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BR-040: perigo varia conforme trecho urbano em Minas. Entenda e proteja-se

Conheça as ameaças diferentes conforme o trecho da rodovia que liga divisas de Minas com RJ e GO, tanto para motoristas e pedestres quanto para concessionárias

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Com o filho Ravi, de 2 anos, no colo e uma mochila infantil pendurada no ombro do mesmo lado, a desempregada Roberta Junia Inocêncio de Assis, de 24 anos, passa apressada beirando a BR-040, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. Caminha a poucos palmos do fluxo de veículos que cruzam velozes ao seu lado, deslocando rajadas de ar, carregando Ravi, que não solta um caminhãozinho vermelho de plástico por nada. Os olhos da mãe variam apenas entre o ponto e o ônibus que pode estar chegando e os levará ao Centro de Belo Horizonte. No trajeto, passam por um acidente que os impede de seguir pelo acostamento: um carro bateu na traseira de uma perua de entregas. Por isso, praticamente entram na pista.


Nada a que eles já não tenham se acostumado, apesar do risco no segundo município mais mortal da BR-040 no sentido Norte (BH-Goiás), entre Contagem e Paracatu. Apenas em Neves, foram contabilizadas 23 mortes entre 2020 e 2024 nos trechos urbanos da rodovia. Situação que só foi pior em Contagem, com 29 mortos no mesmo período. É o que mostra levantamento feito pela equipe do Estado de Minas sobre ocorrências da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na última de uma série de reportagens que revelam os riscos do avanço da zona urbana sobre estradas sem estrutura para essa convivência.


A entrada Bairro Napoli, onde mãe e filho vivem, é fonte constante de conflitos entre o tráfego dos viajantes da estrada federal e o movimento local de quem acessa as entradas estreitas pelas ruas Turfa e Castanheiras. “Agora, fico quatro dias parado. Ia fazer uma entrega, o trânsito parou na entrada do bairro e o outro carro bateu na minha traseira”, desabafou o motorista da perua que se acidentou no caminho de Roberta e Ravi, enquanto calculava o prejuízo, entre agentes da concessionária Via Cristais, que assumiu a estrada.


O risco de se sofrer um acidente em trechos urbanos das rodovias federais brasileiras, como o ocorrido com a perua em Ribeirão das Neves, chegou a ser 38% maior do que nas áreas rurais, ainda que segmentos urbanizados compreendam apenas 35,7% dos quilômetros com acidentes em BRs, segundo dados da PRF. Mas há estradas em que os perigos são mais concentrados. Como na BR-040, entre Contagem, na Grande BH, e Paracatu, no Noroeste de Minas, onde as passagens urbanas responderam por 44% dos acidentes, 41,6% dos feridos e 30,4% dos mortos (em nível nacional, os óbitos nesses trechos corresponderam a 25% do total).


Em termos comparativos, no segmento Sul da mesma rodovia, entre Belo Horizonte e Simão Pereira (BH-Rio), com locais perigosos e densamente habitados, passando por Nova Lima, Congonhas, Conselheiro Lafaiete e Juiz de Fora, os índices de acidentes, mortes e feridos urbanos não representam nem um terço (33%) do total.


São dados que espelham também como a expansão urbana para áreas precárias como o Vetor Norte da Grande BH torna as passagens pelas rodovias ainda mais perigosas. A pedido do EM, cientistas da iniciativa MapBiomas – uma rede colaborativa de ONGs, universidades e empresas de tecnologia – mostraram que as áreas urbanas em um entorno de quatro quilômetros das estradas da União chegaram a se expandir no Brasil 2,2 vezes desde 1985, sendo que em Minas Gerais, estado com a maior malha viária do país (16%), o índice foi de 2,45 vezes.


Perigo que faz parte da rotina

De volta ao ponto em que mãe e filho esperam o ônibus às margens da BR-040 em Ribeirão das Neves, Roberta não desprega os olhos da pista. Menos por medo e mais para não correr o risco de perder a condução, o que significaria desistir de chegar ao médico a tempo, além de perder outros compromissos.


Ela sabe que a estrada é perigosa, mas encara como uma parte de seus desafios diários. “É perigoso, sim, porque os carros chegam aqui em alta velocidade, alguns invadindo os acostamentos... Se entrar no ponto de ônibus, leva todo mundo”, constata. “Tinha de ter uma estrutura melhor para a gente ficar, e um jeito de reduzir a velocidade dos carros. As pessoas ficam muito expostas aqui. Mas, se até no bairro não tem rua direito, tem lixo e esgoto precário... E os assaltos? Direto tem roubo aqui no ponto de ônibus da BR ou quando a gente está andando no acostamento”, conta a mulher, relatando uma nítida precariedade estrutural, antes de embarcar com o pequeno em um ônibus metropolitano.


Em 2003, os dois galpões mais próximos da rodovia no bairro onde Roberta mora estavam a 40 metros de distância. Hoje, já há pelo menos 35 construções habitacionais ou industriais nessa mesma vizinhança. No período, a área ocupada de 16 hectares mais do que dobrou, chegando aos atuais 33,4 hectares (aumento de 108%), um ritmo de ocupação de 7.900 metros quadrados por ano – cerca de 175 casas populares.


Os endereços de cada ameaça

No caso da BR-040, os riscos urbanos para motoristas e pedestres que ingressam na rodovia variam bastante entre o sentido Belo Horizonte/Juiz de fora e o de Contagem a Goiás, mostram relatórios das ocorrências da PRF de 2020 a 2024.


No segmento Norte, áreas urbanas como Contagem, Ribeirão das Neves e Sete Lagoas contam com pistas duplicadas, mas há acessos diretos e curtos, cruzamentos irregulares e presença intensa de pedestres nas margens e atravessando a via mesmo em locais sem passarelas, o que explica os atropelamentos como principais ocorrências no trecho. São locais com grande atividade industrial, zonas residenciais e áreas comerciais que misturam a circulação de carros de passeio, motos, entregas, transporte de passageiros urbano e rodoviário, assim como de carga.

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Nesse trecho, para além de Contagem e Neves, em Três Marias e Paracatu há áreas urbanas com curvas mal sinalizadas, retornos improvisados e acesso direto a bairros e centros de comércio sem rotas auxiliares ou semáforos. Tráfego local e de longa distância tendem a se misturar, trazendo ameaça de acidentes como colisões transversais e frontais. A falta de calçadas e de passarelas torna os pedestres mais vulneráveis, como os são também os motociclistas, nesse caso pela fragilidade do próprio meio de trasporte. 

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