiu a parte do Complexo Mascarenhas correspondente ao Mercado Municipal. Mas a união entre os concessionários e permissionários e a Prefeitura Juiz de Fora viabilizou a reconstrução do Mercado e da Pronta Entrega das Fábricas, em funcionamento no segundo andar, o que evitou que a cidade perdesse um de seus mais importantes patrimônios. Em 1997, o prédio correspondente ao Centro Cultural Bernardo Mascarenhas foi fechado para reforma e reaberto em 2000, mantendo suas características arquitetônicas. Já o Mercado Municipal foi fechado para reforma em 2023 e entregue à população em abril.

Com lojas de alimentos, artesanato e galeria de arte, Mercado Municipal ocupa o prédio tombado da antiga Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, na Praça Antônio Carlos, no Centro

PREFEITURA DE JUIZ DE FORA/DIVULGAÇÃO


FESTAS JUNINAS SÃO RECONHECIDAS COMO...

O mês termina hoje, mas as fogueiras vão continuar acesas para o povo dançar quadrilha, tomar quentão, saborear canjica e provar de caldos suculentos. As festas juninas tão queridas na capital e no interior trocam de nome, viram “julinas” e até “agostinas”, mantendo a animação ao som dos ritmos tradicionais da época. Para valorizar ainda mais a tradição, o governador Romeu Zema sancionou uma lei que reconhece como de relevante interesse cultural as festas juninas e os grupos juninos de Minas Gerais. O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) já incluiu, no programa ICMS Patrimônio Cultural, a pontuação dos municípios que cadastram oficialmente seus festejos e grupos, no portal Minas Gerais, por meio da iniciativa Minas Junina 2025.


...DE INTERESSE CULTURAL DE MINAS

Os bens reconhecidos como de relevante interesse cultural nos termos da lei poderão ser objeto de proteção pelo estado, por meio de procedimentos administrativos de iniciativa dos órgãos competentes para a execução da política de patrimônio cultural, conforme legislação pertinente. No caso das festas juninas, a medida foi proposta na Assembleia Legislativa pela deputada Ana Paula Siqueira. Segundo a parlamentar, as festividades e grupos juninos merecem o reconhecimento devido a sua profunda importância histórica, social e cultural para a identidade de Minas. “Têm raízes centenárias na nossa história, sendo celebradas há gerações. Incluem danças, músicas, comidas típicas, trajes e outras práticas que refletem a fusão cultural característica da história mineira, com influências portuguesas e indígenas.”

PAREDE DA MEMÓRIA

Registramos hoje mais um ato de vandalismo no patrimônio cultural mineiro. E no mesmo monumento: a estátua de Bernardo Guimarães (1825-1884), destaque da praça inaugurada no fim do ano passado em Conselheiro Lafaiete. Mostramos, pouco depois da entrega do espaço ao público, os estragos feitos na escultura do autor de “A escrava Isaura”, romance publicado há 150 anos. Pois recentemente quebraram mais um dedo da peça (antes o indicador, agora o médio), que já teve danificado o livro que leva às mãos. Um absurdo – ainda mais em 2025, quando se celebra o bicentenário de nascimento do mineiro, natural de Ouro Preto, que foi professor em Conselheiro Lafaiete. Magistrado, poeta e jornalista, Bernardo Guimarães é patrono da Cadeira nº 5 da Academia Brasileira de Letras. Desde a denúncia feita aqui, em fevereiro, não houve reparos no monumento. Nem câmeras foram instaladas na praça.

Centenária estação ferroviária do distrito de Engenheiro Corrêa, em Ouro Preto, está com obras de restauro bem adiantadas

ANE SOUZ/DIVULGAÇÃO

PASSEIO 360º

Após meio século de abandono, a centenária estação ferroviária do distrito de Engenheiro Corrêa, em Ouro Preto, está com obras de restauro bem adiantadas. O prédio de 1896, pertencente à prefeitura local, já recebeu obras na cobertura – o telhado original havia desabado –, reconstrução de paredes, reforço nas fundações e outros serviços fundamentais à integridade do imóvel. As próximas fases da intervenção, que tem gestão da Holofote e patrocínio das empresas Herculano Mineração e J. Mendes, vão contemplar melhorias no entorno, projeto paisagístico, iluminação cênica, segurança eletrônica com câmeras e alarmes, drenagem pluvial e sistema de prevenção e combate a incêndio. Para quem quiser fazer uma viagem ao passado e conhecer as ruínas da estação, está disponível um tour virtual mostrando a situação antes da execução do projeto. Acesse estacaodeengenheirocorrea.com.br/360graus

Secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas de Oliveira

SECULT-MG/DIVULGAÇÃO

RESERVA DA BIOSFERA 1

Única cordilheira do país, o Espinhaço abriga um dos maiores patrimônios naturais e culturais das Américas. Há 20 anos, ganhava o reconhecimento como Reserva da Biosfera da Unesco. Agora, Minas apresenta ao Brasil e ao mundo o maciço como destino turístico. O lançamento de uma campanha, pelo governo estadual, ocorreu no Palácio da Liberdade, em BH. Durante a solenidade de abertura, o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas de Oliveira lembrou que a Cordilheira do Espinhaço é um território onde nascem o Barroco, a arquitetura, a arte alimentar e um dos maiores patrimônios naturais do país. “É um elo entre os territórios de Minas, das serras do Centro-Sul aos sertões do Norte. É também um espaço de criação contemporânea, onde tradição e inovação se encontram”.

RESERVA DA BIOSFERA 2

Com 1,2 mil quilômetros de extensão, a Cordilheira do Espinhaço percorre Minas de Sul a Norte, integrando territórios diversos – das serras centrais aos sertões do norte, dos antigos caminhos do ouro aos caminhos de ocupação do sertão mineiro, como Grão Mogol. Abriga centenas de sítios arqueológicos e arte rupestre, três biomas (mata atlântica, cerrado e caatinga), rios formadores de grandes bacias e milhares de cachoeiras. E ainda cinco patrimônios mundiais: os centros históricos de Ouro Preto e Diamantina, o Conjunto Moderno da Pampulha, em BH, e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Tem também o Queijo Minas Artesanal, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco, em 2024.

compartilhe